Jane Krüger
As crianças e adolescentes estão cada vez mais rebeldes e desafiadores. Sem amor aos pais e aos outros, muitas vezes prezam só pelo seu bem-estar, sem se importar se isso infringe princípios ou mesmo afeta alguém. Todavia, o problema maior está em que, por mais que recebam tudo o que querem e eles exigem isso, afinal, “você me pôs no mundo, não escolhi nascer”, não se satisfazem, são infelizes, quando não te infernizam também.
Como conseguimos, em meio ao desenvolvimento tão amplo que estamos inseridos, termos a capacidade de transformarmos nossos anjos em demônios?
Muito simples. Existem inúmeras explicações que poderíamos ponderar, mas hoje, só falarei de duas.
- As igrejas estão vazias. Afinal, quem aguenta tanta ladainha.
- Comemos tipo porcos.
Aí você me diz:
- Como assim, Jane? Agora, sim, você foi muito longe.
Não! Não fui. Deixa eu contar uma historinha. Meu avô tinha um moinho no interior do Rio Grande do Sul e muitos eram os transeuntes que por ali passavam ao longo do dia. Alguns deles, na hora do almoço, acabavam por ser convidados para ali ficar e a mesa com a família desfrutar. Num dia daqueles, um senhor convidado sem delongas começou a servir seu prato da comida farta e abundante que minha avó sempre preparava. Logo se pôs a comer. Meu vô indignado, logo lhe exortou: - Aqui não fazemos assim.
- Como assim? Fiz algo errado? – perguntou o viajante assustado.
- Aqui em casa, somente um grupo, ao colocarmos a comida, saem devorando tudo: os porcos no chiqueiro.
Pequenas atitudes podem ensinar grandes valores. O simples ato de agradecer antes de uma refeição, mostra o respeito que temos à vida, o privilégio que sentimos por estar desfrutando desse momento. Mostramos que compreendemos como a vida tem sido generosa em permitir que toda uma cadeia fosse completa para que esse alimento chegasse até aqui. O sol teve que aparecer, a chuva contribuiu. O produtor com seu suor laborou. O comerciante o disponibilizou. Eu tive forças e saúde para trabalhar e então pude ter as devidas condições para este alimento comprar e de alguma maneira o preparar para assim agora, só agora, desfrutar. - Quando à noite, agradeço pelo dia que passou, pelas tarefas que puderam ser concluídas e peço a proteção divina por mim e meus amados, demonstro que acredito que algo maior que eu existe, desta maneira, quando a vida, por vezes, se torna muito difícil, algo maior do que eu me sustenta também. Não há motivos para se desesperar. Existe uma base, tenho valores e princípios que me sustentam e ancoram.
- Mais uma vez, amados pais, dindos, educadores e população em geral: uma criança não pode escolher se vai tomar as vacinas necessárias, se quer ir à escola ou não, pois se você deixar ela escolher o que quer fazer, você será visto como negligente. Então, pensem comigo, não seria também uma omissão, uma falta inadmissível deixar de ensinar os princípios éticos e espirituais?
- Nossas crianças e jovens estão padecendo. Abramos nossos olhos enquanto há tempo. Entenda, não perdemos nossos filhos na rua, mas dentro de nossas casas. Que não tenhamos vergonha de parecer antiquados, pois, verdade seja dita, não existe vergonha maior do que não ter ensinado claramente ao teu filho o caminho em que ele deve andar. Depois, meu amor, ele poderá decidir, se vai ser católico, protestante, ateu, budista ou o “ista” que quiser. A questão é que você não poderá ser acusado de ter sido relapso. Ao ensinarmos os valores básicos da vida, encontramos a própria vida, a preservamos e perpetuamos. Porque a vida é sagrada e, ambos, tanto os pais assim como a vida que através deles e pelo sopro do Eterno é concedida, logram ser honrados.
3 Nota de explicação do porquê ter escrito D’us abreviado. O Nome do Eterno é tão sagrado que não deveríamos jamais escrever seu nome completo em algo que pode ser jogado fora depois, queimado ou usado de maneira inadequada.
4 Êxodo 20:12 . Disponível em https://www.bibliaonline.com.br/acf/ex/20/11+. Acesso em 12/02/2021.
Jane é PhD, Pesquisadora do LABÔPUC/SP, Psicanalista e Escritora.