Prato milenar tornou-se popularmente conhecido no século 16, através da receita da verdadeira pizza napolitana, na Itália; pizzaria de Bento Gonçalves figura em 26º lugar no Top 50 da América Latina

No dia 10 de julho de 1985, o então secretário de turismo do estado de São Paulo, Caio Luís de Carvalho, instituiu o Dia da Pizza. Na época, ocorria um concurso estadual para selecionar as melhores pizzas dos sabores marguerita e mussarela. O evento foi um sucesso, tendo seu encerramento no dia 10 de julho, data em que foi firmado o dia oficial para se celebrar a pizza.

Existem diversas versões sobre o surgimento da pizza. Alguns registros remontam de 6.000 anos atrás, no Egito. Outros, defendem que os gregos foram os pais desse prato. De qualquer maneira, a pizza se popularizou mesmo em Nápoles, na Itália, mais especificamente em 1.600, quando houve a ideia de se dividir a pizza em pedaços, permitindo que as pessoas comessem apenas uma fatia enquanto andavam. A primeira pizzaria que se tem conhecimento , a Antica Pizzeria Port’Alba, data de 1738.

O prato conquistou até mesmo a realeza. No ano de 1889, a rainha Margherita, em visita à Nápoles, ficou impressionada com uma pizza com as cores da bandeira da Itália, feita com molho de tomate, mussarela e manjericão. Desde então, surgiu a pizza de sabor marguerita, um dos mais conhecidos e apreciados até hoje.


Em 1910, imigrantes italianos trouxeram a receita e abriram a primeira pizzaria brasileira, no bairro do Brás, em São Paulo. São Paulo, inclusive, é o estado que mais consome o prato no Brasil, ficando em segundo no ranking mundial, atrás apenas da cidade de Nova Iorque.
A paixão é tanta, que os números surpreendem. A Associação de Pizzarias Unidas do Brasil (Apubra) ressalta que existem mais de 112 mil pessoas ativas no país, sendo que, somente em São Paulo, são aproximadamente 26 mil unidades.

Pizza dos gaúchos

Em Bento Gonçalves, são cerca de 27 pizzarias registradas no Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (SEGH Uva e Vinho). Partindo dessa informação, estima-se que haja uma pizzaria a cada cinco mil habitantes na Capital Nacional do Vinho, um número bastante expressivo.

O empresário Jorge Marini é proprietário da Otto e Mezzo Pizza Verace, em Bento Gonçalves. A pizzaria foi considerada a 26ª melhor no 50 Top Pizza Latin America, um guia criado na Itália que ganhou reconhecimento internacional. As pizzarias selecionadas são avaliadas pela pizza, ambiente, carta de vinho e atendimento. Toda avaliação é feita de forma anônima.

Segundo Marini, a ideia de abrir a pizzaria surgiu a partir de sua experiência ao morar em Veneza, no início dos anos 2000. “Trabalhava como barista em uma renomada pizzaria, a Ai Oche, na Ilha Sestiere Santa Croce. O local era um ambiente estilizado, com decoração retrô, frequentado por turistas do mundo inteiro. Me inspirei nisso tudo e resolvi abrir um negócio gastronômico no Brasil”, relembra.
Sua pizzaria está situada na antiga casa de seus falecidos avós, por isso, muito do conceito do empreendimento se baseia nas relações de honestidade e respeito dessa época, honrando os antepassados com simplicidade e confiança. “A pizzaria é uma homenagem aos nossos antepassados e também ao diretor de cinema italiano e também roteirista Federico Fellini, o qual admiro muito. Por isso o nome Otto e Mezzo, uma referência ao filme ganhador de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar de 1964. Considero uma obra-prima, com roteiro, fotografia, figurino e diálogos muito interessantes”, expressa.
Marini comenta que suas pizzas são elaboradas com massa de fermentação natural, garantindo melhor digestibilidade, além de não conter aditivos industrializados. “É uma receita simples, de um alimento inspirado no pão de Cristo”, reflete.


A Otto e Mezzo serve a verdadeira pizza napolitana, e faz parte, inclusive, da Associazione Verace Pizza Napoletana (AVPN), uma associação que tem como missão promover e proteger na Itália e no mundo a verdadeira pizza napolitana (verace pizza napoletana), ou seja, o produto típico feito de acordo com as características descritas no Regulamento Internacional da AVPN. No regulamento, é seguido um conjunto de regras codificadas, transmitidas oralmente pela geração napolitana de pizzaiolos, passadas de pai para filho. Ela deve ter massa macia e perfumada, com borda elevada, inchada e livre de queimaduras, além de um diâmetro máximo de 35 centímetros. A massa de fermentação natural e longa é feita apenas com farinha, água, fermento e sal, entre outros aspectos.

Na opinião do empresário, os sabores clássicos são os mais simples e saborosos, e carregam uma história rica em detalhes. “Acredito que nosso diferencial seja a soma de tudo isso, a ligação do presente e passado, o vínculo afetivo com a Itália e nossos antepassados, o ambiente caótico organizado do napolitano, sua crença religiosa em Deus. No fim, não se resume apenas à pizza, mas a atmosfera que conseguimos criar, um refúgio atemporal que sai dessa realidade perigosa em que vivemos”, ressalta.

Fotos: Fernando Audibert