Em Bento Gonçalves, comércios que funcionam há décadas buscam se adaptar a uma realidade diferente, frente à tecnologia e o acesso fácil a todo tipo de produto. Já os novos, buscam se destacar e trazer diferenciais

Após a pandemia, empreender se tornou um desafio ainda maior. Proporcionar ao consumidor a oportunidade de adquirir itens de sua necessidade cotidiana é um trabalho e tanto, que merece ser apreciado. Hoje, 16 de julho, comemora-se o Dia do Comerciante.

Os novos cenários mostram as diferenças entre o passado e o presente, que são extremas. O empresário Plínio Mejolaro destaca que a Mejolaro Móveis e Decorações nasceu em 14 de abril de 1948, e soma 74 anos vendendo móveis, sempre no mesmo endereço. “No passado, os desafios eram bem mais fáceis de superar, todo mundo conhecia todo mundo e as assertivas em negócios eram bem maiores”, lembra.
Atualmente, Mejolaro afirma que a situação é bem mais complicada. “São muitos impostos, custo tributário muito alto. Em vendas, o nosso concorrente não é mais o vizinho ao lado, mas sim o mundo”, menciona.

Loja Mejolaro, em 1952
Foto: Arquivo pessoal

O empreendedor acredita que a tecnologia veio para ajudar, principalmente os jovens que estão ingressando no comércio hoje. “A loja física, cada vez terá mais importância nas decisões de venda dos nossos consumidores, porque eles podem sentir os produtos, provar, e a decisão de compra fica bem mais fácil”, acredita.

No mesmo endereço, o empreendimento em seu modelo atual, sete décadas depois
Foto: Reprodução

A proprietária da loja A da Campo, Diana da Campo Michelon, salienta que o empreendimento, que tem 60 anos, nasceu em 1962. “Tudo era início, faltavam fornecedores, conhecimento de gestão financeira e pessoal”, conta.

Conforme Diana, nos tempos atuais, há mais conhecimento do mercado, dos produtos e da clientela. “Os desafios se dão em acompanhar a moda, a velocidade que ela anda. A tecnologia ajuda muito, principalmente em época de pandemia, traz o cliente até a loja, é forte aliada do comércio”, relata.

Realidade de novos empreendimentos

O sócio-proprietário da loja Formosura BG, que vende laços criativos no Shopping Piazza Salton, Patrick de Souza, diz que abrir um negócio atualmente é desafiador, pois garantir a satisfação e exigência dos clientes tem sido cada vez mais importante. “Nosso principal objetivo é fidelizar, não apenas entregar um acessório à criança, mas sim vender o afeto e a emoção, o famoso marketing de experiência, transformando todo esse momento de compra em pontos positivos para a autoestima da criança e desenvolvimento”, realça.

Segundo Souza, empreender é se colocar à prova todos os dias. “É se questionar, estudar, se reinventar, cair e levantar. É literalmente pensar ‘fora da caixinha’, acreditar no nosso potencial, e com um bom planejamento estratégico, foco no negócio e brechas nas oportunidades, a gente pode fazer qualquer tipo de negócio decolar”, acredita.

O empresário sustenta que o momento ainda é de incerteza, por conta da pandemia. “A falta de emprego e economia ainda são dois fatores que influenciam diretamente na movimentação de um negócio, e hoje, sem sombra de dúvidas, está muito mais difícil de empreender. Essa foi a combustão e o incentivo que nos fez arriscar, servir de referência para os demais que chegarão e acreditar fielmente em nosso potencial”, sublinha.

Sobre as tecnologias e redes sociais, Souza salienta que quem não é visto, não é lembrado. “O projeto Formosura ainda é muito novo, praticamente um recém-nascido. Mas a necessidade de estar presentes nas redes sociais é um fator primordial para qualquer tipo de segmento, e é ele de extrema importância, pois fazer uma boa gestão das redes é estar sempre um passo à frente dos demais, interagindo com os usuários e gerando sempre novos insights e oportunidades para o negócio”, expõe.

A engenheira química de formação e, atualmente, empresária, Luana Ambrosi Predebon, confirma que abrir um negócio nunca é fácil. “Tem que ter conhecimento na área que quer atuar, avaliar como está o mercado do segmento, o público que quer atingir, a localização ideal. Os custos para abrir e manter uma empresa são muito altos. É preciso estar ciente de ter que abrir mão de muitas coisas da vida pessoal para a profissional. Tem que ter muito amor e dedicação”, evidencia.

A Espaço Decoraz é o novo empreendimento de Luana Ambrosi Predebon
Foto: Divulgação

Para Luana, atualmente muitas pessoas pensam que é fácil abrir um negócio. Ela explica, porém, que é o contrário. “Justamente porque tem pessoas pensando dessa maneira que o mercado está saturado. É necessário ter um diferencial em relação aos concorrentes, e é aí que entra a questão de análise e estudos, estudar muito”, aponta.

A empreendedora exemplifica que antigamente as pessoas tinham mais receio em se arriscar, pois buscavam estabilidade. “Empreender é um risco, você está investindo seu tempo, seu dinheiro, suas noites de sono. Se algo não sei como o planejado, é o empresário que vai ter todo o prejuízo e todo o desgaste de não ter dado certo”, cita.

Ela conta que a ideia de abrir sua loja surgiu no período de seu casamento, quando encontrou dificuldades para achar alguns itens para o seu chá de lingerie. “Vi uma brecha ali no mercado. No ano seguinte, fui em São Paulo para uma feira do segmento de festas para ver o que poderia oferecer de diferente. Lá surgiu a ideia de abrir uma loja sazonal, temporária, que funcionasse só no natal. Assim meu risco era menor, iria conseguir sentir como era o mercado e conseguir entender o que o meu cliente buscava. Foram três anos dessa forma”, conta Luana.

No final do ano passado, a engenheira decidiu abrir o Espaço Decoraz em definitivo. “O segmento festas ainda é novo para mim, mas conhecendo a minha clientela, abri o espaço com o foco no cliente que busca uma coisa mais diferenciada, que não encontra em qualquer lugar”, elucida.

Sobre as ferramentas das redes sociais, Luana acredita que são os melhores meios de vendas que existem. “Vejo que, cada vez mais tenho solicitações por redes sociais. Hoje em dia todo mundo está muito apertado de tempo, ninguém tem tempo de sobra para ficar passeando pelas lojas. As redes ajudam nesse sentido, a pessoa já sabe o que vai encontrar, porque ela está acompanhando. Os clientes conseguem tirar todas as dúvidas online, veem as fotos e já vão questionando, conseguem ir diretamente no que querem, não precisam ficar circulando nos estabelecimentos. Acho que o que traz é praticidade” finaliza.