Na quinta-feira, 10, a escritora e poeta Ivete Todeschini lançou seu mais recente livro, Costurando Vivências, na 39ª Feira do Livro, consolidando ainda mais sua presença no cenário literário regional e nacional. Com uma carreira marcada pela sensibilidade poética, reflexões profundas e experiências que moldaram sua visão de mundo, Ivete compartilha momentos importantes de sua vida que influenciaram sua produção literária.
Uma vida imersa em poesia e arte
Seu interesse pela escrita e leitura, é, segundo ela, hereditário. “Minha trajetória foi desde sempre. Uso a palavra ‘atávica’ porque acredito que minha conexão com a escrita veio dos meus avós”, explica Ivete. “Eu gostava muito de declamar poemas na escola, e o incentivo para escrever e publicar veio de uma pessoa muito importante: o Padre Oscar Bertholdo”, diz. Essa inspiração inicial levou Ivete a participar de seu primeiro concurso literário, aos 18 anos, em Bento Gonçalves, com o poema Poema Tátil. “Ganhei o primeiro lugar e foi um incentivo enorme para mim”, lembra.
A escritora conta que a palavra “tátil” surgiu de sua paixão por leitura e dicionários. “Na minha casa só havia dois livros: a Bíblia e o dicionário. Lia muito, e isso ampliou meu vocabulário”, relembra. A escolha de uma palavra tão significativa para o poema que deu início à sua trajetória literária que exemplifica a relação íntima e cuidadosa que ela mantém com a linguagem.
Desafios e reflexões na literatura
A autora enfrenta obstáculos comuns aos escritores, especialmente no que diz respeito à cobrança pessoal. “O maior desafio foi ser exigente comigo mesma. A gente percebe que o que não é literatura é passageiro, morre rapidamente. Eu sempre quis que minha poesia tivesse asas, que permanecesse nas leituras das pessoas”, comenta. Para ela, o verdadeiro valor da literatura está em sua capacidade de transcender o tempo e de deixar uma marca duradoura nos leitores.
Ivete também reflete sobre como a poesia revela realidades complexas: “A poesia não é apenas algo lúdico, ela revela muitas realidades, como qualquer forma de arte. Às vezes, pode machucar, pois há quem sufoque o belo dentro de si. Quando tentamos resgatá-lo, ele muitas vezes aparece ferido”, pontua. Para ela, a poesia é uma forma de terapia e uma expressão profundamente humana.
Conexões literárias e influências
Ivete teve uma jornada literária marcada por influências poderosas. “Sempre admirei Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Carlos Drummond e Álvaro de Campos. Esses autores moldaram muito a minha escrita e a forma como vejo a poesia”, diz. Ela também menciona Carlos Neijara como uma figura essencial em sua carreira, um amigo que a apoiou e acompanhou de perto seu desenvolvimento como escritora. “Ele guarda com carinho fotografias e recortes de jornal de momentos importantes da minha trajetória”, conta.
A convivência com outros escritores e artistas também foi um fator crucial para ela. “Tive a honra de participar de comissões julgadoras de concursos literários, como o Mansueto Bernardi, em Veranópolis. Acredito que desenvolvemos um olhar crítico ao longo do tempo, mesmo em outros trabalhos, e isso se reflete na minha escrita”, destaca.
A arte de costurar vivências
O título de seu novo livro, Costurando Vivências, é uma metáfora para o processo criativo de Ivete. “Eu vejo a poesia como algo que costura experiências, que conecta vivências de forma íntima e pessoal. O que escrevo vem das minhas próprias memórias e reflexões, mas também das histórias das pessoas ao meu redor”, revela. Esse trabalho de costura literária foi amplamente elogiado por leitores e críticos, que reconhecem a profundidade emocional e a riqueza de detalhes em sua obra.
Durante o processo de criação do livro, Ivete destaca o impacto da pandemia, que serviu tanto como uma pausa necessária quanto como um impulso para a finalização do projeto. “O livro começou antes da pandemia, mas foi nesse período que as histórias e poemas foram costurados de forma definitiva. Foi um processo de muita síntese, de muitos cortes, mas que resultou em algo muito significativo para mim”, destaca.
Memórias e poesia
Ivete é enfática ao dizer que sua vida pessoal está fortemente entrelaçada com sua produção literária. “Minha experiência de vida impacta profundamente minhas obras. O poeta precisa escrever com sangue. Se ele não viver intensamente, a poesia se perde”, diz. A autora acredita que a intensidade das vivências, seja nas dificuldades ou nas alegrias, é o que dá autenticidade à poesia.
Sua ligação com a família, especialmente com seus avós e pais, é uma constante em seus escritos. Ivete relembra como seu avô, Antônio Todeschini, também escrevia poesias e assinava jornais italianos. “Essa herança é muito forte em mim. Descobri que ele costurava à mão um livro com seus escritos, mas, infelizmente, esse material nunca foi encontrado. Essa busca por nossas raízes familiares é algo que ainda quero explorar mais”, diz.
Além das memórias familiares, Ivete fala com emoção sobre sua biblioteca pessoal, resultado de anos de leituras. “Quando eu era jovem, não tinha dinheiro para comprar livros, então lia aos poucos na livraria. Hoje, tenho uma vasta coleção e vejo o quanto os livros moldaram minha vida”, pontua.
Olhar para o futuro
Após o lançamento de sua mais recente obra, Ivete já tem planos para novos projetos. “Sempre há algo em andamento. Um dos meus sonhos é escrever um livreto sobre vinho, que é outra paixão minha. Também penso em organizar um material sobre a Casa Histórica Cultural Todeschini, que é uma parte importante da nossa comunidade”, destaca.
Além disso, a escritora continua envolvida com a Associação de Artistas, onde atualmente ocupa o cargo de vice-presidente, e com o mundo das artes visuais. “Considero este segmento uma forma de poesia muda. Sempre me senti conectada com essas expressões artísticas”, diz.
Mesmo com o cansaço acumulado e as preocupações recentes, como a saúde de seu marido, que enfrentou complicações médicas, Ivete se mantém firme em seu propósito de continuar escrevendo e compartilhando sua visão poética do mundo. “Acredito que a poesia é uma companheira eterna, algo que nos ajuda a enxergar o invisível, a olhar além das superfícies”, comenta.