Jane Krüger
Estamos vivendo momentos de frieza e até mesmo negligência no que tange à espiritualidade no contexto familiar. Diversas correntes que foram se desenvolvendo ao longo dos séculos, têm se impregnado na mente das novas gerações. Uma delas é o tal do niilismo, que “considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou utilidade na existência” 1 . O niilismo é uma doutrina filosófica, um jeito de pensar que repercute na maneira como se vive e vê o mundo. Sua principal característica é a visão cética 2 radical em relação à compreensão da realidade, que anula princípios e aniquila convicções.
Deixa eu explicar melhor como acontece na prática. Isso se manifesta quando, por exemplo, pessoas que de alguma maneira, hoje, se encontram descrentes, sem fé, ou ligação comprometida com alguma religião, tendo desenvolvido essa frieza ou apatia, devido ao fato de terem em algum momento de suas vidas, sofrido decepções dentro de alguma ou mais instituições religiosas, ou ainda, porque seus pais os levaram de maneira forçada a cumprir certos ritos e dogmas. Desta maneira, se viram traumatizados e, mediante isso, não encontraram mais o sentido naquela ação ou religião. Sendo assim, para daqui a pouco, não cometer o mesmo “erro” dos pais, que foram tão “ditadores”, e não impor a sua opinião, nem religião alguma sobre os seus filhos, acabam também por não ensinar, nem oportunizar aos seus filhos o privilégio de desenvolver a espiritualidade. Convém aqui dizer, os termos espiritualidade e religiosidade são tão amplos como também, opostos de alguma maneira, pois podemos nos deparar com religiosos omissos e pobres em sua espiritualidade, contudo, a espiritualidade, segundo a minha humilde opinião, não pode ser desenvolvida integralmente, enfatizo, integralmente, sem uma religião com seus pressupostos. Então, se indagarmos esses pais “descrentes” em algo maior dizendo:
- Você não vai levar teu filho à igreja? Não vai ensiná-lo(a) a rezar? Geralmente, vão lhe responder mais ou menos assim:
- Não. Eu não vou impor nada. Vou deixar ele(a) escolher sozinho o que quer acreditar e seguir quando for grande. Meu filho(a) vai decidir por si.
Então, não se faz oração (pois é claro, essa atitude poderia influenciar a criança em sua futura decisão). Na mesa, ninguém agradece. Afinal, agradecer para quem, ou o quê. Afinal, sou eu quem trabalho e coloco a comida na mesa.
Ao dormir, o mesmo se repete, pra quê rezar? Quem lembra disso? As crianças adormecem entorpecidas pelos conteúdos hipnotizantes de seus tablets e celulares. Quem suporta a chatice da oração? Estória de criança, ler um texto para o menino dormir? Os pais não tem tempo ou estão muito cansados, depois de um longo dia de trabalho, alguns ainda têm emails e mensagens para responder, e depois, afinal, também “sou filho de D’us”, vou relaxar um pouco nas minhas redes sociais ou assistir uma Netflix. Por outro lado, a criança não aprende a ouvir (raros são os pais que tiram esse tempo para ler um livro, contar histórias e as experiências de sua própria infância) e por consequência, desenvolve-se um infante que não consegue parar quieto para se concentrar num livro e até mesmo numa conversa mais profunda, afinal, é muito chato, os aparelhos eletrônicos, ah, estes sim, são muito mais interessantes, coloridos e cheios de informações.
Queridos pais, tios, dindos e educadores, isto é, população em geral: Compreender e internalizar princípios e valores, assim como, conceitos básicos de fé e espiritualidade não são coisas que a criança deve escolher se quer aprender ou não. É nosso dever lhes mostrar o caminho. Ensinar o certo e o errado. O primeiro mandamento com promessa é o que mais tem padecido por esta escolha errônea de não instruirmos nossos filhos, legando aos mesmos sua formação ética e espiritual, como se os mesmos já tivessem nascidos capacitados para tal. Se assim fosse, a criança não precisaria de pais, somente genitores. Vou lhes ajudar recobrar a memória o mandamento milenar:
“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu D’us 3 , te dá.” 4