…Nunca namorou no inferninho do Padre Chico. Essa brincadeira no face, iniciada, me parece, pelo Bacca, ressuscitou figuras e points folclóricos da capital do vinho. Bares, lugares e outros ares foram tirados lá do fundo do baú e ganharam espaço virtual, provocando uma espécie de competição entre os internautas e largos sorrisos.
As postagens começaram devagar e, de repente, jorraram em enxurradas, sempre com o mesma proposição – “Diz que é de Bento…” – seguida de frase adversa – “mas nunca foi pra zona”.
Embora, obviamente, eu nunca tenha ido pra zona, me senti parte desta cidade cheia de história(s), que adotei para viver. Vi o Témide limpando o salão, levei uma cacetada do Sorriso, escutei palavrões da negra Luíza, comprei na Casa Ada, fiz Strike na pista de boliche da Cristo Rei, passei telegrama nas quermesses do Santo Antônio, assisti a Benhur no cine Ipiranga e ao Vento Levou no Marco Polo, dancei ao som do inesquecível Arpège… e lá vai. Assim como tantas outras pessoas da minha geração ou de gerações próximas.
Mas tem uma historinha bem safada que também virou lenda, só que poucas pessoas conhecem. Foi protagonizada pelas internas do Medianeira, na época em que o colégio era essencialmente feminino.
É bom lembrar que o internato tinha um pouco de “cadeia”. Longe da família, longe do sexo oposto e das tentações da carne, longe dos prazeres mundanos, o mundo se resumia àquele espaço físico. Se bem que a Biblioteca nos libertava, por algum tempo, de todas as opressões.
Rezava-se muito na Capela e às vezes aconteciam passeios noturnos até a gruta do Hospital, a meia quadra da escola, onde se voltava a rezar. Na verdade, ainda tenho um saldo de rezas que vou descontando aos poucos…
No grupo das internas, havia uma certa hierarquia: as normalistas, que já haviam desenvolvido um sentido mais capcioso; as ginasianas, que ainda tateavam na malandragem, e nós, as Nerds, que íamos ao matinê de domingo, por bom comportamento e boas notas. Por isso, sempre éramos as últimas a saber as coisas escabrosas que volta e meia ocorriam. E sem os detalhes. Então vou contar o fato do jeito como imagino que tenha acontecido…
Meia-noite. Último andar. Na clausura da Irmã responsável, leve ressonar. No dormitório das ginasianas, silêncio e sonhos. No dormitório das normalistas, silêncio e sombras…
“Vamos!”, sussurrou a líder. Deslizando pelos vários lances de escadas, ganharam a porta dos fundos do primeiro andar e, armadas de tesouras, avançaram até o quaradouro, onde a roupa íntima das freiras estava exposta para alvejamento. E então começou a batalha, tendo apenas a lua como testemunha. Uma a uma, todas as calçolas fora retalhadas.
Na manhã seguinte, os olhos das freiras fuzilavam as internas tentando descobrir as assassinas… Elas? Pareciam anjos.
Pelo que sei, o segredo foi guardado a sete chaves. E a irmã diretora partiu pro andar de cima, sem encontrar nenhuma. Naquele tempo, não havia delação premiada…