A vida não foi feita pra viver intensamente por 24 horas. Descansar faz parte, desde a criação do mundo. “E, no sétimo dia, então, Deus descansou” (Gênesis). Mas parece ser chique viver ocupado. Quem trabalha oito horas por dia parece viver na folga. O moderno é viver correndo, trabalhar em casa até altas horas no celular, ser produtivo, liberar dopamina sem parar e entrar em um ciclo vicioso de prazer. Tem gente que acha que parar é perigoso — tem medo da solidão, do silêncio, não sabe viver só em sua própria companhia, devagar, como devia ser. Deve ser uma fuga ou um refúgio, sei lá.
Não tem coisa que me desacelerou mais do que a maternidade.
A gente aprende a esperar.
Não se pode apressar etapas.
A criança caminha no tamanho do seu passo, para pra olhar uma formiga passando, aprecia e dá tchau pra quem passa. De tanto que se desacelera, às vezes se chega atrasado no trabalho, porque “o pequeno” quer viver no tempo dele — longe da pressa da contemporaneidade.
Quando parar vira um problema, o corpo força e pede socorro. É o “burnout”, é um gripão, é uma virose que lhe obriga, na marra, a parar.
Mas, agora, eu também vou ditar moda: ser ocupado demais todo o tempo virou off. O bonito é desfrutar o tempo que nos é dado.
Só quem perdeu pai, mãe ou filho sabe o quanto voltaríamos no tempo e imploraríamos pra viver bem lentamente, sem a correria do calendário e dos relógios.
Você descobre, depois de algum tempo, que sorte não é comprar um Porsche ou usar grifes importadas, mas poder buscar seu filho na escola às 16h sem sair correndo do trabalho.
Menos é o novo mais.
Menos pressa, mais paz.
Menos não é se contentar com pouco demais.
É essencialismo, é ser feliz e viver com o que nos basta. Talvez por isso, hoje, tanta gente prefira brincar de maternidade com um bebê Reborn.
É mais previsível. Mais fácil. Não atrasa compromisso, não derrama leite, não adoece no fim de semana. É uma maternidade que cabe na prateleira e no tempo cronometrado do adulto cansado.
Dá vontade de julgar, mas vou procurar entender.
É carinho sem vínculo. Colo sem calor.
É vida de mentira pra quem tem medo da intensidade da vida de verdade.
Sem bagunça. Sem espera. Sem renúncia. É vazio. Um silêncio bonito na vitrine, mas que grita na alma.
Porque só com uma criança de verdade e suas manias, suas pausas, suas birras e suas descobertas é que nos sujeitamos a sair do nós e aprendemos a reduzir a marcha para a arte rara de viver devagar.
Devagar mas com sentido.
De viver por inteiro. Dando valor ao bater de asas de uma borboleta, cumprimentando o porteiro, analisando o andar de uma formiga, sem pressa.
E a vida inteira, no fim, é só isso: tempo bem vivido com quem a gente ama. Mesmo que se chegue atrasado. De modo devagar. Mas, ainda assim, que seja de verdade com pessoas reais para que nos curem de viver para sempre na solidão de nós mesmos.