É na cozinha que o pessoal se reúne e não adianta empurrar para a sala. Tradição vinda da Itália, onde a cozinha era o lugar aquecido.
É na cozinha que está a comida, onde se faz o aperitivo, onde todos chegam e acabam ficando. O certo é construirmos cozinhas mais amplas e eliminarmos as salas de estar.
Uma das surpresas de infância foi entrar na cozinha de minha mãe e encontrar três panelas empilhadas sobre a boca do fogão a gás.
Explicou-me ela que era economia: uma panela sobre a outra, da menor para a maior, mantinha tudo aquecido e até cozinhava.
Aprendi com ela alguns pratos que deveriam ser de origem francesa ou japonesa, mesmo que ela nunca tivesse tido aulas da cozinha internacional. O “soborô” e o “restè d’onté” estavam sempre na mesa, especialmente depois das festas, quando os excessos da cozinha ultrapassava a gula dos comensais. E dê-lhe restos.
Tudo bem, se não fossem as seguidas vezes que aquele prato voltava para a mesa. As escondidas meu irmão tentava “eliminar” alguns pratos, velhos conhecidos, mas a mãe notava:
– “Onde é que foi parar aquele resto de aipim que estava no pirex? Eu ia fazer uma fritada com salame.”
O pior é que eu gostava da fritada de aipim e o Plinio, meu mano, não gostava das sobras. Um impasse.
Houve uma vez em que o Seu Pedro, meu pai, fez uma festa no salão paroquial da Igreja Santo Antônio. A Dona Pina foi categórica:
– “Seu Pedro: não cozinho cabeça e nem pata de galinha”.
Foi tudo para nossa casa e durante um bom tempo foi sopa com pata de galinha, risoto com cabeça, massa com cabeça e pata, pata com isto e cabeça com aquilo. Também tinha polenta,
O Plínio, para mostrar que já conhecia a anatomia da galinha, pegou uma pata, achou um nervinho e puxou. Incrível: a pata abiu e fechou. Tomou castigo de encerar e lustrar toda a casa.
Num belo dia o Seu Pedro disse “chega”! Foi um belíssimo discurso de uma única palavra. Voltamos a rotina e ficamos mais de ano sem ver carne de galinha na mesa, graças a Deus!