Trabalhando arduamente pela reabertura do comércio dentro das normas estabelecidas para o controle da pandemia de coronavírus, o presidente do Sindilojas, Daniel Amadio, fala de sua atuação diante da categoria que defende desde 2014
Nascido há 54 anos em Bento Gonçalves, onde diz que pretende ficar para sempre, comerciante, filho do italiano Lino Amadio (in memorian) – que veio ao Brasil após a 2ª Guerra Mundial – e de Edite Pagot Amadio. Unido há 37 anos com Iraci Sinski, funcionária pública federal na Embrapa Uva e Vinho, pai do Ariel, da Georgia e avô do Gabriel. Este é Daniel Amadio, que desde 2014 preside o Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) Regional Bento.
Ele, que nunca imaginou ocupar cargos comunitários ou de liderança institucional, motivado por Anésio Sabino, que desenvolvia um excelente trabalho fomentado pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio), denominado Câmaras Setoriais, ingressou no grupo que tratava sobre assuntos relacionados a eletroeletrônicos a fim de trocar experiências e obter conhecimentos. Hoje ocupa importantes cargos e é uma das caras de Bento Gonçalves diante da maior entidade representativa do comércio no Estado.
Juntamente com os irmãos Ricardo e Maximiliano, Daniel dirige a empresa herdada do pai, a Maquilagás, comércio de peças e assistência técnica para eletroeletrônicos, fundada em 1975.
Como despertou em você este interesse em ocupar cargos comunitários?
Na segunda gestão de Ilduíno Pauletto frente ao Sindilojas, a entidade desmembrou-se do espaço físico que dividia com a CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas). Foi então que chamaram o Valério Pompermayer para atuar na entidade. Este, por sua vez, criou uma série de produtos e serviços voltados ao associado. O Sindilojas “criou corpo”, passou a ter mais autonomia e visibilidade. Foi quando me convidaram para fazer parte da diretoria no mandato do presidente Jovino Demari. Em sua segunda gestão já passei a ser um dos vice-presidentes, o terceiro, na verdade. Quando chegou a hora da sucessão, o primeiro vice não aceitou assumir a entidade. O segundo, por sua vez, à época não estava mais diretamente ligado ao comércio, o que impediu que assumisse. Sobrou para mim (risos). Meu primeiro mandato foi de 2014 a 2018. Quando encerrou, pediram que eu continuasse. E aqui estou.
Quais cargos já exerceu?
Fui um dos fundadores e primeiro presidente do Observatório Social de Bento Gonçalves. Conheci este maravilhoso projeto em Maringá (PR), que é o berço dos observatórios sociais, em missão realizada pelo Sebrae no ano de 2014. Comecei a me interessar pelo assunto, motivado por Laudir Miguel Piccoli e Marcos Fracalossi. Foi numa palestra realizada no CIC (Centro da Indústria, Comércio e Serviços), em que José Alberici Filho trouxe a Bento Gonçalves o Pedro Gabril. Foi mais de um ano de conversas, tentativas de convencimento, até que, um dia que eu estava na Fecomércio, recebi uma ligação do Prefeito (Guilherme Pasin) que estava numa palestra com Gabril na Federasul (Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul) e pediu para que eu encampasse o trabalho. Diante deste pedido, e considerando a grande importância do bom relacionamento com o Poder Público para o Observatório Social, resolvi tocar adiante. Tive o apoio de instituições financeiras, do setor de contabilidade do município e da UCS, que cedeu espaço para sua estruturação. O trabalho do Observatório é incrível. Além disso, já fiz parte de muitos conselhos municipais e também da Fundaparque.
Que cargos está exercendo?
Atualmente sou primeiro vice-presidente da Fecomércio, coordenador da Comissão de Combate à Informalidade e vice-presidente do Conselho Permanente de Orientação Sindical. Atuo também no Conselho de Turismo de Porto Alegre e no Conselho Permanente Sindical, que realiza negociações com sindicatos de empregados do Estado. Dentro do Sindilojas, além de presidente, também estou à frente, desde 2011, da Comissão de Negociação das Convenções Coletivas de Trabalho. E sou Conselheiro Fiscal do Clube Esportivo.
Principais objetivos e conquistas de sua atuação comunitária.
O objetivo, quando se assume cargos nesta envergadura, sem dúvida alguma, é trabalhar em prol de toda uma comunidade e defender os interesses de uma classe ou categoria. O papel fundamental na representatividade coletiva, sem dúvida alguma, é buscar benefícios, manifestar interesses de um grupo. Hoje, dentro da minha área, especificamente, o principal produto é, sem dúvida alguma, trabalhar as Convenções Coletivas, que define as relações entre capital e trabalho.
O comércio é uma classe unida?
Creio que poderia ser mais. Vejo que muitas vezes só nos procuram na hora das dificuldades, como esta que estamos passando, por exemplo. Gostaríamos que a participação geral fosse mais efetiva em todos os momentos. Proporcionamos cursos, palestras, treinamentos, oferecemos produtos e serviços dos mais variados, mas não contamos com o feedback nem com a participação que gostaríamos de contar.
Há espírito associativo e comunitário nas lideranças do comércio de Bento?
Associativo até acho que sim. Hoje, o Sindilojas conta com cerca de 700 associados, interessados nos produtos e serviços que são oferecidos. Além disso, contamos com 2500 representados, distribuídos por 11 municípios, interessados em nossas negociações coletivas. Comunitário tem. O próprio coronavírus nos mostrou que há muita gente disposta a contribuir e colaborar. Se não é direto, diante da necessidade ele surge.
A integração entre as entidades de Bento existe? Em que formato? Poderia ser melhor?
As entidades de Bento se unem sempre que há um chamado. Nós, do Sindilojas, participamos porque acreditamos que a união de esforços proporciona o alcance dos objetivos. Com relação ao formato, creio que poderia haver uma maneira que fomentasse mais o debate das demandas, o que tornaria o grupo ainda mais forte. Falo de uma participação física maior, contemplando, em forma de rodízio, todas as entidades. É algo a ser pensado e melhor estruturado. Certamente poderia ser melhor.
Quais as principais reivindicações ou necessidades do comércio de Bento?
Hoje são muitas. Temos que começar pela motivação aos consumidores para não fugirem daqui para fazer suas compras. Precisamos ainda inibir a prática da informalidade e buscar o interesse dos empresários nas negociações coletivas. Neste momento estamos focados em apoiar as empresas do setor a passarem pela crise da maneira mais branda possível. Estamos cumprindo o papel de estarmos próximos ao Poder Público visando diminuir os prejuízos. Já com relação às necessidades, coletivamente queremos qualificar ainda mais o comércio, buscar novas ferramentas e canais de vendas.
Fale-nos sobre o comércio de Bento, comparado ao comércio da Região.
Depende da cidade. Percebemos uma fuga muito grande para Caxias do Sul. Acredite ou não, tem muito lojista lá que diz que se não fosse pelos consumidores de Bento, já teriam fechado as portas. Vejo que o pessoal daqui vai para passear e acaba comprando, fortalecendo lá e enfraquecendo aqui. Nosso papel, enquanto entidade, é qualificar, treinar e fazer com que o consumidor fique aqui, mostrando que não tem razões para ir para outras cidades. Não venham me dizer que o preço é melhor, porque economia não tem. Só o combustível que se gasta já dá a diferença. Mas cabe como lição ao comércio melhorar o atendimento, o mix de produtos, preços. Claro que não vamos considerar para isso o momento que estamos passando.
Projeto Viva Bento. O que o senhor pode nos falar a respeito dele?
O Viva Bento foi um projeto do CIC, de meados dos anos 2000, tinha como foco principal despertar o comércio do Centro de Bento, revitalizar a área para receber o turista. Muito foi feito. Na realidade, ele não deixou de existir. Dentro do CIC, ele passou a se chamar, em 2019, de Bento +20, sendo que o Sindilojas faz parte de plenária, com nosso diretor Plínio Mejolaro representando a área do comércio. Ele tem muita experiência e conhecimento, uma vez que foi um dos criadores do Viva Bento. Já um grupo de empresários do nosso setor que fazia parte desenvolveu o projeto Ação Lojista. São 25 comerciantes, mas o grupo é aberto a novas adesões, que desenvolvem missões, visitas técnicas e outras atividades específicas de interesse do grupo. Eles utilizam a sede do Sindilojas para seus encontros, mas o projeto não é da entidade.
O Centro de Bento: comércio, turismo, atrações. Sua definição.
Creio que o Centro precisaria ser fortalecido com uma rota turística voltada à sua história, à Via Del Vino. O Bento +20 vem desenvolvendo um projeto que oportunize o turista que encontre as lojas abertas para, quem sabe, gerar o consumo. Existe o projeto, existe o desejo, falta motivação e adesão.
Sua visão de Bento no aspecto econômico.
Está muito bem! O balanço de 2019 foi muito positivo. Claro que a atual crise compromete os números de 2020. Será um ano péssimo no contexto geral. Mas Bento Gonçalves em si apresenta um cenário econômico muito bom se comparado a outros municípios. Bento está numa seara econômica muito boa. Nossa cidade se equilibra devido à múltipla economia. Na crise de um setor, o outro compensa.
No aspecto turístico.
As pessoas adoram vir para cá. Nós enxergamos problemas, brigamos pelas soluções, mas os visitantes acham nossa cidade perfeita. Sempre que saímos, quando falamos que somos daqui, só ouvimos elogios. O enoturismo não só atrai como também é o carro-chefe no que diz respeito à economia direcionada ao setor do turismo.
No aspecto social.
Temos entidades fortes, que fazem um belo trabalho. A comunidade cumpre um bom papel, mas sempre tem o que melhorar. De qualquer forma, não vejo algum setor ou projeto assistencial desassistido. Nós mesmos, enquanto entidade, participamos de vários projetos, principalmente com a utilização de dois braços fortes do Sistema Fecomércio: o Sesc e o Senac. Há vários anos apoiamos o projeto da Secretaria de Educação, com as sacolas retornáveis, participamos do projeto Transformando Vidas, apoiamos a Abraçaí, a Parceiros Voluntários, o Observatório Social, enfim, muitas iniciativas.
Qual sua visão sobre os problemas relacionados à segurança de Bento?
Bento tem uma boa condição de segurança. Os movimentos que foram criados proporcionaram a construção de uma penitenciária modelo. A comunidade como um todo, especialmente a empresarial, dá à segurança local o suporte que o Governo do Estado não dá às forças policiais. Já tivemos muitos problemas, mas vejo que a segurança melhorou, diminuíram bastante as queixas, e aqui me refiro especificamente aos lojistas.
A população carente, inclusão social. Como cuidaria disso?
Acho que a melhor alternativa é trazer este público para o mercado de trabalho. Nós temos o Sesc, o Senac e outras alternativas. Só peço que não optem pela informalidade, porque esta não é boa para ninguém. Temos percebido que haitianos e venezuelanos já se enquadraram na nossa realidade. Os senegaleses, por exemplo, devido à cultura nômade, ainda são resistentes. Mas de uma coisa temos certeza. De nossa parte, a informalidade será sempre combatida.
O que o senhor defende como prioritário para Bento Gonçalves: a ampliação da Rodovia do Parque, o término da ligação Esteio-Gravataí, a duplicação da São Vendelino ou a duplicação de Bento a Farroupilha. Fale a respeito.
Com exceção do trecho entre Esteio e Gravataí, que não nos afeta diretamente, creio que as demais são extremamente importantes. E eu ainda acrescentaria o asfaltamento entre Nova Prata e Barracão, ligando a Serra Gaúcha a Santa Catarina pela BR-470.
O Aeroporto de Vila Oliva e o Porto de Arroio do Sal ou Torres. Sua visão a respeito.
Quanto à construção de um novo aeroporto em Vila Oliva não fui favorável, não sou. Foi um trabalho muito forte da comunidade caxiense que não vai nos favorecer em nada. Farroupilha era o local ideal para esta obra. Considerando Vila Oliva, tanto pela distância quanto pelo clima, continuará viável para nós irmos a Porto Alegre. Já com relação ao Porto, aproxima o escoamento portuário de nossa produção, como também o recebimento de mercadorias. Sou totalmente favorável, ainda mais pelo fato de que, pelo que tenho conhecimento, a obra não dependerá de recursos públicos.
A crise do coronavírus, como a interpreta? Avalie suas consequências. O vírus lhe traz medo?
Pessoalmente o vírus não me traz medo. O problema é que isso tudo vai afetar diretamente a economia mundial. O comércio ficará um mês de portas fechadas. Estamos tentando buscar soluções para o setor que considero o mais prejudicado diante da pandemia. Perdemos a Páscoa, que é um dos períodos de maior movimentação em termos de vendas. Vejo que a questão mais em alta no momento é o dicotômico preservação da vida x economia. Temos que buscar urgentemente um equilíbrio, senão as pessoas vão morrer de fome.
A China na sua visão. É ameaça, é aliada? Deve ser imitada? Combatida?
Como representante do comércio, vejo a China como uma ameaça. Eles têm um poder comercial muito forte. Porém, eles também são uma oportunidade para nossas agroindústrias. São muitas pessoas para serem alimentadas e nós temos um poder agrícola muito forte. Essa troca daria um equilíbrio à balança comercial. De qualquer forma, a pandemia irá prejudicar os negócios. Com relação a ser imitada ou combatida, depende do prisma. Sob minha ótica, deve ser imitada, pois é uma das maiores forças econômicas do mundo.
A juventude e as crianças. Perspectiva futura.
Acho que temos uma geração muito diferente, com facilidades de assimilar tecnologias. Essa geração não adquiriu a herança de acumular patrimônios. Eles querem curtir a vida e querem ser felizes. Há um entendimento de que dessa (vida) não se leva nada. Claro que buscam segurança e estabilidade, mas a realização está dentro da felicidade. Trabalhar, ter uma renda e ser feliz. É outra mentalidade.
Interprete Pasin, Leite e Bolsonaro. O que faria se fosse eles?
Pasin: Gosto do trabalho dele. Não vi nada de comprometedor, negativamente falando, em suas ações. É um belo gestor. As ferramentas que ele utiliza são muito positivas. No geral avalio como um bom governo. Se eu fosse ele, fortaleceria ainda mais a gestão.
Leite: Pegou um Estado quebrado e não está conseguindo fazer as reduções propostas para equilibrar as contas. Poderia ser um pouco mais gestor e menos taxativo. Não sei se eu queria ser ele. Mas se eu fosse, mexeria em muitas coisas, a começar pelas privatizações. Compraria as brigas, não adianta. Ou tu compra as brigas, ou tudo vai continuar como está.
Bolsonaro: Ele é muito popular. Tanto que construiu sua eleição sem uma força expressiva, seja ela partidária ou de grandes apoiadores. Está sendo muito irresponsável em suas ações e manifestações, uma vez que elas motivam reações desnecessárias tanto da situação quanto da oposição. Vejo que está apoiado por uma boa equipe, sem acomodações partidárias. Se eu fosse ele faria a mesma coisa, tecnicamente falando, nas seria mais equilibrado, mais comedido.
A política. Candidatos, partidos. O que vai estar em jogo nas próximas eleições municipais?
O que está em jogo é a continuação de um bom trabalho, mas que ainda pode ser melhorado. As diretrizes dependem muito da gestão, mas infelizmente, há poucos meses de um pleito, ainda não vemos movimentações ou tentativas de se ter uma sucessão da boa gestão atual. O Sindilojas cumpre seu papel de aproximação dos seus associados do poder público, de forma apartidária, visando o bem comum. Sempre iremos colaborar da melhor maneira que pudermos.
Qual o seu Brasil sonhado? Acredita nele?
No Brasil dos meus sonhos temos uma economia forte, entidades fortalecidas, educação de primeiro mundo, igualdade social, um equilíbrio de gênero, financeiro e racial, com uma condição muito melhor do que recebemos. Trabalhamos arduamente para que isso aconteça. Eu acredito!
Que conselhos o senhor daria para um trabalhador e uma pessoa que quer ser empreendedora?
Empreender é complicado. Tem que gostar de desafios, tem que saber que o sucesso não é automático. Tem que batalhar muito, buscar oportunidades na sociedade. Tem que ter um produto bom e um mercado onde haja necessidade de consolida-lo. Existem empreendedores de sucesso e de fracasso. Muitos sucumbem no primeiro ano de vida. Isso sem falar nos riscos que se corre. Mas tudo tem prós e contras. Absolutamente tudo.
No que se resume seu lazer: culinária, atividade física, condições de saúde. Se puder, dê algumas dicas.
Sou ligado à prática de esportes, sempre que possível. Gosto muito – e pratico – futebol e corrida. Devido ao meu trabalho, não consigo ter uma rotina esportiva. Também gosto muito do interior, do contato com a natureza. Sempre que possível gosto de curtir meus filhos e meu neto. Tento ao máximo levar uma vida regrada, cuidar da alimentação. Isso tudo é muito importante para manter o corpo e a mente em forma.
Foto: Mônica Rachele