Nesta quarta-feira, 11, comemora-se o Dia do Estudante. O ser humano começa a aprender desde que nasce, e existe conhecimento a ser explorado até o seu último dia de vida. Logo na infância, já precisa ir para a escola e ser ensinado com o necessário para o futuro.

Em meio às dificuldades da vida, há pessoas que deixaram de estudar para trabalhar e não concluíram a educação básica. Também tem aqueles que pararam no ensino médio ou realizaram um ou mais cursos de ensino superior. Não existe só um tipo de estudante, mas pessoas com diversos perfis em busca daquilo que nunca pode ser perdido: o saber.

Volta às salas de aula após duas décadas

A merendeira Angélica Maria Policarpio, de 48 anos, é um dos grandes exemplos de superação. Casada, mãe de cinco filhos e avó de três netos, ela estudou na Escola Estadual Imaculada Conceição até a 7ª série, mas não pôde continuar. “Tinha que trabalhar e estudar, aí não dava, foi quando eu parei. Também engravidei cedo e não terminei”, conta.

No Senac, Angélica vai realizar um sonho e estudar Gastronomia. Para custear o curso técnico, ela trabalha em três empregos
Foto: Thamires Bispo

Angélica, entretanto, sempre quis ir além. “Aos 25 anos terminei o fundamental pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos). Voltei a estudar, porque na época eu já tinha três filhas e pensava: ‘como vou ensinar minhas filhas se eu não sei?’. Eu tinha que passar algo para elas, ter conhecimento”, lembra.

Depois disso, mesmo já com três crianças em casa, ela começou no ensino médio regular. “Sempre pensando nos filhos. Não adiantava cobrar deles uma coisa que eu não tinha, e minha mãe sempre me dizia algo que passei para eles, que a enxada e a vassoura são mais pesadas que um lápis. Terminei o segundo grau grávida de novo do meu menino mais velho, sempre incentivei eles a estudarem para serem alguém na vida e terem o que passar para os filhos no futuro”, frisa.

Após mais de 20 anos, Angelica olha para as filhas, que já são adultas e mães, com muito orgulho. “Sempre falei para elas que não tinha terminado ainda, pois ainda iria estudar porque meu sonho era fazer Gastronomia. Hoje tenho a oportunidade e já me inscrevi no curso, que começa em outubro”, comemora.

Formado em odontologia pela Universidade Federal de Pelotas, Marco Antonio Machado tem 56 anos e, há 31, reside em Garibaldi. Além dele, a esposa também é dentista, o filho, de 21 anos, está cursando medicina e a filha, de 14, quer ir para o mesmo caminho do irmão.

Para custear os estudos, ela precisou ir além do emprego convencional. “Sou funcionária pública, merendeira de escola há 17 anos. Além disso, tenho mais empregos, que são quatro faxinas e mais um extra no restaurante na sexta-feira e sábado. Preciso ganhar dinheiro para pagar meu técnico e o Senac me fez uma proposta com condições boas de pagamento”, sublinha.

Marco Antonio é dentista, mas estuda Direito na UCS para manter cérebro ativo
Foto: Arquivo pessoal

Direito por hobbie

Há algum tempo, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), no campus Bento Gonçalves, o profissional está realizando um desejo antigo: cursar Direito. “Estou fazendo para manter meu cérebro ativo. Não faço faculdade com a intenção de exercer a profissão. Curso de duas a três disciplinas por semestre, aos poucos. Estou me divertindo, aprendendo, e gosto de estudar. Não vou parar nunca”, frisa.

Sobre administrar o tempo, ele afirma que “é puxado”, mas também possível. “Sou meio agitado e a minha esposa trabalha um monte também, então a gente consegue. Minha dica é que a gente tem que buscar força e ânimo no nosso íntimo, porque quem tem vontade e quer, vai atrás do sonho, acha tempo e estuda”, considera.

Paixão antiga pelos estudos

A pedagoga Rose Mary Moreira sempre foi apaixonada por estudar. Filha de professora, desde cedo gostou de aprender coisas novas. “Minha mãe dava aula e eu a acompanhava em tudo e, inclusive, nas reuniões de professores. Era criança, não sabia ler e escrever, mas estava com ela. Quando via os livros na escola me encantava, era o melhor presente que eu poderia receber”, rememora.

Quando cresceu, os estudos de Rose continuaram na escola católica que frequentou, onde fez magistério. “No turno contrário eu era ajudante, auxiliava na educação infantil, séries iniciais. Sou formada em pedagogia, concursada pelo estado e professora há 24 anos. Fui diretora, vice-diretora, orientadora e supervisora. Fiz a especialização em orientação, depois outra em supervisão escolar e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estudei gestão. Também participei de um concurso no município e passei para cargo de orientadora, além de professora na rede estadual”, ressalta.

Para a pedagoga Rose, que atualmente cursa Psicologia na Ftec, estudar é uma terapia
Foto: Arquivo pessoal

Com a paixão pelos livros ainda pulsando mesmo após anos, a docente quis continuar se aprofundando em novos conhecimentos e resolveu ingressar na Faculdade de Tecnologia de Bento Gonçalves (Ftec). “Tinha pensado em fazer mestrado, mas dar aula na faculdade não é um desejo no momento. Decidi, então, fazer outra graduação, uma que era dos sonhos: Psicologia. Comecei a fazer por curiosidade e me apaixonei. Agora, quero ser psicóloga também. Já estou na metade do curso, estudo em todos os momentos que tenho folga”, destaca.

Para ela, estudar é como fazer terapia. “É um momento que tiro para mim. Dá para organizar os horários com o de trabalho, momento para ficar com os filhos, auxiliá-los na escola. Busco, levo, acompanho nos temas e atividades”, explica.

A professora deixa uma mensagem para todos os alunos. “Estudem, o conhecimento nos tira daquela passividade. É a única maneira que a gente tem de sair do local onde a gente está para uma vida melhor, com escolhas mais inteligentes”, finaliza.

Perfil do estudante da atualidade

Segundo a diretora do Senac, Rosângela Jardim, a educação profissional é um importante instrumento de crescimento econômico, e que causa um impacto direto nas empresas e no desenvolvimento da sociedade. “Incentivarmos e possuirmos políticas de apoio à educação profissional é necessário, assim como também atentarmos ao perfil e aos objetivos, desse estudante na atualidade”, salienta.

O perfil do estudante é variável, uma vez que tem finalidades diferentes. “Podemos afirmar características comuns no perfil, como: faixa etária de 30 a 45 anos, nível de escolaridade de ensino médio, e situação ocupacional, onde cerca de 75% trabalham, mas buscam realizar uma mudança de vida, com outra profissão, ou ainda, melhorar em suas ocupações atuais”, esclarece.