Durante o encontro, ocorreu a atualização do painel e pacote tecnológico utilizado no cultivo da uva Isabel, a mais produzida na região
Na última semana, entre os dias 24 e 27 de janeiro, técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizaram reuniões para coleta de dados. Esse trabalho servirá de base para cálculos dos custos de elaboração de produtos provenientes do Rio Grande do Sul e São Paulo.
amação contou com visitas às propriedades dos produtores Paulo e Márcio Tonello e Valdecir e Valdir Bellé, durante o primeiro dia de atividades, 26 de janeiro. Já na sexta-feira, 27, foi realizada a reunião na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves (STRBG), onde aconteceu uma atualização do painel tecnológico para realizar a pesquisa de custo de produção da uva Isabel, desde a implementação do parreiral até a pós-colheita.
De acordo com o presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Cedenir Postal, a reunião é importante para aproximar os agricultores à Conab. “É bom para, tanto os produtores conhecerem o trabalho da companhia, quanto ela saber qual a realidade de quem produz. Esses dados vão contribuir para, no futuro, termos a definição do custo de produção desta variedade”, afirma. Porém, ele deixa claro que a Conab e o sindicato não definem o preço mínimo da uva. “Somente realizamos a pesquisa dos dados e vamos em busca da reivindicação para que tenhamos um preço justo para os produtores”, diz.
Segundo ele, essa atualização é essencial para ver a evolução que vem ocorrendo ao longo dos anos. “Muitas tecnologias não são mais aplicadas, sempre tem equipamentos e produtos novos, tudo vai mudando. Fazendo essa renovação das informações, fica mais concreto e justo na hora da definição do preço mínimo da uva, que acaba refletindo a realidade do momento”, ressalta.
O levantamento de dados contou com a contribuição de diversos segmentos que compõem o processo produtivo, tais como produtores, assistência técnica, revendas de insumos e profissionais dos órgãos de pesquisa. Coeficientes técnicos e preços de fertilizantes, defensivos, mão de obra e máquinas agrícolas são alguns dos itens pesquisados pelas equipes da Conab.
Estiveram presentes neste encontro: Séffora Silvério, Lucas Cortes Rocha, Gotardo Souza e Marisson Marinho representando a Conab; o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Eugenio Zanetti; o presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Cedenir Postal; além de representantes de outros sindicatos, instituições financeiras, técnicos da Ascar/Emater, empresas de insumos e cooperativas.
Os outros painéis foram realizados nos municípios paulistas de Itapeva (trigo), Itaberá (trigo) e Taquarituba (feijão). E nos municípios gaúchos de Liberato Salzano (laranja) e Flores da Cunha (alho/uva bordô).
O que é custo de produção?
É uma ferramenta de controle e gerenciamento das atividades produtivas. Por meio dele, são geradas informações para auxiliar nas tomadas de decisões pelos produtores rurais e na formulação de estratégias pelo setor público e privado.
Conforme Postal, o cultivo da uva envolve muitas etapas para chegar no produto final. “Vai desde a obtenção da terra, da preparação do terreno, compra das mudas, implantação e cuidados ao longo dos anos, até a formação do parreiral, as horas de mão de obra para cada atividade, os insumos das aplicações, utilização de fertilizantes, controle de pragas, realização da poda, colheita e frete até a vinícola. Além de que, depois da safra, também tem a lavagem de equipamentos. Tudo isso é levado em conta”, lista.
Os dados levantados pela Conab também são utilizados pelo governo federal como um dos principais parâmetros na elaboração dos preços mínimos e no cálculo dos valores de garantia utilizados como referência para o Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF). Além disso, servem como base para a apuração na obtenção de crédito por meio do Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários (FEE), na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e na Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio).
O que dizem os produtores?
O jovem produtor da comunidade de São Valentin, Giovani Orsato, 26 anos, acredita que o encontro e as visitas realizadas pela Conab foram importantes para a companhia saber onde realmente a uva, que vai para a indústria, é produzida e para captarem informações que serão levadas aos posteriores membros que virão à cidade, em outras ocasiões. “Além disso, serviu como atualização das informações que são utilizadas para o preço mínimo, pois, a cada ano que passa, a realidade se transforma, os insumos aumentam, o mercado fica mais exigente, a demanda muda, assim como as condições climáticas, entre outros aspectos”, salienta.
A escolha pela pesquisa relacionada a uva Isabel, de acordo com Orsato, é por ela ser uma das variedades mais antigas e a mais produzida na região da Serra Gaúcha, contribuindo também para a realização do preço mínimo, tendo como base essa casta. “É indispensável que se tenha o real conhecimento do custo que é necessário para produzir a mesma, pois como ela é a referência para toda cadeia produtiva, impacta em todo o setor. Assim, o que foi definido sobre a Isabel, é apenas o que é necessário para cultiva-la, mantermos as nossas propriedades ativas e garantir o mínimo de dignidade para os produtores”, encerra.
O agricultor do Vale Buratti, Valdecir Bellé, produz 11 hectares de uvas, juntamente com irmão. Sendo um dos produtores que recebeu a visita da Conab em sua residência, ele menciona sobre a importância do acontecimento. “Agora, a companhia tem uma noção de como é o relevo aqui na Serra Gaúcha, pois tem sim umas partes plainas, mas há locais com altos declives. Esse aspecto torna mais difícil o cultivo da videira”, destaca.
Conforme Bellé, através disso a tabela de custos será atualizada, garantindo um valor justo para produzir a fruta. “Seria bom que eles fizessem esse acompanhamento mais recorrente, tendo em vista que nos últimos anos o preço dos insumos aumentou consideravelmente. Adubos, arrames, óleo diesel e os próprios tratamentos fitossanitários”, completa. Após a reunião, de acordo com Bellé, há ainda diversos estudos para serem feitos. “Tivemos pouco tempo de conversa, mas a conclusão foi de que o preço mínimo da uva estabelecido pelo governo federal não cobre os gastos da produção, está abaixo. Temos que nos adaptar para não haver prejuízos”, conclui.
Outro produtor e apicultor que participou do encontro foi Márcio Tonello, que também vê esse levantamento de dados como um auxílio para os agricultores que investem nesta cultura. “Além de tudo, é importante para que a companhia conheça nossa região e como produzimos a uva. Assim, terão um estudo melhor para tomar decisões mais concretas sobre o preço mínimo, formas de produção e abastecimento”, diz.
Segundo Tonello, durante a reunião foi feito o levantamento de todos os custos de produção, como insumos, equipamentos e infraestrutura necessários para a produção das videiras, chegando a um número final. “O estudo é complexo, pois há gastos com os materiais para fazer o parreiral, como postes, ferros e terraplanagem. Além do transporte, mecanização, materiais agrícolas, moradia e alojamento de funcionários”, explica. Mesmo assim, o produtor revela que o maior valor investido é com o recurso humano. “O agricultor se sacrifica muito trabalhando no campo e depende do serviço de outras pessoas também. A mão de obra está escassa, ainda mais a qualificada”, finaliza.
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