Domingo foi a última etapa da prova do ENEM e, neste ano, o tema da redação foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Logo de início, o termo ‘desafio’ nos mostra o quão difícil é conciliar este trabalho ou assumir esse papel dentre os demais. Além disso, a palavra ‘invisibilidade’ propõe um trabalho não-valorizado e, na maioria das vezes, não-remunerado que cabe sempre às mulheres da família: filhas, noras, sobrinhas, netas. Esse tema é ainda mais polêmico porque torna o mundo feminino ainda mais desigual em comparação ao masculino já que cabe a elas abdicar da família, da vida profissional e assumir os cuidados com seus familiares. Esse cenário de excesso de tarefas faz com que perpetue a desigualdade econômica.
Outra questão é o envelhecimento da população e a falta de ações práticas da gestão pública em lidar com essa demanda crescente pensando em alternativas, como treinar pessoas e incentivar a profissão de cuidadores de idosos.
O cuidar remete ao trabalho feminino de maternidade e, historicamente, pode pressupor trabalho gratuito já que cabia exclusivamente às mulheres esse ato. Ledo engano. Além disso, faz-se relação com o patriarcalismo e machismo ainda muito existentes na sociedade, uma vez que eram trabalhos predominantemente femininos.
Com isso, vem a sobrecarga quanto às múltiplas jornadas no universo feminino e maior exposição a doenças como ansiedade, depressão, Síndrome de Burnout.
Mas e quem cuida de quem cuida? Quem se importa com a mulher que trabalha muito mais e de forma informal, sem 13° salário nem férias?
Escolhas difíceis quando se trata dos seus. O que fazer diante das circunstâncias que todos devemos enfrentar.
Enfim, ótimo tema para discorrer sobre, afinal esse é mais um problema de ordem social de nosso país. Como intervenção, poder público deve pensar em alternativas para, como no caso das domésticas, regulamentar e valorizarar profissão de quem está em casa trabalhando muito. Ainda assim, oferecer treinamento e incentivar, economicamente, as pessoas para estarem preparadas. E enquanto sociedade, o caminho é longo e necessário: promover a consciência para aniquilar as desigualdades.
Esperemos para ver as redações nota mil e, na prática, as medidas para solucionar esse impasse já que essa reflexão é cada vez mais urgente.