Os dados são do mês de setembro, divulgados pelo IBGE, e demonstram queda de -0,72%. Em junho a variação foi de -0,62%, em julho de -0,21% e agosto de -0,53%.
Pelo quarto mês seguido, os preços das carnes sofreram queda no Brasil segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são do mês de setembro, que demonstram queda de -0,72%. Em junho a variação foi de -0,62%, em julho de -0,21% e agosto de -0,53%.
De acordo com o economista e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosar Ness, que estuda a variação da cesta básica, o mercado de carne bovina, como os demais, está sujeito à lei da oferta e da procura. “Nos últimos anos, houve uma pressão de demanda sobre a carne em função do valor relativo. Nosso preço, em primeiro momento estava muito baixo, e com a aceleração da relação real por dólar, a moeda brasileira acabou se depreciando, então o mundo inteiro veio se abastecer no nosso mercado doméstico”, explica.
Ness salienta que de forma tradicional, de toda a produção de carne vermelha no país, 25% vai para exportação, o que, segundo ele, não é um índice tão elevado. “O problema foi que nós tivemos uma pandemia, com a paralisação das atividades, houve uma queda no poder de compra da população. A partir do momento que o preço relativo interno se equilibra com o externo e a nossa renda não acompanha, ele se torna mais caro”, expõe.
O professor esclarece que, atualmente, a população está experimentando o inverso, pois houve uma retração no consumo, porque há substitutos no mercado, como a carne suína e a de frango. “A suína, um dos nossos principais clientes é a Rússia, mas com a guerra, os russos passaram a comprar menos em função de que eles estão sofrendo restrições na venda dos produtos, principalmente petróleo e gás. A gente não transaciona com eles, pois ficaram com menos dólares, então estão concentrando estes para aqueles itens que eles mais necessitam. Tivemos um aumento na oferta, sobrou essa carne suína, e ela disputa espaço junto com a bovina”, salienta.
Resumindo, a justificativa para as diminuições registradas pelo IBGE se baseia em alguns fatores como diminuição de renda, estabilização no preço, das margens da paridade e do câmbio. “Agora, com a queda do nosso poder aquisitivo, houve redução também na demanda interna, então isso força que os preços recuem”, menciona o economista.
O docente enfatiza que outro fator é que o período de entressafra está chegando ao fim, assim está sobrando carne. “Isso vai fazer com que na safra, como a carne é um produto perecível, principalmente no final do ano o nosso churrasco custe muito menos. Vamos ter uma oferta maior e uma demanda que, nesse momento está comprimida e vai se equilibrar num nível mais baixo”, prevê.
Ele confirma, ainda, que as quedas registradas não são índices pequenos, porque a carne, de uma maneira geral, tem um peso na composição do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que é extremamente significativo. “Qualquer variação para menos acaba sendo um impacto bastante significativo para a economia, para os consumidores”, completa.
Impacto no preço do leite
Em setembro, a pesquisa mostra que a diminuição do preço das carnes junto à redução de 13,7% no leite longa vida foram essenciais para que houvesse uma queda mensal no preço da cesta básica, a primeira desde novembro de 2021. Há alguns meses, o preço do litro ultrapassou os R$ 7. Na pesquisa de 29 setembro, realizada pelo Procon de Bento Gonçalves, o valor médio estava em R$ 4,44.
Segundo o docente de Economia, com relação ao leite, a explicação é semelhante à da carne, pois agora as vacas, com a entrada da primavera e a forragem mais verde, acabam produzindo mais. “Também tem novos novilhos, então a produção do gado leiteiro aumenta. Tradicionalmente, estamos terminando o período de entressafra, todos os anos entre o mês de julho e agosto os preços sobem com bastante força, esse ano não foi diferente. Agora ele começa com um recuo”, destaca.
Dificilmente, segundo Ness, os preços vão recuar para os de janeiro, que eram de uma média de R$ 2,40 o litro. “Mas ele vai se estabilizar em um valor relativamente menor do que o que está neste momento. Devemos chegar por volta dos R$ 3,50 no verão, que seria o novo preço relativo aqui na região”, antecipa.
Ele também sustenta que essa diminuição, praticamente pela metade do preço, estimula os produtores a aumentarem a oferta de gado leiteiro. “De uma maneira geral, como o preço da ração encareceu, o dos medicamentos também ficou mais caro. É de se esperar que tenhamos o valor relativo do leite um pouco maior. Isso acontece porque se você não remunerar o produtor de forma devida à produção não acontece”, sublinha.
Perspectiva para os próximos meses
Para Ness, o preço das carnes deve se manter estável, pois a demanda externa não vai influenciar e a interna está baixa. “Mesmo que ela aumente, ainda temos oferta sem a necessidade de uma aceleração. Para o leite, a mesma coisa, estamos produzindo mais nesse momento e, por força da própria sazonalidade de produção, os valores do leite vão ficar um pouco mais elevados do que no mês de janeiro, mas isso deve colaborar, também, para sustentar toda a cadeia leiteira neste momento”, opina.
O professor reforça que não há como negar que existe a necessidade de que os produtores sejam remunerados, e em parte, essa remuneração deve cobrir os custos de produção. “Tem o outro lado da questão, que são os consumidores. Neste momento estamos ainda com a renda comprimida, mas note uma coisa, à medida que o mercado de trabalho, principalmente nos municípios da Serra, se torna mais competitivo, hoje temos vagas em várias empresas, isso vai fazer com que o salário médio da população acabe aumentando. Se nos mantivermos como estamos tendo neste momento, um crescimento da economia associado vai acabar influenciando a renda e fazendo com que tenhamos, então, um ganho maior por parte dos trabalhadores”, assegura.
Na visão da Agas
Conforme o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, há uma maior oferta do produto no mercado interno, que vem resultando em preços mais acessíveis. “O consumidor está percebendo este movimento”, afirma.
Para Longo, ainda é cedo para fazer migrações, mas a carne vermelha segue tendo seu espaço cativo. “O consumidor joga o jogo conforme sua renda o permite. Quando há possibilidade, ela ainda é a proteína preferida do gaúcho”, confirma.
Ele concorda que o impacto sobre o preço do leite é um movimento natural de mercado após o fim da entressafra. “Com as temperaturas mais altas, aumenta a produção e o valor cai, historicamente é assim. O consumidor foi o grande fiel da balança para esta redução de preços, quando os valores extrapolaram o razoável, o consumo caiu e o preço baixou”, conclui.