Devido as condições de um trecho da via, transporte público não consegue passar no local, embora empresa de ônibus já tenha manifestado interesse em colocar uma linha específica para realizar o trajeto. Com isso, pais que não tem veículo próprio estão pagando táxi para levar as crianças ou deixando de frequentar a entidade
Quando a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bento Gonçalves deixou a avenida Planalto para abrir as portas da nova casa no bairro Imigrante, em maio de 2021, a novidade foi comemorada e recebida com alegria por todos os envolvidos, já que a infraestrutura do novo espaço foi planejada e construída para proporcionar ainda mais qualidade de vida aos usuários. Entretanto, desde a mudança, diversas famílias estão sendo afetadas pela dificuldade de acesso ao local.
Para chegar até a rua Domênico Marini, novo endereço da entidade, há um trecho de estrada de chão, que devido a inúmeros problemas, impossibilita a passagem de transporte público urbano, embora uma empresa da cidade já tenha tentando colocar uma linha de ônibus para realizar o trajeto. Diante disso, os pais que não possuem veículo próprio, estão pagando táxi para que os filhos continuem recebendo atendimento, algumas mães se deslocam a pé, carregando as crianças no colo, independente das condições climáticas. Também há relato de famílias que não tiveram opção e precisaram parar de levar os filhos.
Carlos Eduardo de Oliveira Ginez, 14 anos, frequenta a entidade semanalmente para fazer fisioterapia. Desempregada, a mãe, Debora de Oliveira Freitas, relata o sacrifício que está fazendo para que o filho não tenha o tratamento interrompido. “Minha situação é difícil pela locomoção até a Apae, pois não tenho carro e dependo de táxi, são R$30 de ida e mais R$30 de volta, não é fácil”, desabafa.
Apesar de estar arcando com R$240 todos os meses, Debora mantém o filho em atendimento porque considera importante. “Quando comecei a levar (aos dois meses de vida), teve bastante mudança, antes ele não firmava a cabeça e hoje consegue. Infelizmente, por causa da pandemia, ele ficou muito tempo sem fazer a fisioterapia e causou encurtamento nas pernas, então é um processo lento até voltar a usar as talas. Por isso me esforço muito para poder levá-lo na Apae”, salienta.
O tio de um aluno, Volmar Giordani, também avalia que a situação está delicada para as famílias. “Tem mães, crianças que deixam de vir para a entidade, porque os valores ficaram muito custosos já que muitos tem que pegar taxi, levar, buscar”, analisa.
Giordani salienta que é importante encontrar uma solução o mais breve possível. “Um grupo de pessoas, da sociedade civil, muitos que não tem familiares na Apae, mas que contribuem e ajudam, então, ouvindo as dificuldades, não se está contestando o local, estrutura maravilhosa, tudo bonito, mas o prometido é que tivesse uma infraestrutura, principalmente na chegada, uma rua calçada ou pavimentada, ônibus. Todos juntos temos que resolver o problema o quanto antes, para que essas famílias continuem usando o local que é excelente”, garante.
Entidade quer uma solução
Ranzi afirma que nesse período já houve conversas com os responsáveis pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb) e com o gestor da cidade, Diogo Siqueira, reivindicando melhorias. “No final do ano passado fizemos uma reunião de diretoria com o prefeito e mostramos a dificuldade, em especial dos pais que tem alunos para atendimento no Centro Clínico, da área da saúde, que não tem transporte, porque os alunos da Escola e da Convivência tem transporte escolar”, acrescenta.
De acordo com o presidente, o número de pessoas que utilizam mensalmente o serviço do Centro Clínico é alto, sendo de aproximadamente cem. “São cem crianças, mas algumas delas tem cinco, seis atendimentos no mês, porque tem duas, três especialidades, então passa de mil atendimentos. Nós temos até 1.100 atendimentos contratados com o município no Sistema Único de Saúde (SUS), a movimentação é grande”, pontua.
Uma das possíveis soluções seria a passagem de transporte público. Ideia que apesar de cogitada, foi inviabilizada. “Conversamos com a empresa de transporte que faz essa região, eles se disponibilizaram a colocar linha de ônibus até aqui, só que os técnicos vieram fazer o trajeto para ver e o ônibus não consegue passar na curva à esquerda, porque é só meia pista, não tem ângulo para fazer a volta, para contornar”, explica.
Porém, Ranzi explica que o problema da via não é tão simples. “Esse acesso é todo em áreas particulares, então tem um processo jurídico, mas como já é um trajeto de passagem de diversos anos, a gente sabe que já é direito adquirido, mas também é meia pista, teria que alargar, mas para qual lado? Um trecho dá para alargar para a esquerda, no outro tem que ser para a direita”, afirma.
A última informação que a entidade recebeu foi de que o poder público faria um estudo da área. “Para ver de quem são os imóveis particulares, a questão do riacho, a topografia dos trechos”, comenta.
Ranzi destaca que a expectativa é que o problema seja resolvido o quanto antes. “Imagino que é uma questão de aguardar uns dias para ver se o município sinaliza quais as alternativas, o que é viável, então vamos aguardar para saber. A expectativa é que se resolva o quanto antes para podermos continuar prestando o atendimento até de forma melhor e que todos possam vir até a sede com tranquilidade. Na nossa parte interna estamos ofertando todos os serviços de saúde. Sabemos que temos esse inconveniente desses cerca de 600 metros que atrapalham um pouco a chegada dos pais, principalmente nos dias de pó ou barro”, finaliza.
O que diz o poder público
A reportagem do Jornal Semanário entrou em contato com a prefeitura do município para questionar se existe algum projeto de melhoria daquele acesso. De acordo com o secretário de Governo, Henrique Nuncio, “o trecho em questão é privado, e por não se tratar de uma “rua pública” não conseguimos fazer as devidas melhorias. A Prefeitura trabalha para buscar uma solução para a área”, afirma.