Instrumento importante para o fortalecimento da identidade nacional, a língua é diretamente afetada pelo contexto cultural de cada país. Especialista na área reflete sobre as dificuldades no ensino e aprendizado do português

O Dia da Língua Portuguesa é celebrado em 10 de junho em homenagem ao poeta português Luís de Camões, autor de obras notáveis como “Os Lusíadas”. Com mais de 265 milhões de falantes em todos os continentes, o português é a língua mais falada no hemisfério sul, com raízes latinas compartilhadas com o espanhol, italiano e francês. Originado do latim, o português do Brasil é uma fusão do idioma trazido pelos colonizadores portugueses com as línguas indígenas e africanas.


Além de Portugal, o português é idioma oficial em nações como Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe, além de Macau, região autônoma na China, que foi colonizada pelos portugueses por mais de quatro séculos.


Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o português é um tesouro cultural que conecta comunidades e nações em todo o mundo. Ele destaca sua importância como veículo de riqueza cultural e como uma semente de futuro, especialmente no espaço virtual, onde há uma expansão dos conteúdos culturais e científicos em português.

“Língua é poder”

A professora Silmara Argenton, 34 anos, teve sua primeira experiência em sala de aula, como professora de Língua Portuguesa, no ano de 2011, quando ingressou como contratada em quatro escolas do Estado, em Bento Gonçalves. Desde então, segue nessa profissão que tanto a faz se sentir realizada.
Graduada em Letras – Língua Portuguesa e Literatura e com diversas pós-graduações na área, atualmente Silmara é estudante de pedagogia. Ela relembra sua trajetória no mundo da leitura e linguagem. “Tive duas grandes inspirações para escolher a profissão que exerço: minha mãe e meu pai. Além de leitores assíduos, meu pai foi professor e minha mãe, bibliotecária. Cresci rodeada de livros e vivia dentro da escola em que meu pai trabalhava, inclusive fui sua aluna. Além disso, tive excelentes professores, principalmente na área das linguagens, os quais despertaram em mim o desejo de aprender e de ensinar”, rememora.


Hoje, Silmara é vice-diretora na Escola Municipal de Tempo Integral São Roque – Professora Nilza Côvolo Kratz. “A EMTI é minha escola do coração. Por ser uma escola de tempo integral, as crianças passam mais tempo conosco do que com a própria família. É uma relação de muito afeto e carinho que acabamos desenvolvendo com os pequenos”, ressalta.


Para a professora, o grande desafio que a educação no geral vem enfrentando, em relação às tecnologias, diz respeito ao livre acesso das crianças e adolescentes ao mundo virtual e à falta de controle dos pais sobre o que está sendo consumido nesse meio. “A internet possui uma infinidade de possibilidades, o que acaba sendo, por vezes, muito mais atrativo do que a leitura de um livro, a realização de uma tarefa escolar. Ao mesmo tempo em que isso pode representar um problema, é possível utilizar-se das ferramentas tecnológicas como suporte positivo nas aulas, ressignificando o ensino da língua que falamos e estudamos”, explica. E completa: “É evidente que o uso excessivo e sem propósito da internet, através de jogos e redes sociais, traz prejuízos ao desenvolvimento da escrita dos alunos. A linguagem informal da internet, representada através das gírias e abreviações, pode influenciar negativamente na aprendizagem da norma culta da língua. É importante, nas aulas de Língua Portuguesa, refletir com os alunos sobre a diferença entre o vocabulário utilizado no meio virtual e a linguagem da norma-padrão, levando em consideração o dinamismo da internet”, reconhece.


Silmara acredita que a grande dificuldade na interpretação de textos está, principalmente, na falta de leitura e também na pressa. “As pessoas não têm tempo para interpretar. É uma enxurrada de informações diariamente, o que dificulta a compreensão e a interpretação daquilo que está sendo lido e ouvido. O hábito da leitura, sem dúvida, é um grande aliado no desenvolvimento da habilidade de interpretação de textos.


Ainda segundo ela, português não é uma língua difícil. “Complexa é a sistematização da língua e a forma como é abordada em sala de aula, principalmente nas séries iniciais e finais do ensino fundamental, em que se prioriza a memorização de um compilado de regras e nomenclaturas muito distantes da realidade de nossos alunos. O foco nesses níveis de ensino deveria ser a leitura, a contação de histórias, a produção de textos significativos para a faixa etária em questão”, manifesta.


Silmara argumenta que a leitura é o principal caminho para aprimorar o conhecimento e a linguagem. “Língua é poder. Ter domínio da norma-padrão da língua portuguesa permite uma comunicação mais eficiente, possibilita o acesso à informação, viabiliza a produção de conhecimento. É muito importante valorizar as variedades da língua, mas também é essencial fornecer acesso à norma de maior prestígio social, a norma culta”, finaliza.