Curso Superior de Viticultura e Enologia surgiu em Bento Gonçalves nos anos 2000 e, até hoje, tem capacitado profissionais a produzirem os melhores vinhos, espumantes e sucos de uva do país e até do mundo
Que Bento Gonçalves é a Capital Nacional da Uva e do Vinho, todo mundo já sabe. Por trás das proezas feitas com a uva, entretanto, existe alguém que trabalhou para a qualidade do produto final: o enólogo. Nesta sexta-feira, 22, comemora-se o dia deste profissional que faz Bento ter um legado.
Segundo o viticultor e enólogo da Emater, além de chefe do escritório da empresa no município, Thompsson Didoné, essa profissão passou a existir no país em Bento, na Escola da Enologia na década de 50, com curso de nível médio que habilitava o aluno a assinar como responsável por vinícolas. “No ano de 2000 surgiu o Curso Superior de Viticultura e Enologia no antigo Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), hoje Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), e se diferenciou bastante do nível médio, principalmente por formar profissionais que podem atuar na viticultura, na produção da matéria prima, da uva, e na parte de enologia”, conta.
Didoné conta também que antes do curso eram necessários agrônomos e enólogos trabalhando nas vinícolas. “Hoje a gente tem o profissional que conhece os dois lados, tanto a parte de cultivo da videira, adubação, nutrição e também a parte de elaboração, então ele consegue uma relação melhor na produção dos vinhos”, explica.
A avanço da profissão se deu junto com a tecnologia. “O Brasil evoluiu muito desde a década de 90. O pessoal se qualificou, hoje temos equipamentos que são comparáveis à Europa ou melhores, tanto é que os nossos vinhos ganham prêmios lá. Tivemos exemplos recentes que o espumante daqui de Bento ganhou o 1º lugar na França. Quando ia se imaginar uma questão dessas?”, indaga.
O enólogo conta que iniciou na área trabalhando na antiga Cooperativa Vinícola Pompeia, em Pinto Bandeira, em 1989. “Comecei na parte de produção de uvas. Basicamente fiquei lá quase uma década, trabalhei na organização dos parreirais, poda, adubação e durante a safra organizava o descarregamento da vinícola e comecei a ter uma relação maior com a parte da enologia. Tínhamos vários enólogos e a gente acompanhava alguns processos de produção dos vinhos, sucos de uva e comecei a me interessar mais”, lembra.
Depois que saiu do trabalho em Pinto Bandeira, Didoné resolveu seguir carreira no setor. “Vindo, depois, para Bento, tive a oportunidade de ingressar no IFRS, fazer o curso superior de enologia e melhor do que isso, trabalhar na Emater. Me sinto satisfeito, realizado, até porque neste período, de 2010 a 2015, com efetivação em 2018, conseguimos um ganho em termos de legislação, onde a Emater foi uma das entidades que teve um protagonismo, um registro das vinícolas familiares”, evidencia.
O profissional destaca que junto à Emater, fez um trabalho importante na região, de ter colaborado com o processo de registro das vinícolas familiares. “Hoje temos mais de 60 registradas ou em processo de registro na Serra Gaúcha. Em Bento temos 10 totalmente legalizadas e mais 11 em andamento”, realça.
O amor de Didoné pela profissão refletiu, também, na família. “Para minha grata satisfação tenho minha filha que também está fazendo enologia, nível médio. Não sei se seguirá neste ramo, mas a Juliana está no segundo ano no IFRS, seguindo a trajetória”, conclui.
Bavaresco e sua paixão por vinhos
O enólogo Thales Bavaresco saiu de Marau em 2013 motivado por uma intensa paixão por vinhos, além da inquietude por trabalhar com o que gosta. “Quando tive a oportunidade de fazer o Tecnólogo em Bento Gonçalves, não pensei duas vezes e me aprofundei cada vez mais nesse mundo, desde então”, relata sobre os seus anos na Capital do Vinho, que duraram até 2017.
Ele explica que os formandos em enologia podem se tornar responsáveis técnicos dos vinhedos, das vinícolas, coordenando, supervisionando e executando as fases da produção de vinho. “Essa profissão envolve plantio, cultivo e colheita das uvas; vinificação e estabilização do vinho; envelhecimento e engarrafamento; análise química, física e sensorial; controle qualitativo; marketing e comercialização. Ou seja, os enólogos fazem muito mais do que provar vinhos o dia inteiro como muitos acreditam – na verdade, eles têm de dominar todas as etapas de sua produção”, salienta.
Bavaresco ressalta que no Brasil, o consumo de vinhos está crescendo de forma exponencial. “Principalmente nos últimos anos, e claro, para oferecer cada vez mais produtos de qualidade ao consumidor, e para tornar o nosso mercado também competitivo, lá fora, é de extrema importância a formação de profissionais capacitados”, finaliza.
Fotos: Thamires Bispo