Em sua participação diária na página do Facebook do Hospital Tacchini, a médica infectologista, Nicole Golin, afirmou que os picos de casos do novo coronavírus deverão ocorrer até a metade do mês de abril. Com isso, o número de internações já deverá aumentar nos próximos dias, o que causa preocupação ao corpo clínico da casa de saúde. Segundo a médica, além dos nove casos confirmados em Bento Gonçalves, a preocupação é com o número de pessoas internadas na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por motivos respiratórios que chegaram nesta segunda-feira, 30, a seis, sendo dois deles confirmados para covid-19.
Outras seis pessoas seguem na unidade de internação, sendo considerados casos suspeitos da doença. Atualmente, o Tacchini trabalha com 38% de sua ocupação total, o que é considerado pela especialista “um número tranquilo”. No entanto, pelos prognósticos da equipe de saúde, a tendência é de que os primeiros 15 dias de abril sejam os piores. A expectativa é de um grande aumento no número de internações por problemas respiratórios, principal sintoma do novo coronavírus.
Segundo a profissional, a preocupação ocorre, após familiares de pacientes com confirmação para a doença, também terem apresentado alguns sintomas. “Há casos em que a família do paciente contraiu o vírus, através da transmissão comunitária. E isso nos preocupa, pois quem deveria estar em isolamento para evitar o contágio ou a transmissão do coronavírus não está. Ainda é para ficar em casa, sim”, enfatiza.
A infectologista fez um alerta sobre a necessidade de permanecer no isolamento. Além de evitar um possível contágio, a diminuição de pessoas em áreas públicas também restringe a propagação do vírus. A médica diz ainda que o isolamento pode causar depressão, angústia e ansiedade, sintomas considerados normais para a situação. No entanto, ela é enfática ao afirmar que essa fase será benéfica no futuro. “É melhor cumprir a quarentena em casa, do que em um leito de hospital”, ressalta.
Quarentena exige tolerância e respeito ao próximo
Se por um lado o isolamento evita a propagação do coronavírus na cidade, do outro, ele pode aguçar problemas psicológicos. Entre eles, a irritação. Prova disso é a postura de parte da sociedade nas redes sociais. Segundo a infectologista é nítido um avanço da agressividade nas atitudes das pessoas, desde o início do processo de isolamento. No entanto, ela garante que o momento exige cautela e maior empatia. “As pessoas estão muito mais agressivas do que no início da quarentena. O isolamento faz isso. Porém, o momento não é para isso. Estamos vivendo isso juntos. Não existem culpados ou inocentes. Ou todo mundo se une para pensar em comunidade, ou as perdas vão ser maiores do que aquelas que nós estamos estimando”, alerta.
A médica faz um apelo para que a população mantenha a calma e tente colocar-se no lugar do outro. “A gente precisa ter um pouco mais de tranquilidade. Todo o pré-julgamento tende a ser equivocado e falho”, revela.
“Fim do isolamento foi precipitado em algumas cidades”, afirma a médica
No domingo, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, anunciou a manutenção do período de quarentena na cidade. Até o dia 5 de abril, estabelecimentos considerados não essenciais deverão permanecer com suas portas fechadas. No entanto, pelo menos quatro municípios da região decidiram voltar com suas atividades nesta segunda-feira, 30, o que para a infectologista é uma atitude precipitada. “Precisa de uma estruturação para voltar. Um pensar técnico para apoiar o empresariado. Nós temos que nos apoiar. E não é liberando todo mundo em um único momento”, garante.
Segundo levantamento, dos quatro municípios que retornaram ao normal, apenas um possui leito de UTI. Com a velocidade de propagação do vírus, a médica afirma que as pessoas irão adoecer pelo covid-19 e casos mais graves precisarão de tratamento intensivo. “Isso é fato. Para onde elas vão ir? Esses municípios vão oferecer o que, em relação a saúde?”, questiona.
Para Bento Gonçalves, o retorno das atividades deve ocorrer na segunda-feira, 6 de abril. Segundo a prefeitura, caso isso ocorra, deverá ser realizado de forma gradativa. Porém, a médica faz um alerta. “Dia 6 (de abril) não pode ser um estouro de volta. Tem que ser planejado. Temos um período ainda crítico e essa retomada tem que ser estruturada para os próximos 60/90 dias”, garante.
No final de sua participação, a infectologista deixou uma mensagem, ressaltando a importância da união entre as pessoas durante o período de isolamento. Caso contrário, os resultados poderão ser catastróficos. “Ou nós voltamos a nos olhar uns aos outros, ou não teremos como sair bem nas coisas que estão por vir”, pontua.