Distúrbio metabólico temporário, mas com efeitos duradouros, a diabetes gestacional afeta entre 2% e 4% das gestantes e pode ter impacto tanto na saúde da mãe quanto do bebê
Durante a gestação, o corpo da mulher passa por inúmeras transformações, e algumas delas podem afetar diretamente a sua saúde e a do bebê. Uma dessas alterações é o surgimento do diabetes gestacional, condição que atinge de 2% a 4% das grávidas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Embora temporária na maioria dos casos, a doença merece atenção, pois pode trazer complicações para o parto e aumentar o risco de diabetes tipo 2 no futuro.
De acordo com a ginecologista e obstetra Dra. Arielle Gava, do Hospital Tacchini, o diabetes gestacional faz parte de um grupo mais amplo chamado diabetes melito, um distúrbio metabólico caracterizado por níveis elevados de glicose no sangue. “A mulher pode ser diabética antes da gestação ou desenvolver a diabetes durante o período gestacional”, afirma. O quadro pode surgir em razão de defeitos na produção ou na ação da insulina — hormônio responsável por transformar o açúcar (glicose) em energia para o corpo.
Fatores de risco e diagnóstico precoce
A Dra. Arielle explica que há fatores de risco bem definidos para o desenvolvimento da doença. Entre os principais estão a idade materna avançada, o sobrepeso ou obesidade pré-gestacional, histórico familiar de diabetes, ganho excessivo de peso durante a gravidez e o crescimento fetal acima do normal. Mulheres que já tiveram diabetes gestacional em gestações anteriores também estão mais propensas a enfrentar o problema novamente.
O diagnóstico costuma ser feito em dois momentos: “No primeiro trimestre, por meio da dosagem da glicemia de jejum, ou entre 24 e 28 semanas de gestação, com a realização da Curva Glicêmica”, explica a médica. Se o primeiro exame já indicar alteração nos níveis de glicose, não há necessidade de repetir o teste mais adiante — a mulher é considerada diabética desde então.
Riscos para a mãe e o bebê

Embora o diabetes gestacional seja reversível na maioria dos casos após o parto, ele pode gerar complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. “Está associado a crescimento fetal excessivo, pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional, o que leva ao aumento de traumas no parto e cesáreas”, afirma a médica. Ela esclarece que os bebês não nascem com diabetes, mas têm maior risco de desenvolver a doença ao longo da vida.
A médica ainda destaca que, após o parto, muitas mulheres voltam aos níveis normais de glicemia, mas o histórico de diabetes gestacional é um sinal de alerta para o futuro. “Há aumento no risco de desenvolver diabetes do tipo 2 ao longo da vida. Cerca de 30% das mulheres irão desenvolver a doença em até 15 anos”, alerta. O risco também é maior para quem pretende ter mais filhos, a chance de desenvolver novamente o diabetes em futuras gestações é considerável.
Tratamento, prevenção e cuidados no dia a dia
O tratamento da diabetes gestacional, segundo a especialista, tem como base mudanças no estilo de vida. “A maioria dos casos é controlada com dieta e atividade física”, destaca. No entanto, quando essas medidas não são suficientes para manter os níveis de glicose adequados, pode ser necessário o uso de medicamentos orais e, em alguns casos, de insulina. “Se a paciente já for diabética antes da gestação, vai manter as medicações que usa e ir ajustando conforme a necessidade”, completa a médica. A alimentação equilibrada e os exercícios regulares (30 minutos por dia, com intensidade moderada) são fundamentais. A recomendação é que toda gestante diagnosticada com diabetes gestacional procure orientação com uma nutricionista, siga rigorosamente as indicações médicas e faça o monitoramento glicêmico constante.
A prevenção também passa por um bom preparo antes mesmo da gravidez. “A diabetes gestacional pode ser evitada se a mulher estiver no peso ideal antes de engravidar, se alimentar de forma adequada e praticar atividade física”, ressalta. Em casos de mulheres que já possuem diagnóstico de diabetes, o controle rigoroso é essencial para evitar complicações, inclusive malformações fetais.
O cenário nacional
Dados do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Diabetes revelam que mais de 13 milhões de brasileiros convivem com a doença, o que representa cerca de 6,9% da população. O diabetes tipo 2 é o mais comum, responsável por 90% dos casos, e está diretamente relacionado a fatores como sobrepeso, sedentarismo, má alimentação e histórico familiar.
No caso da diabetes gestacional, o aumento de diagnósticos acompanha o crescimento de condições como obesidade e sedentarismo entre a população feminina em idade reprodutiva. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda a realização de exames regulares durante o pré-natal, inclusive para mulheres sem histórico de diabetes, como forma de identificar precocemente a doença e evitar desfechos graves. “Só conseguimos saber se a diabetes está bem controlada se a paciente realizar os controles glicêmicos conforme orientado pelo obstetra, anotar em uma planilha e sempre levar nas consultas. A diabetes torna a gestação de alto risco, por isso é muito importante nunca faltar às consultas de pré-natal e seguir todas as orientações da sua obstetra”, finaliza Arielle.