Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma progressão no debate público em torno das questões femininas. Temas como assédio, aborto, maternidade e carreira, vem sendo discutidos amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político. A luta pelo direito das mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo. Alguns avanços já foram conquistados nas últimas décadas, como o direito ao voto e o direito de serem eleitas. Porém, no que tange a representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado.
Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Isso acontece devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reverbera, até hoje, no nosso cenário de baixa representatividade feminina no governo.
Um exemplo da dificuldade em colocar mulheres em cargos eletivos de responsabilidade está em Bento Gonçalves, onde nunca houve uma mulher à frente do Executivo Municipal e, na última legislatura, nenhuma candidata conseguiu votos suficientes para uma das 17 cadeiras na Câmara de Vereadores. Segundo o Inter-Parliamentary Union, o Brasil é um dos piores países em termos de representatividade política feminina, ocupando o terceiro lugar na América Latina em menor representação parlamentar de mulheres. No ranking, a nossa taxa é de aproximadamente 10 pontos percentuais a menos que a média global e está praticamente estabilizada desde a década de 1940. Isso indica que além de estarmos atrás de muitos países em relação à representatividade feminina, poucos avanços têm se apresentado nas últimas décadas.
A sub-representação feminina na política gera consequências que se refletem, principalmente, mas não unicamente, na idealização, construção e execução de políticas públicas que considerem as questões do ser mulher. Porém, existem divergências quanto o modo que essas consequências são percebidas.
A sub-representação feminina na política gera consequências que se refletem, na idealização e construção de políticas públicas do “ser mulher”
Por um lado, acredita-se que a ausência de mulheres nos cargos de poder não propicia um debate adequado em torno de questões fundamentais, como saúde e segurança pública. Entende-se que a presença de mulheres na política proporcionará um maior diálogo e um pensar mais abrangente em torno de questões que estejam relacionadas às pautas femininas.
Por outro lado, há quem alegue que a presença da mulher na política não implica, necessariamente, no avanço das questões femininas. Para a pesquisadora Merike Blofield esse progresso não seria automático. Sua pesquisa revela que em alguns países, como Uruguai, no qual a representação feminina também é baixa, a agenda feminina é bastante evoluída, por outro lado, em outro países, como Estados Unidos no qual as mulheres tem grande presença na vida pública, a agenda feminina continua bastante conservadora.
No meio deste caminho, o Semanário propõe, nesta edição, uma exposição das lideranças de movimentos e partidos acerca do que está sendo pensado neste quesito para as eleições de 2020. Acreditamos que a real democracia só se dá com participação e possibilidade de exposição de ideias, por isso, é imprescindível que Bento volte a ter representantes mulheres em cargos públicos e, quem sabe, em um futuro próximo, eleja a primeira Chefe do Executivo da Capital do Vinho.
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