Até a idade de 8 anos fui criado na casa do meu avô. Na sala tinha um quadro, ricamente emoldurado, de Getúlio Vargas. Sempre, ao passar por ele, eu dava uma olhada sem ter noção da grandeza daquela figura pública. Ingressei, nessa idade, no Colégio Marista e, um belo dia, de calor intenso, estávamos na fila, início da tarde, para entrarmos na sala de aula. Nos esperávamos um calor imenso e a tradicional reza de início da aula. De repente aparece o Irmão Secretário do Colégio e disse: “eu tenho uma comunicação importante para fazer, uma notícia triste, faleceu o Presidente da República, Getúlio Vargas”. Instantaneamente, voaram pastas, mochilas, bonés, tudo pelos ares e um grito de liberdade, estávamos livres do calor escaldante da sala de aula e da reza. A morte de Getúlio não significou muito, mas me marcou, pois lembrei do quadro do meu avô. Foi uma comoção nacional, começava aí a minha sensibilidade em torno de política.
Em 1960, na campanha presidencial, vi o movimento político mais de perto. Eram candidatos Jânio Quadros, com o lema “vamos varrer o Brasil”, representante da esquerda, o Marechal Henrique Teixeira Lott, do Centro, e Ademar de Barros, da direita. Na escadaria da Prefeitura apareceram os três. No comício de Ademar tinha umas 150 pessoas, do Lott umas 300 pessoas e no do Jânio umas 1.500 pessoas. As vassourinhas, símbolo da campanha de Jânio, fizeram sucesso em todo o Brasil. Mais adiante, participei de um concurso Municipal de Oratória, levado a efeito no Salão Nobre da Prefeitura. Concentradas no salão e fora dele, havia umas 2 mil pessoas. E eu, na minha oratória, defendi o Governo de Juscelino Kubitschek e a construção de Brasília, considerada uma Babilônia. Ao final do meu pronunciamento levei uma estrondosa vaia de dez minutos, ninguém era a favor de Brasília, o povo sofria muito com o ônus da construção da nova capital. Mas, diante da minha tese e da minha eloquente convicção, o júri entendeu de me tornar vencedor do concurso.
Quando Lula assumiu a Presidência, no primeiro mandato, fiquei entusiasmado, ele agregou forças, deu esperanças ao povo brasileiro, novas ideias, novos tempos. Mas a trajetória de Lula foi nefasta, se instituiu no país uma roubalheira descomunal, os valores éticos foram destruídos, a política assistencial não surtiu efeito, os valores familiares se deterioraram, o desemprego brotou, as obras de infraestrutura necessárias ao país não aconteceram e eu apregoava “o Brasil vai atrasar 20 anos”. E não deu outra. Nos longos anos da minha vida eu jamais havia visto ou constatado situação tão desalentadora, com o povo tão descrente, desassistido, sem perspectivas de emprego para a juventude e sem futuro para as crianças. Era preciso o surgimento de um novo “salvador”, eu não tinha esperança que surgisse, mas surgiu: Bolsonaro. Foi uma força avassaladora, brotada do meio do pobre, do rico, da juventude, do meio estudantil. O Brasil precisava mudar, e mudou.
Quando o Jânio foi eleito Presidente a situação era mais ou menos parecida, politicamente foi um fenômeno. O Professor Jânio, vindo de um partido pequeno, como o de Bolsonaro, ganhou a eleição sozinho, com coligações pouco significativas, sem respaldo que viesse a supor que a eleição fosse possível. Eleito, Jânio determinou por decreto a proibição das rinhas de galo, muito comuns na época. A imprensa, impactada, foi ouvir o Presidente e a pergunta era coletiva: mas Presidente, porque acabar com as rinhas de galo? E o Presidente serenamente, usando um português professoral respondeu: “fi-lo porque qui-lo”. A frase entrou para a história. Como se sabe, pouco mais de 30 dias depois de assumir, Jânio renunciou o mandato. Brizola diria que “forças ocultas” agiram. No entanto eu acho que Jânio tinha um despreparo que Bolsonaro não tem. João Goulart, que era Vice-Presidente, assumiu a presidência, as forças trabalhistas, as forças de esquerda, os estudantes “revolucionários” , agitaram o país e, como se sabe, veio a que foi chamada de “revolução redentora”, outros a chamaram de “golpe militar”, enfim vou pular esta parte.
Brotou a dupla Lula-Dilma e depois, em contraponto, Bolsonaro. Com a vitória de Bolsonaro eu confesso que minha esperança voltou. Eu olhava a Bandeira Nacional, antes dos jogos no campeonato nacional e deplorava a situação em que a nação brasileira fora jogada. Agora eu olho o Pavilhão Nacional com entusiasmo renascido, estou pleno, esperançoso, revigorado e vejo, em meu entorno, também entusiasmo. Por menos que Bolsonaro faça, o país foi moralizado, novos conceitos, novas ideias, novos princípios. Os valores familiares certamente serão restabelecidos, os jovens passarão a acreditar no futuro. Após este “saneamento básico” é hora de colocar combustível nesta máquina esplendorosa que se chama Brasil. Precisamos só de estímulos, de obras de infraestrutura, de seriedade de gestão. Jânio frustrou o Brasil mas eu penso que Bolsonaro não frustrará, pelo menos eu quero acreditar nisso. Ministério Público, Polícia Federal, Judiciário, Bolsonaro, Congressistas, esse contexto tem tudo para não frustrar a nação, embora diante de um quadro em que “há tudo por fazer e reconstruir”. O sofrido povo brasileiro deu um brado de basta, de alerta, uma demonstração de civismo. Agora é baixar a cabeça e trabalhar, só há uma forma de evoluir e superar dificuldades, não sermos frustrados por nossos governantes e trabalhando. Na próxima coluna uma análise, minha pessoal, do Governador Leite.