Bombeiro, mecânico ou agricultor. Conheça as figuras paternas que são verdadeiras inspirações
Hoje, 8 de agosto, comemora-se o Dia dos Pais. Em uma data que homenageia aqueles que proporcionam heranças que vão além de bens materiais, destacam-se histórias de homens que deixam para toda a sociedade o legado por meio dos filhos, eternizando o bom trabalho que realizaram durante suas trajetórias.
Há um dito que afirma que “o conselho ajuda, mas o exemplo arrasta”. Essa frase é verdadeira na vida das famílias Gomes, Scarduelli e Remus, nas quais os pais têm deixado para os filhos muito mais do que profissões, mas ensinamentos sobre respeito, dedicação, coragem, amizade e amor.
Herói de vida e profissão
Para muitos filhos, o pai é um herói. Quando ele é bombeiro, a imagem sai da fantasia e fica bem mais próxima da realidade. Seguir a carreira paterna também é algo típico na hora de decidir a profissão. Todos esses fatores juntos formam a história do tenente Valmor Gomes, 55 anos, e seu filho soldado Wagner Gomes, 33, ambos do Corpo de Bombeiros Militar de Bento Gonçalves.
O pai dedicou 24 anos da sua vida à serviço da comunidade. Ele conta que o filho mais velho sempre apresentava indícios de que ia seguir seus passos na carreira. “Desde pequeno, demonstrava interesse pela profissão. Inclusive participou dos Bombeiros Mirins e até passava alguns serviços de 24 horas nos finais de semana junto comigo”, conta, orgulhoso.
Em 2012, um ano antes do pai se aposentar, o sonho de criança se concretizou: ingressou na profissão. Iniciou em Porto Alegre, passou por Caxias do Sul e hoje atua como soldado.
Wagner confirma que sempre admirou a profissão. “Era bem bacana, algumas vezes pude sair junto na viatura, claro que não era em ocorrência. Meu pai foi um grande incentivador”, lembra.
Os desafios são diários. “Não sabemos com que tipo de incid vamos nos deparar durante o turno de serviço. Todo plantão é atípico, traz novas superações”, comenta o soldado.
Do outro lado, os sentimentos paternos se misturam em meio à aflição e gratidão. “Sinto-me feliz, gratificado e, ao mesmo tempo, com o coração apertado cada vez que ouço a sirene e sei que ele está de serviço”, pondera o pai.
O tenente afirma que para integrar o time de “heróis” é preciso ter vocação. “Para mim, significa muito fazer parte de uma corporação onde se enfrentam situações de riscos diversos, não bastando estar preparado físico, técnico e psicologicamente”, destaca.
Não é somente Wagner que seguiu na carreira militar, os outros dois filhos de Valmor também fazem parte da história do 6º Batalhão de Comunicações (BCom). “Ele é uma cara que não é só um pai, posso dizer que é meu melhor amigo, incentivador, sempre me trouxe bons exemplos a serem seguidos, um paizão pra mim e para meus dois irmãos. Só agradeço a Deus por ser seu filho”, declara o soldado do Corpo de Bombeiros.
Herança que perpetua
Parece até que automotores está no sangue da família Scarduelli. Com olhar orgulhoso pela história que construiu, Oclênio Scarduelli, 85 anos, admira o filho Marcelo, 53, que dá sequência ao trabalho na empresa da família.
A Mecânica e Retificadora Sonza e Scarduelli foi fundada em 1968. Natural de Santa Catarina, Oclênio veio a Bento Gonçalves para trabalhar somo safreiro de uva. O ofício de mecânico aprendeu sozinho. “Comecei na empresa Bertuol Moré e passei por outras tantas. Adquiri conhecimento o suficiente e já tinha clientela, só faltava o lugar”, recorda.
Quando pequeno, a brincadeira de Marcelo era cercado de rolamentos que usava para aprimorar seus carrinhos de lomba. “Com 12 anos, no turno contrário da escola, já ia com meu pai trabalhar. Lembro que naquela época, comecei ajudando os mecânicos a afrouxar e apertar parafusos, logo aprendi a trocar óleo, sempre com o acompanhamento do meu pai. Um tempo depois, fui trabalhar no setor das compras. Em 1985, meus tios, que têm uma retifica em Santa Catarina, incentivaram meu pai e aos sócios a montar uma. Dois anos depois, iniciaram e hoje sou eu quem a gerencio”, reitera.
Seu Oclênio deixou de atuar em 2019, após 51 anos, devido à problemas de saúde. “Fico muito feliz por ter sido escolhido como seu filho. Com ele aprendi, principalmente, a ser um pai presente e a constituir uma família maravilhosa que tenho. Amo-os muito”, considera o filho.
O incentivo, contudo, passou também para a neta Daiane, 26 anos. Ela ingressou na mecânica ainda quando estudava, aproximadamente aos 15. “Quando criança, para me ver feliz, bastaria dizer que iria na mecânica para ajudar. Estudava de manhã e para completar a carga horária, uma tarde por semana também. Nas demais, comecei como auxiliar de escritório. Foi bastante gratificante. Assim, pude dar valor aos presentes que ganhava dos meus pais, tendo a real noção de quanto valia o dinheiro e o quanto era necessário trabalhar para adquirir o que tinha de interesse”, sublinha. Hoje, Daiane atua paralelamente na área de formação em Serviço Social, e há 12 dias se tornou mãe da pequena Sofia.
De forma a homenagear os dois homens que lhe instruíram tanto, ela diz: “gostaria de poder sinalizar o quanto tenho orgulho do senhor, em poder te chamar de avô. Sou eternamente grata a todos os ensinamentos, momentos, histórias e aprendizados que tenho passado ao seu lado durante esses anos. O senhor é um exemplo de perseverança, garra, força de vontade, humildade e felicidade. Meu pai, não encontro palavras para descrever a sua importância. Você é um exemplo de homem, sua força, humildade, alegria, honestidade e sinceridade contagiam a todos. Durante todos esses anos provou ser o melhor dos pais, esteve sempre presente. Você foi força e estabilidade, foi quem me cuidou, protegeu e deu carinho. Nunca mediu esforços para ver todos ao seu redor bem. Lhe agradeço do fundo do meu coração. Sou muito grata a todas as tuas instruções e amor. Eu os amo”, declara.
Avô, pai e neto na agricultura
A família Remus é tradicional na Feira do Produtor Rural, realizada há décadas em Bento Gonçalves. Tudo começou com Pedro Remus, que hoje tem 91 anos. Ele ensinou e incentivou os nove filhos a trabalharem na agricultura.
Um dos mais velhos, Gilberto Remus, conta que iniciou os trabalhos com Pedro em 1977, aos 17 anos. “Meu pai começou com a Cooperativa Santa Tereza, depois começaram a fazer a feira em Bento também, por meados de 1978. Ele continuou, porque a maioria desistiu e ficaram cerca de três pessoas na instituição. Foi então que compramos uma Kombi e tocamos o barco”, lembra.
Juntos, filhos e pai começaram a expandir o negócio. “Trabalhamos não só na feira, mas com os industriais, mercados, entre outros lugares. Me inspirei no meu pai. Foi com ele que a gente teve a ideia de continuar e se modernizar também. Agora temos tratores, na época era só enxada e a gente mecanizou. Hoje, não precisamos quase usar veneno e tudo isso inspirado no trabalho dele”, explica.
Antigamente, entretanto, as terras da família não eram como são hoje. “Era tudo soja e milho, se preparava com arado. Trabalhava eu e meu irmão mais velho, que infelizmente não está mais vivo. Aí nos modernizamos, começamos a plantar hortaliças”, ressalta.
Após Gilberto casar e ter dois filhos, há cerca de 15 anos Pedro se aposentou. “Minha esposa passou a ir comigo na roça e o pai começou a ajudar apenas de manhã. De tarde, ia jogar carta em Santa Tereza. Construímos casa, compramos carro e tudo desse trabalho. Agora, o Gabriel está trabalhando comigo também”, relata.
“Gabi”, como é chamado o filho de Gilberto, tem 18 anos e não pensa em seguir outro caminho. Raissa, a mais nova, tem 16 e está seguindo os mesmos passos. “Praticamente eles fazem tudo. Meu filho começou desde novo a ‘largar’ muda e gostou. Até queria que estudasse mais, mas ele achou melhor continuar na agricultura”, conta.
Gabriel relembra que começou a ir para a roça com o pai com cerca de seis anos. “Aprendi a dirigir o trator e fazia algumas coisinhas, a gente vivia sempre juntos e mesmo que não ajudasse muito, fazia o que podia. Começamos a pegar o gosto por isso e aprendi praticamente tudo com o meu pai”, destaca.
O jovem vê em Gilberto, uma inspiração. “Bastante batalhador, desde novo sempre lutou para dar o melhor para nós e, até hoje, trabalha pensando na gente”, orgulha-se.
Raissa, por enquanto, ainda não sabe o que quer para o futuro. “Antes eu sempre ajudava um pouco, mas ano passado comecei a ir mais. Não sei ainda se quero seguir isso, mas tenho admiração pelo meu pai”, conclui.