Hoje, 15 de outubro, comemora-se o Dia do Professor. Não é à toa que a data foi escolhida. No mesmo dia, em 1827, o imperador Dom Pedro I decretou uma lei que determinava a implementação do Ensino Elementar no Brasil. Com isso, nas cidades brasileiras tornou-se obrigatório que houvesse escolas para proporcionar educação básica para a população.

Durante o governo de João Goulart, 136 anos depois, foi assinado o decreto federal nº 52.682 de 14 de outubro de 1963, decretando a data como Dia do Professor e feriado escolar, estabelecendo que federação e instituições de ensino promovessem solenidades, enaltecendo ‘a função do mestre na sociedade moderna, fazendo delas participar os alunos e as famílias’.

História de amor pela educação

Em uma cidade como Bento Gonçalves, local de muitas pessoas bem-sucedidas, grandes mestres têm papel de destaque na educação dos munícipes e na evolução local. Um desses exemplos é a professora Eunice Filipetto, que dá aula desde 1978 e, atualmente, trabalha na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Santa Helena.

Eunice Filipetto, professora da EMEF Santa Helena

Em entrevista ao Jornal Semanário, a profissional de educação conta que o desejo de seguir os caminhos da profissão veio por conta de uma prima mais velha, que cursava magistério. “Eu ia na casa dela direto ajudar, porque queria ser como ela. Desde pequena, as minhas brincadeiras eram eu em uma sala, dando aula”, lembra.

A professora bento-gonçalvense estudou na Escola Estadual de Ensino Fundamental General Bento Gonçalves da Silva, e também no Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles, onde cursou o magistério. “Quando chegou o ensino médio já vi que era aquilo que queria”, garante.

Depois, Eunice não pôde cursar Pedagogia na Universidade de Caxias do Sul (UCS), então começou o curso Ciências Econômicas, ainda em 1978. No mesmo período, começou a lecionar no Colégio Scalabriniano Medianeira. “Fiz o curso Montessori e fiquei cinco anos dando aula no Medianeira, isso quando terminei o magistério. Trabalhava de tarde e fazia a graduação de noite”, relata.

No último ano, em 1983, quase em fase de conclusão do curso de Ciências Econômicas, a professora começou a ir para a UCS, em Caxias, para cursar Pedagogia. “De manhã eu dava aula, porque passei em um concurso do estado e saí do Medianeira. No horário vespertino, fazia faculdade e de noite também. Na pedagogia, fiz supervisão e habilitação para lecionar no Magistério”, narra.

Quando se tornou pedagoga, Eunice trabalhou na Secretaria Municipal de Educação, como supervisora de escola, e depois foi para a 16ª Coordenadoria Regional de Educação, fazendo o mesmo trabalho. “Então casei, tive meus filhos e fui diretora em Tamandaré, na Escola Estadual Heitor Mazzini. Me aposentei no estado nessa função, acho que foram uns 15 anos. Nesse meio tempo, fiz uma pós-graduação em inclusão, além de vários cursos na área, e até hoje trabalho na Sala de Recursos com os inclusos de manhã, e de tarde sou vice-diretora da escola”, menciona.

Em 44 anos de carreira, muitas lembranças são significativas na memória da professora. “Entre as coisas que me marcaram, tem uma carta que um menino escreveu. Estavam no ensino fundamental e fizeram um trabalho sobre qual professora que tinha em especial. Ele me escolheu porque ele faltava nas aulas, mas gostava de futebol e comecei a incentivá-lo no esporte. Mas sempre dizia que ele tinha que estudar, porque sem o estudo não iria ser nada, nem jogador de futebol. Hoje ele é técnico e lembra de mim”, rememora.

Outra recordação é de uma festa do Dia da Criança, quando os alunos receberam presentes. “Uma menina ganhou uma boneca, mas ela queria a bola e chorou tanto. Um dos meninos que tinha ganho bola disse ‘professora, eu troco com ela, porque tenho uma irmã deficiente e vou dar de presente para ela essa boneca’. Depois, contei essa história e a gente foi lá e pegou uma bola para ele. Mas foi uma coisa que até hoje eu lembro e me marcou muito”, cita.

Para Eunice, são as ações admiráveis que marcam. A última lembrança que ela fez questão de mencionar foi enquanto trabalhava em Tamandaré. “Um dia teve uma troca de tempo, estava quente e esfriou. A gente foi buscando casacos, e um menino estava de casaquinho e disse ‘Olha profe, quem sabe a senhora empresta o meu casaco para o colega, que ele mora longe. Moro perto, dou uma corridinha’. Essas coisas que me emocionam, são atitudes bonitas que valorizo, quando eles conseguem se ajudar e têm um ‘coraçãozinho’ bom”, refere.

A respeito do que mais ama ensinar, a professora diz que é o que o aluno precisa para aprender. “Um menino disse ‘professora, queria saber sobre o dinheiro’. Então a gente recorta, ele leva para casa, faz desafios. Gosto de ensinar o que se precisa para a vida. Também sobre o respeito, essas coisas de se virar”, aponta.

Entre as dificuldades da profissão, a vice-diretora destaca que é não perceber o que o aluno está precisando e, dessa forma, não conseguir ajudá-lo de alguma forma. Mas mesmo com os percalços, ela garante que vale a pena viver cada momento da profissão. “Acho que nasci para ser professora. Só sei dar aula, não vou saber o que fazer quando me aposentar. A gente se ocupa em outras coisas, vou fazer mais ginástica, passear mais, assistir mais filmes, ler mais livros, que eu adoro, mas vai me faltar essa parte de ensinar”, acredita.

Além do Medianeira, Cecília, Heitor Mazzini e Santa Helena, Eunice também trabalhou na EMEF Professora Vânia Medeiros Mincarone, Professor Noely Clemente de Rossi, Liette Tesser Pozza, Escola Municipal de Tempo Integral São Roque, e EEEF José Farina. “Procuro fazer o melhor que posso dentro da minha profissão, com os meus alunos, é bom dar aula em qualquer ano. Já passei em vários níveis, educação infantil, anos iniciais e anos finais do ensino fundamental. Uma das coisas que me arrependo é não ter feito um mestrado para lecionar na faculdade, mas acredito que sempre gostei dessa área, dos mais novos, e me especializei com os inclusos”, reitera.

Os alunos inclusos são os especiais, que segundo ela, não estão na Escola Municipal de Ensino Fundamental Especial Caminhos do Aprender, e nem na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). “Eles têm Transtorno do Espectro Autista, uma dificuldade intelectual, ou deficiência física. São esses que atendo no turno contrário”, explica.

Um novo caminho

A jovem pedagoga, Maísa de Borba Corrêa, destaca que sempre admirou muito a profissão, mas nunca pensou em ser professora. “Quando terminei o ensino médio estava um pouco perdida, iniciei a graduação em Recursos Humanos, mas não me identifiquei com a área”, lembra.

Conforme a professora, em 2015 ela começou a trabalhar com artesanato e, com passar do tempo iniciou como professora de cursos de artesanatos. “Ali comecei a despertar interesse pela profissão. Em 2016 entrei para a área da educação no município de Garibaldi e não saí desde então”, frisa.

Sobre as referências que ela teve durante a sua carreira, a pedagoga destaca que há várias professoras que admira, principalmente diretoras, mas há uma pessoa que mais a inspirou. “Meu último chefe, Nedir Marchioro, professor de formações no desenvolvimento humano e docente universitário, ele tem uma história de vida inspiradora. Quando falei que ia trocar de área e mergulhar de cabeça na educação ele me incentivou muito”, conta.

Maísa de Borba Corrêa, contando histórias
Foto: Arquivo pessoal

Em 2018, Maísa iniciou a Licenciatura em Pedagogia e se formou neste ano, em junho. “Estou cursando pós-graduação em Terapia Ocupacional na saúde mental”, ressalta. Para ela, as tarefas com a educação promove muitas histórias marcantes. “Trabalhar com crianças é gratificante, todos os dias são únicos. Mas o mais marcante pra mim foi a primeira escola que trabalhei, foi um desafio e tanto, com medo, tudo novo, mas encarei e me apaixonei”, relembra.

Desde que iniciou, ela trabalhou com educação infantil e o momento que mais ama é a hora do conto. “Contar histórias é minha paixão, é magnífico. Além de trabalhar a imaginação das crianças, desperta o interesse delas por livros”, menciona.

Sobre os desafios, ela relata que nos dias atuais são muitos. “Acredito que o maior deles é acompanhar as crianças, pois a tecnologia fez elas mais espertas, curiosas e ao mesmo tempo acomodadas, acredito que pela facilidade de ter tudo em mãos. Essa facilidade, muitas vezes, se torna um perigo”, enfatiza.

Mesmo diante das dificuldades, ela reconhece que, sem sombra de dúvidas, vale a pena estar nas salas de aula. “A evolução das crianças, o abraço deles, o ‘eu te amo profe’, supera todo e qualquer percalço. É uma profissão única”, assegura.

Para os novos profissionais da educação, Maísa sublinha que é preciso amar o que se faz. “Não é fácil, mas para quem ama é gratificante. Se realmente você está disposto a encarar todos os desafios, vai sem medo que cada dia vai valer a pena”, aconselha.