Conheça a história da pinto-bandeirense que foi campeã panamericana na categoria
Natural de Pinto Bandeira, Helen Spadari teve a paixão pelo esporte nutrida em casa, por incentivo do pai, com quem construiu obstáculos de madeira para treinar as passagens na propriedade da família, onde dedicam-se à agricultura.
Bacharel em Educação Física e Mestre em Ciências da Saúde, pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), ela já foi vice-campeã sul-americana nos Jogos da Juventude, em 2013, nos dois mil metros com obstáculos; consagrou-se bicampeã brasileira da categoria Sub-23; Vice-campeã pan-americana universitária em 2018; Líder do ranking Sub-23 em 2019; Teve participações nos GPs do Brasil e Uruguai, e nas categorias de base da seleção brasileira; Foi campeã panamericana com a primeira seleção da categoria adulta por equipe no cross-country, em 2022, entre outros títulos.
Em 2023, a atleta conquistou o vice-campeonato na prova dos três mil metros com obstáculos, nos Jogos Universitários Brasileiros. E, recentemente, conquistou o hexacampeonato de atletismo nos Jogos Universitários Gaúchos 2024.
Em entrevista ao podcast Paradoxo, Helen relembra seus primeiros passos no esporte, quando ainda criança, acompanhava o pai e a irmã nas competições de final de semana. “Eu queria ir com eles, não pela competição, mas para sair de casa”, recorda. Seu pai, porém, deixou claro: ela só poderia competir se treinasse. Foi então que, aos cinco anos, participou de sua primeira corrida, a “Corrida dos Fraldinhas”, em Farroupilha.
A partir desse momento, nasceu uma paixão que a levaria a grandes conquistas. “Depois desse período, com nove anos eu insistia em querer ir na competição, sendo três kms para a categoria. Eu não tinha vontade de treinar, mas até que minha irmã começou a me acompanhar nas férias dela e ali eu comecei a treinar todos os dias, fazer os exercícios, porque não é só correr, precisa ter o fortalecimento e capacidade física. Considero sempre que ali nos 10 anos que comecei a levar a sério o esporte”, revela.
Desafios
A história de Helen no atletismo é marcada por desafios, especialmente pela falta de estrutura. Treinando no campo de futebol da comunidade, ela não desistiu de seus sonhos, mesmo com as limitações de recursos. “Meu pai sempre disse que, se eu queria algo, eu preciso fazer o melhor com o que tinha. E foi isso que fiz”, conta.
Em 2020, durante a pandemia, sua família construiu uma pista de treino em casa, que até hoje é usada para treinamento. “Os espaços para isso são bem reduzidos aqui na região, para mim poder ir para uma pista sintética, eu teria que ir para Caxias do Sul ou na Univates, em Lajeado; E para poder usá-las eu preciso pedir autorização”, comenta.
Helen enfatiza que o caminho para o sucesso não é fácil. “Não é nada fácil essa rotina, mas a gente vence diariamente, por mais que exista essas conquistas do pódio, as nossas batalhas são vencidas diariamente e não é só em dias de competição, é essa trajetória que vale a pena”, reflete.
Segundo Helen, a chave é ter paixão pelo treino e dedicação constante, destacando que, para ela, “o talento é apenas uma pequena parte; A dedicação é o que realmente faz a diferença”, complementa.
Sobre o apoio familiar, Helen destaca o papel do seu pai. “Meu pai quando percebeu que eu tinha vontade de treinar, ele sempre me incentivou, mesmo que eu chegasse nas últimas colocações, porque a verdade é que você não vai vencer sempre, muito pelo contrário, acho que a gente erra muito mais e chega nas primeiras colocações por causa desses erros”, evidencia.
Decisão de ser atleta de rendimento
Helen decidiu ser atleta de alto rendimento ainda no ensino médio. “Foi dos 14 aos 15 quando eu decidi ser atleta de alto rendimento, comecei a estudar a noite para treinar mais e também trabalhar na agricultura”, salienta.
A atleta revela que futuramente pensa em dar aulas. “Já sou mestre em Ciências da Saúde, mas no momento não penso em dar aulas. Quero permanecer no esporte até que eu puder ficar no alto rendimento. Mesmo que seja uma rotina muito difícil é um sonho que eu venho construindo há quase 20 anos. No entanto, é um anseio futuro dar aulas em universidades”, conta.
Entre a carreira esportiva e os estudos
Helen enfrentou uma série de desafios nos últimos anos ao tentar equilibrar sua carreira esportiva com os estudos, sofrendo diversas lesões. “O esporte, na verdade, já estava me consumindo bastante em 2022. Quando eu decidi entrar no mestrado, minha rotina já estava pesada, mas pensei: ‘Poxa, é uma oportunidade ótima para mim. Eu não vou deixar passar’. Acho que esse foi o ponto de virada. As lesões também complicaram muito nesses últimos dois anos, e conciliar tudo foi difícil”, aponta.
Helen explicou como as pressões aumentaram com o passar do tempo, refletindo sobre a carga emocional e física de ser atleta e mestranda. “Meu pai sempre diz: ‘quando as coisas estão indo bem, todo mundo se faz dono da casa, mas quando não está tão bem, ninguém quer’. Esses últimos dois anos foram bem conturbados, com muita dificuldade em conciliar a rotina. A única coisa que posso dizer é: apareceu demanda, vai lá e faz. Não tem outro jeito”, frisa.
Quando questionada sobre sua motivação nos dias difíceis, Helen enfatizou a importância de hábitos diários e resiliência emocional: “Eu acho que é construir uma base sólida de coisas que nos fazem bem, sem ser uma obrigação, mas que eu sei que, a longo prazo, vão me trazer benefícios. Se eu tivesse pensado que a corrida me daria benefício imediato, como pensava no início, eu nunca teria chegado até aqui. Foram aqueles dois primeiros anos, quando eu não era ninguém, que me permitiram construir essa base sólida”, ressalta.
Além disso, ela destacou a importância da paciência e da disciplina, reconhecendo que os resultados muitas vezes demoram a aparecer. “É necessário cumprir certas obrigações para que, no futuro, haja algum retorno. E, às vezes, isso demora muito”, enfatiza.
A meditação se tornou uma das práticas que manteve Helen firme em sua jornada. “No início, eu achava um saco. Eu meditava pensando nas 300 coisas que tinha para fazer depois. Mas, aos poucos, fui aperfeiçoando essa prática, e hoje vejo o quanto é importante para minha vida, tanto dentro quanto fora do esporte”, reitera.
Por fim, Helen destaca os atletas em que ela se espelha. “Meu pai e minha irmã, são os meus maiores exemplos, se eu sou o que eu sou hoje é porque eu tive eles como exemplo. O esporte traz coisas, uma troca também com ídolos que são amigos”, revela.