Transformar o bom-humor em lirismo é fácil. “Difícil é fazer calça pra polvo.”. Epa… Propaganda numa hora dessas?!
A frase me passou pelos dedos sem a autorização da cabeça, e eles mandaram ver. Só as “neuro” – neurociência, neuropsicologia, neuromarketing… – para explicarem esse fenômeno.
Mas tudo o que eu quero hoje é narrar minha caminhada com os pés no chão, sem nenhuma neura a tiracolo, andar pela topografia acidentada do entorno, passando a limpo a visão romântica dos últimos tempos.
Começo minha saga quixotesca subindo a rampa . E a primeira coisa que percebo é um campo de guerra, com soldados de milho abatidos, restando um e outro de pé, com seus dentes cariados, secando ao sol…
Passo por um retângulo de terra fértil que ganhou uma borda gorda de lixo urbano, como se fosse uma pizza recheada. Nas calçadas, as plantinhas menores se ressentem com o frio, as maiores, com as serras. Parecem monstros adormecidos. Tomara que acordem na próxima estação.
Gatos de rua miam no alto da colina. O diabo é que eles têm vida boêmia, com namoros ruidosos pelas madrugadas que atrapalham o sono da vizinhança. Consequência disso é a multiplicação dos sem-teto. Felizmente ainda há gente boa, como o cidadão que ergueu um pequeno telhado para os felinos se protegerem da chuva e que diariamente lhes fornece comida e água. Anonimamente. Sem holofotes.
Algumas casas, à venda, parecem fantasmas. As demais ficam semifechadas. Então tropeço no óbvio. As famílias se enclausuram porque o perigo ronda, às vezes acintosamente – travestido de mensageiro da fé, muito bem vestido, apresentando crachá, maleta, coisa e tal. A ousadia da criminalidade é de estarrecer. Não é de admirar estarmos exportando know how de roubo a bancos e ataque a caixas eletrônicos.
Preciso deixar pra lá os noticiários. Eles estão mexendo com o sistema límbico da cachola.
Uau! Que aroma estonteante trazido pelo vento! Nada como um café numa manhã fria e de baixas expectativas. Dizem que ele afeta o diafragma e o plexo solar e daí percorre o caminho do cérebro, produzindo eletricidade no organismo. Meio exagerado, mas que a bebida tem poder, ah, isso tem.
“Tá fazendo na cozinha, tá cheirando aqui”. Epa…