Por Monica Mattia
Bento Gonçalves é uma das maiores cidades do Rio Grande do Sul com população acima de 100 mil habitantes e um dos 10 maiores PIBs do estado gaúcho. Com sua expertise industrial e acertadas decisões de planejadores empresariais e políticas conseguiu constituir uma matriz produtiva capaz de gerar externalidades positivas a uma cadeia de serviços geradora de empregos e rendas.
A 5ª Revolução Industrial que o mundo vive, tendo ao centro as tecnologias e a ciência aceleraram a necessidade de tomada de decisão focada naquilo que uma revolução no modo de produzir e consumir propõe então, entramos numa primeira reflexão: uma matriz produtiva tradicional, que usa tecnologias tradicionalmente, foi capaz de se inserir na última revolução? Se a resposta foi positiva cabe questionar: quem conseguiu? As grandes e médias empresas? E as pequenas e microempresas conseguiram migrar para a nova realidade?
Um tema recorrente é a falta de mão-de-obra para os setores da agropecuária, da indústria e dos serviços. E há trabalhadores buscando empregos. Qual a razão da oferta e demanda por mão-de-obra não se encontrarem? Convido o leitor a refletir sobre aspectos, tais como: os jovens se submetem às condições de trabalho, remuneração e carga horária presente no setor produtivo desde os anos 89 e 90? Submetem-se a trabalhar 20, 30 anos ou até a aposentadoria na mesma empresa? O mercado de trabalho já respondeu esta questão: não! Os jovens desejam os empregos da nova economia, presentes num campo de oferta de emprego que difere do tradicional. Empresas estrangeiras estão contratando jovens em formação todos os dias, em entrevistas virtuais, com modalidade de contrato diverso dos tradicionais, com remunerações atrativas que, muitas vezes, estão isentas de tributação.
Estes novos empregos na nova economia estão disponíveis na rede. Jovens insatisfeitos com as perspectivas nacionais, há tempos, acolhem ofertas internacionais de trabalhos exercendo atividades tradicionais, mas em outros países, não no Brasil. Parece ser verdade que as vagas de trabalho nos setores tradicionais não serão mais preenchidas e não é pelo fato de não existir mão-de-obra e, sim, pelo fato de que muitas pessoas desejam ocupar as novas oportunidades em um mercado de trabalho que nada parece com o que propõe a CLT.
Bem: os desafios da nova economia estão postos: a necessidade de adotar todas as tecnologias disponíveis, a preocupação com o meio ambiente, a leveza no modo de gestão das empresas reduzindo níveis hierárquicos ao máximo, a necessidade de investir em inovação e a necessidade de um novo olhar para o mercado de trabalho. Associa-se a isso, a necessidade de uma infraestrutura de mobilidade, de energia, de telecomunicações à altura da velocidade que a 5ª revolução industrial impõe.
Neste sentido, cabe destacar a relevância de uma nova matriz de rodovias diante das rodovias concedidas. Em pouco tempo, a região viverá uma nova realidade nas rodovias estaduais sendo possível ir a Porto Alegre ou a Caxias do Sul em pistas totalmente duplicadas e com um aeroporto regional na própria região da serra. Sim, isso será altamente atrativo para, quiçá, atrair novos investimentos no setor produtivo, com setores inovadores, setores que produzam bens de alta tecnologia, com mais valor agregado. Aliás, isso é importante para Bento Gonçalves, um território que não dispõe áreas de terras para instalação de novos distritos industriais. Mas, possui um capital intelectual, empresarial e de trabalhadores, uma rede de instituições altamente capacitada para acolher novos segmentos que, de certa forma, já se encontram presentes em nosso meio, apesar de ainda não se constituírem numa rede capaz de se mostrar e ganhar representatividade. Importante se debruçar sobre os setores da nova economia para enxergar o que já existe para viabilizar ações capazes de manter a Bento Gonçalves querida no patamar que os setores tradicionais mantiveram até a presente data. Uma associação entre os setores tradicionais e a nova economia impulsionará os novos ciclos de crescimento e desenvolvimento regional.
Economista, professora da UCS, presidente do Corede Serra 2021-2023