Após as catástrofes climáticas que afetaram a região, o setor vitivinícola enfrenta uma fase crucial de recuperação
A quarta reportagem da série sobre a retomada do turismo nas principais rotas turísticas de Bento Gonçalves segue com o Vale dos Vinhedos, que foi atingido indiretamente pela destruição de acessos que levam até os empreendimentos da região.
Segundo Ronaldo Zorzi, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), a entidade vem atuando para minimizar os impactos causados pelas chuvas do mês de maio. “Trabalhamos para, depois de prestar assistência às pessoas, reestabelecer os acessos prejudicados o mais rápido possível, junto a movimentos como o Unidos Por Bento, e comunicar a segurança de visitar o Vale dos Vinhedos, especialmente para o público da Região Sul, via terrestre. Sabemos que a retomada plena do turismo no Rio Grande do Sul deve ocorrer de forma gradativa a partir da reabertura do Aeroporto Salgado Filho, mas estamos buscando essa retomada mês a mês. O fluxo turístico foi a praticamente zero em maio e, em certa escala, vem aumentando gradativamente”, relata.
Empreendimentos impactados
Eduardo Valduga, enólogo e diretor do Grupo Famiglia Valduga, ressalta as ações de retomada. “Pelas condições meteorológicas, algumas frações de vinhedos sofreram impactos mais agressivos. Estamos falando na viticultura geral da região, onde algumas fazendas foram mais impactadas do que as outras. Mas especificamente sobre o que acontece nas uvas com o clima que tivemos, os técnicos e a equipe estão buscando sanar os ataques de alguns fungos, insetos e bactérias para que as plantas continuem amadurecendo o fruto e entregando uma matéria-prima de qualidade” afirma.
Já Elaine Michelon, diretora do Hotel Villa Michelon revela os impactos sofridos por sua empresa. “Tão logo as informações sobre quedas de barreiras, quedas de pontes ou deslizamentos, nos mais variados pontos do estado saíam, as reservas para o mês de maio foram sendo canceladas ou transferidas. Houve em maio uma queda de 95% na ocupação do Hotel e nos meses seguintes mais de 50% na demanda de ocupação. Sendo que do percentual do primeiro mês somente 2,5% foram hóspedes pagantes, os demais foram bombeiros aqui hospedados para ajudar nos resgates na região”, frisa.
Elaine aborda sobre o aumento expressivo de empreendimentos logo após a pandemia. “Meios de hospedagem em 2019 no Vale dos Vinhedos somavam aproximadamente 350 unidades (apartamentos), sendo que o número de visitantes era aproximadamente um milhão de pessoas por ano. Hoje, pós crises, há ao menos 800 unidades, contando novos hotéis, dezenas de pousadas e centenas de unidades para locação direta (Airbnb). Já o número de visitantes neste ano não deve chegar a 600 mil. Uma conta que não bate e não ajuda a projetar crescimento”, pontua.
Estratégias
Questionado sobre as estratégias para trazer mais visitantes à Rota, Zorzi afirma que há um plano em vista. “A Aprovale segue encampando ações práticas, como o projeto de qualificação da Rota Turística, desenvolvido em parceria com o Sicredi e Icatu Coopera, que teve na revitalização da sinalização um de seus principais resultados recentes. Há uma retomada de eventos como o Despertar do Vale; a participação na ProWine, com um estande que carrega o nome do Vale dos Vinhedos como destino enoturístico, associado à excelência da produção vinícola local e também o desenvolvimento do primeiro vinho coletivo com Denominação de Origem do Brasil, o 10 Lotes D.O.V.V., que certamente desperta o interesse do público pela região onde foi elaborado”, salienta.
Zorzi acredita que será necessária resiliência para traçar um futuro mais próspero da Rota. “Os impactos foram seguidos, mas estamos confiantes em uma retomada mais plena daqui para frente e trabalhando para criar atrativos que favoreçam essa retomada”, finaliza.