A data, de 25 de julho, surge em meio às comemorações do centenário de vinda dos primeiros imigrantes para o Rio Grande do Sul, e também homenageia o padroeiro dos motoristas e dos viajantes: São Cristóvão
Duas profissões fundamentais no funcionamento da vida em sociedade que contribuem para o desenvolvimento e bem-estar de todos. O colono, que trabalha com a terra, planta, colhe e produz para entregar o seu melhor produto e sustento para toda a população brasileira, e o motorista, que é quem entrega esses alimentos, muitas vezes se arriscando nas estradas para ajudar a impulsionar o progresso, ao conectar regiões e garantir a movimentação da economia.
Trajetórias que passam de pai para filho
A história da Família Faccin, proveniente da região de Vicenza, na Itália, tem seu início com Ermínio Faccin, que adquiriu a propriedade que hoje está localizada na linha Armênio Baixo, no interior de Monte Belo do Sul.
A propriedade, que tinha 72 hectares na época, já possuía meio hectare de parreiras de uvas, o que contribuiu para o início da produção de vinho na transição entre gerações, que começou com Lindo. Naquele tempo, a produção era apenas para consumo familiar, cerca de dois a três mil litros de vinho por ano, mas, com o passar da administração da propriedade para Antônio Faccin, que desde pequeno envolveu-se na produção, ajudando seu pai na elaboração dos primeiros barris de vinho, o desejo em inovar e produzir vinhos de alta qualidade em garrafas surgiu, dando início a um novo comércio.
Hoje, o colono e seu filho Bruno estão à frente da vinícola, que possui uma produção totalmente familiar e sustentável, sem utilização de herbicidas e inseticidas. Atualmente, a produção de vinhos e espumantes na propriedade é um esforço familiar, com exceção da colheita, que envolve a contratação temporária de alguns parceiros locais. “As vezes minha esposa e a do Bruno nos ajudam quando podem, do contrário, quem faz isso é só a família. Cerca de 90% dos vinhedos sou eu que faço, já as degustações de vinhos e espumantes, quem recebe essas pessoas do mundo todo é o Bruno”, explica. O diferencial da vinícola está justamente na fermentação espontânea do vinho, que não faz uso de conservantes, além de ter mínima intervenção, sem adição de produtos químicos.
Apaixonado pela vida no campo, Antônio sempre viveu em prol da família e do negócio. Ele conta que a liberdade que ele encontra no campo, nenhum outro lugar tem. “Só digo uma coisa, cada dia que eu levanto, eu acho mais lindo. Eu moro aqui há 65 anos e já tive a oportunidade de sair com 18 anos, ganhando muito mais. Mas eu amo o campo e essa liberdade de parar de trabalhar quando quero, sair sempre que posso, não encontrei isso em nenhum outro lugar do mundo”, relata.
As inovações tecnológicas trouxeram uma nova perspectiva na vida e no trabalho do interior de Monte Belo. O que antes era feito com carroças de bois, hoje é facilitado pelos novos maquinários agrícolas, que transformaram também as regiões de Santa Tereza, Pinto Bandeira e São Valentim, que até então tinham uma produção braçal, como lembra Antonio Faccin. Essas mesmas inovações possibilitaram que turistas de vários países do mundo conhecessem a vinícola, como França, Itália, Alemanha, Nova Zelândia e Austrália.
Ao falar sobre o passado, Faccin lembra com carinho das brincadeiras de infância e dos valores de honestidade e respeito transmitidos por seus pais.
Sobre o futuro, expressa preocupação com a migração da população rural para as cidades. “Isso me impressiona muito, nós éramos 12 na família, agora os que trabalham na colônia são três, que vivem até hoje do vinho, espumante, sucos e uvas. É preciso que os jovens, principalmente, se deem conta de que continuar com essa cultura. É importante, as pessoas têm que se orgulhar de dizer que são agricultores, pois o produtor sem a cidade vive, agora, a cidade não vive sem o agricultor”, declara.
Em uma perspectiva crítica sobre as desigualdades sociais e econômicas do país, Antônio ressalta a importância da distribuição equitativa de recursos e oportunidades para todas as pessoas, e lamenta a falta de apoio adequado às cidades atingidas pelas enchentes do RS, enfatizando a necessidade do povo gaúcho de enfrentar esses desafios de forma unida. “Existem projetos de reconstrução que estão só no papel, o que precisamos é de dinheiro bem investido em casos como esse, pois quem perdeu suas casas ainda está esperando a ajuda, e enquanto ela não vem, quem tem que ter a iniciativa de ajudar somos nós”, finaliza.
Uma jornada sobre rodas
A sucessão familiar também está presente na família de Samuel Tomasi, de 26 anos, que desde pequeno conviveu com a profissão de motorista de caminhão, seja através de seus tios ou também de seu pai, que seguiram a carreira.
Sua jornada teve início em 2017, quando surgiu a oportunidade de realizar viagens pelo Brasil transportando várias mercadorias. Tomasi conta que ser motorista lhe proporcionou experiências marcantes durante esses anos. “Conheci vários lugares incríveis como praias, cidades, rodovias famosas, entre tantas outras coisas boas que o nosso Brasil nos proporciona”, comenta.
O caminho como autônomo foi uma experiência complicada para Tomasi, que fala dos perigos que envolvem a profissão. “As rodovias estão em mau estado de conservação, sem sinalização adequada, não existem lugares confiáveis para o motorista descansar tranquilamente. A maioria das rodovias não possuem acostamento e em casos de emergências somos obrigados a parar sobre a pista”, relata. Fatores esses que colocam em risco diariamente a vida de motoristas pelo Brasil inteiro, e que contribuem para o aumento no número de ocorrências que envolvem caminhões.
Apesar dos riscos nas estradas, a tecnologia está cada vez mais a serviço dos trabalhadores. Caminhões mais modernos facilitam a vida dos motoristas, mas nem por isso diminuem o perigo de roubos e furtos a que estão sujeitos. A qualidade de vida depende muito das ocasiões, segundo Tomasi. “Temos momentos bons e ruins. Hoje em dia não compensa mais ser autônomo já que os riscos são maiores, isso digo por experiência própria”, conta.
Assim como milhares de trabalhadores, as enchentes de maio foram um desafio para ele, que teve seu trabalho prejudicado. “A queda de pontes e estradas prejudicou muito o transporte de mercadorias, afetando diretamente nosso trabalho. Foi um período difícil, mas aos poucos estamos nos recuperando”, reflete.
O apoio da família foi essencial para continuar na profissão que lhe proporcionou boas recordações com amigos e irmãos que conheceu ao longo dos anos. Para o futuro, Tomasi vislumbra melhorias nas condições das estradas e valorização da profissão. “Espero que haja mais investimentos em infraestrutura e que os motoristas sejam reconhecidos pela importância do seu trabalho”, conclui.