Presidente do Sindilojas Regional Bento fala sobre sua trajetória profissional, atuação em entidades e traz um panorama sobre o comércio na cidade
Empresário comerciante, Daniel Amadio é formado em Gestão do Varejo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e possui cursos de gestão, liderança, recursos humanos, tributos e especialidades em Micro e Pequenas Empresas. Participa da diretoria do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) Regional Bento há 12 anos, sendo quatro como vice-presidente e oito como presidente, renovando seu mandato para mais uma gestão (2022-2026).
Na Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) atuou como diretor desde 2014, passou pela vice-presidência (2018-2022) e hoje ocupa o cargo de vice-presidente setorial do Varejo (2022-2026).
Quem é o Daniel Amadio?
Sou natural de Bento Gonçalves e moro aqui há 57 anos. Amo essa cidade e pretendo ficar aqui até o fim da minha vida. Apesar de muitas iniciativas profissionais fora, sempre busco estar próximo da cidade.
Casado com Iraci, pai da Ariel e da Georgia, e avô do Gabriel. A vida inteira atuo como comerciante em empresa familiar, que era do meu pai, e hoje mudando um puouco o rumo profissional, nas vésperas da aposentadoria, mas são coisas que vão acontecer no futuro. Por enquanto ainda sou comerciante e trabalho nessa empresa há 42 anos. Assinei minha carteira em 1980 e nunca tive outro emprego.
Trajetória profissional
A partir de 2014, assumi a presidência do Sindilojas de Bento Gonçalves, mas já havia atuado na diretoria e na vice-presidência. Isso me oportunizou de estar à frente de outros movimentos.
Falando localmente, em uma época tínhamos algumas missões com o Sebrae, onde fomos a Maringá e conhecemos dois projetos que hoje estão implantados: o Observatório Social, que monitora as contas públicas e aponta custos desnecessários e uma melhor eficiência dos gastos; no qual, em parceria com um grupo de empresários, fundamos em Bento Gonçalves e fiquei dois anos à frente como presidente. Outro projeto que conhecemos naquela cidade é o que eles chamam de Coden (Conselho de Desenvolvimento). Aqui, ele foi transformado em Bento +20. Mais tarde, Milton Milan se engajou e fundou o Conselho no município.
Participo também de vários conselhos municipais, sou presidente do Conselho do Procon (Condecon) e vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento (Condebento), dentre outros, por onde passam as mais importantes decisões da cidade. O Sindilojas busca ter oportunidade de um assento pra colaborar com os rumos do município. Essa foi uma proposta que venho trazendo com muita seriedade desde que assumi e que a gente quer participar, mesmo porque temos a representatividade coletiva e as informações das necessidades do comércio. A partir daí, levamos essa voz e vemos as demandas que são pertinentes aos assuntos pautados, buscando os interesses do nosso representado.
Também participo de alguns movimentos nacionais que tenho a oportunidade de integrar, por exemplo, o Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNPC).
Atuação no Sindilojas
Em primeiro lugar, temos um papel obrigatório e muito importante, que é a representatividade sindical. Somos os representantes legais dos interesses dos empresários do comercio varejista em onze municípios da base, que são Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa, Monte Belo do Sul, Santa Tereza, Pinto Bandeira, Barão, São Pedro da Serra, Coronel Pilar, Boa Vista do Sul e São Valentim do Sul. Buscamos defender como Sindilojas Regional Bento os interesses dos nossos representados, seja por iniciativas que gerem vendas, como também pela otimização de custos, pois entendemos que atender isso significa sucesso do negócio.
Sobre a avaliação, eu seria suspeito nesse sentido, mas sempre buscamos estar presente com o associado. Claro, tivemos uma queda muito grande no número de sócios na pandemia, como todas as entidades tiveram, mas agora está retomando. Temos feito um trabalho bacana desde que assumimos esse novo mandato. Com a diretoria renovada, criou-se grupos de trabalhos internos e, cada um com sua liderança, dividimos as responsabilidades.

Metas da entidade
Não existe uma meta definida, ainda mais hoje em dia, que a velocidade das mudanças é muito rápida, não adianta colocar um prazo para executar determinada ação e, daqui a pouco, acontece algo no meio do caminho e tem que mudar toda a trajetória.
Trabalhamos com o objetivo principal do nosso indicador, que é número de associados. Todo o trabalho que desenvolvemos é em cima de quantos estão ativos. A principal meta é essa, é fazer um bom trabalho, com iniciativas, ações, encontros e negociando a convenção coletiva de uma forma muito interessante para o empresário, que é o nosso público.
Visão sobre o comércio
Temos setores que estão bem, outros nem tanto, mas em média se percebe uma leve recuperação do que se perdeu no passado. Todas as datas comemorativas de 2022 mostraram um crescimento de vendas. Claro, se falarmos do Dia da Criança, o que mais se destacou foram brinquedos, eletrônicos e produtos ligados ao público infantil.
Então, quando falamos de vendas, temos o crescimento nominal e o real. O que que é isso? Crescimento nominal é quanto cresceu e o crescimento real é o quanto cresceu acima da inflação. Como chegamos, infelizmente, aos dois dígitos inflacionários, todas as vendas que cresceram, não cresceram no mesmo patamar, que chegou a quase 11%. Sempre ficaram abaixo, mas agora há uma tendência, de até o final do ano, ela baixar para 5 ou 6%. Com isso, podemos pode voltar a ter uma boa perspectiva, passando pelo segundo turno, que também vai ser um fator determinante, de uma economia melhor para 2023.
Mão de obra, qualificação e educação
Todos os setores estão preocupados com isso. A geração nova que está chegando tem um perfil diferente. Eles estão vindo com menos comprometimento e uma ideia de buscar a felicidade na função que executo. Para isso se faz necessário tornar o trabalho agradável e interessante.
Então busca o empresário, além do constante treinamento, tornar o ambiente agradável para ambos clientes, os internos e os externos. Além disso, se percebe que a construção de carreira na mesma empresa, não é mais o objetivo principal. Querem trabalhar para viver o hoje. Não estão preocupados com o futuro. Aquela ideia de guardar o patrimônio não existe mais.
Outra coisa que nos preocupa é a formação educacional. Nossa educação mudou muito. Antigamente, era uma formação mais exigente. Hoje as cobranças são diferentes, que aliadas às tecnologias, facilitaram a vida de quem estuda. Uma vez as pesquisas exigiam a biblioteca, investigar aquele assunto no livro, hoje se pesquisa no Google e temos a resposta na hora. Então a tecnologia facilitou, mas é importante quando se forma um profissional, ele entender o porquê se chegou a essa resposta, o motivo pelo qual se criou aquele produto e a necessidade de conhecer o item para poder passar para o consumidor. Aprimorar o raciocínio crítico. Não adianta eu querer vender o que não conheço. É preciso a explicação de como ele funciona. Então o que estamos fazendo perante isso? Cursos, treinamentos, buscando, dentro da gratuidade, que as pessoas se engajem no aprimoramento do trabalho, com uma entrega melhor.
Evolução do comércio nos bairros
Existe uma demanda e a necessidade de descentralização do comércio, porque onde há muita concentração, temos os problemas de fluxo de veículos, estacionamentos, que estão cada vez mais caros, e uma dificuldade de o consumidor chegar na loja quando ele precisa.

Por outro lado, cresceu muito o e-commerce. O pessoal viu, na pandemia, que é uma facilidade que pode ser muito bem utilizada. Sabendo o empresário do comércio oferecer seu produto através de uma rede social, fechar o seu pedido e conseguir, com isso, que o cliente compre sem ter que sair de casa é uma facilidade, mas tem gente que não gosta. Muitas pessoas querem ir até o local, tocar e fazer a experiência no corpo. Então, com isso, temos uma centralização do comércio na cidade, o que não acontece somente em Bento Gonçalves, mas em todos os municípios.
No entanto, como Bento acabou crescendo para vários bairros, começa-se a criar um movimento de comércio e isso dá uma facilidade. Acaba diminuindo o fluxo no centro da cidade e ele é atendido com mais conforto, com mais qualidade. Então incentivamos essa descentralização, já vimos esse movimento no sistema bancário, no comércio de medicamentos, então são sinalizações que é um caminho legal.
Dissídio da categoria
Por coincidência fechamos a negociação nesta semana. Tivemos muita dificuldade na condução desse fechamento, pois com uma inflação de dois dígitos, tudo se torna mais complicado.
Porém, depois de oito meses, aplicamos o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) integral de 10,8%, com a possibilidade do pagamento do passivo do período em três parcelas, pois os que não adiantaram o reajuste, sem essa facilidade, comprometeria o desembolso de recursos nesse próximo pagamento.
Ainda temos reflexos da pandemia, mas passado esse período, aparamos as arestas e buscamos o equilíbrio de interesses dessa relação entre capital e trabalho.
Qual é a sua visão sobre o momento que vivemos hoje no município?
Bento Gonçalves é um município que se destaca. É uma região empreendedora, crescente, que assertivamente focou no turismo e está tendo destaque no cenário nacional e quiçá internacional.
O comércio vai de carona com outros setores, como o turismo, a indústria, a agricultura e os serviços. Assim, é o setor que mais emprega nas cidades da nossa região. Daí a importância de uma boa representatividade desse tão importante segmento.
Sobre as administrações municipais, sempre estivemos bem próximos, porque vemos potencial e queremos uma modernização do nosso comércio. Fortalecer a ideia do consumidor que ele tem que comprar aqui. A pandemia trouxe essa vontade de prestigiar o comércio local, porque era o que estava passando dificuldades, retorna o dinheiro em serviços, porque todo o valor que cai na prefeitura, acaba virando saúde, educação, segurança e infraestrutura.
O comércio vai de carona com outros setores, como o turismo, a indústria, a agricultura e os serviços. Assim, é o setor que mais emprega nas cidades da nossa região. Daí a importância de uma boa representatividade desse tão importante segmento
Do que o comércio mais se ressente?
O que estou ouvindo ultimamente é a questão da carência de mão de obra e falta de qualificação. Não porque não estejamos proporcionando, mas sim porque não há uma participação nas ações que organizamos. Poderia ser bem melhor aproveitado tudo que é feito pelas entidades, mas infelizmente, ainda precisamos achar maneiras de motivar o público a participar.
Isso sem falar na chegada das grandes redes com colaboradores mais preparados e eficientes na operação. É uma concorrência provocadora que exige melhor empenho dos negócios locais. Possuem mix de produtos maior e, com isso, motivam estratégias diferentes de trabalho por parte dos pequenos negócios.
Turismo significa também comércio aberto e inovação? Como se processa isso?
Vislumbrando isso, temos uma cláusula específica na negociação coletiva, onde conseguimos uma autorização para que os comércios das rotas turísticas pudessem trabalhar quando quisessem. No entanto, para a cidade de Bento Gonçalves, falando do centro e dos bairros, não conquistamos isso.
Temos uma dificuldade, principalmente nos shoppings, onde as suas administrações querem abrir todas as lojas, porque tem circulação de pessoas, tem turistas, mas algumas empresas não querem trabalhar, ou porque o bônus é muito caro, ou porque o colaborador não quer ou porque não querem “abrir mão” do final de semana. Então tentamos buscar alternativas para que ele abra, mas mesmo assim o empresário reluta bastante, notamos uma dificuldade nesse sentido.
Presença na Fecomércio
Fui diretor da Fecomércio no primeiro mandato do presidente Luiz Carlos Bohn e depois assumi a vice-presidência. Agora, na renovação da gestão dele, que aconteceu esse ano, passei por uma fase de eleição.
A Fecomércio é formada por cinco setores: o varejo; atacado; turismo; agentes autônomos e gêneros alimentícios, que correspondem aos supermercados. Só o varejo, que é o maior grupo lá dentro, que represento, tem 58 sindicatos de 100 grupos que são filiados.
Dentro da Fecomércio, faço parte de vários conselhos, tentando sempre me inserir para estar atualizado. Porque ali é uma fonte de informações para trazer para a nossa cidade, ao mesmo tempo que levo as demandas dos nossos representados para lá. Junto aos parlamentares, aos governos executivos, tentamos buscar os nossos interesses através dessa força política, com a expressão da federação que, hoje em dia, considero a maior do Rio Grande do Sul.
O Senac e o Sesc em Bento. Sua visão e como tem acompanhado o processo de atuação.
Inauguramos recentemente a nova escola do Senac e estamos trabalhando, em Porto Alegre, juntamente com a diretora, no projeto de um novo espaço para o Sesc, que está atualmente em uma sede provisória.
Trabalhamos muito nas questões dos nossos braços operacionais. Temos o Senac como um parceiro para formar os profissionais da área e atender essa questão, que está muito carente de profissionalização, de treinamento e de aprimoramento. Já o Sesc, o trabalho é mais a questão do bem-estar social. Tem a academia, tem cursos, tem a odontologia, iniciativas culturais e esportivas.
Empreendedorismo em Bento Gonçalves
Bento é uma cidade muito empreendedora. Temos um público empreendedor aqui e basicamente no comércio, porque a maior facilidade de se empreender, não só em Bento Gonçalves, mas em qualquer cidade, é partir para o setor, porque é o mais barato, é o que de repente, se tu és conhecedor, podes se destacar. Então o pessoal trabalha e inova bastante. Nesse sentido, vejo como uma cidade bem próspera.
Jovem comerciante
Não só em Bento Gonçalves, várias instituições criaram grupos de jovens empreendedores, com o principal objetivo de renovação das lideranças e de criar o gosto pela adoção das entidades de classe, e vemos no Sindijovem isso acontecer. Vi vários movimentos, também estaduais e nacionais, com esse mesmo propósito que desapareceram ou enfraqueceram. Tento deixá-los totalmente autônomos, sempre confiando na liderança que está à frente do grupo.
Processo eleitoral
Daniel pode até se posicionar, mas o presidente do Sindilojas não pode, é uma regra que justamente mantém a idoneidade da entidade. Mas prezo pela liberdade econômica, pela preservação do patrimônio e pela proteção ao setor privado, que são os pilares defendido da liberdade de trabalho pelas entidades de classe. O candidato que atender melhor essas propostas é o nosso favorito, pois entendemos assim sermos convergentes no propósito.
Fotos: Laura Kirchhof
Foto em destaque: Divulgação