O churrasco de fim de ano promete ser o mais salgado das últimas décadas para os brasileiros. Após uma série de aumentos sequenciais registrados nas últimas semanas, segundo levantamento da BoiSCOT Consultoria, o preço da carne bovina chegou ao maior nível dos últimos 30 anos.
A elevação é puxada, sobretudo, pela abertura das exportações para a China, que após perder cerca de 40% do seu rebanho devido a peste suína africana, passou a importar carne bovina para suprir a escassez de proteína animal no país. Um dos principais parceiros comerciais do gigante asiático, o Brasil exportou cerca de 65 toneladas de carne para os chineses só em outubro, mais que o triplo registrado em junho. Aquecido também pela alta do dólar que favorece vendas ao exterior, o faturamento nacional com exportação de carnes, somado gado, porco e frango, ficou em US$ 755,8 milhões em novembro, 45% a mais do que o contabilizado no mesmo mês de 2018.
A alta da carne na Capital do Vinho
Se por um lado, o lucro com as exportações é festejado pelos frigoríficos e grandes produtores, por outro, o preço registrado nas gôndolas de todo o Brasil mostram que o consumidor interno tem menos motivos para comemorar.
Em Bento Gonçalves, de acordo com os preços registrados em cinco estabelecimentos visitados pela reportagem do Semanário, os aumentos dos cortes mais nobres, os quais sofreram os maiores reajustes, ficaram entre 24% e 60%.
Pegos de surpresa pelo aumento repentino, os bento-gonçalvenses já começam a mudar seu padrão de consumo, conforme assinala o sócio da Big Boi, Romano Pessi. “Os consumidores estão sentindo o preço, estão retraindo nas compras, pedindo só o necessário. Quem comprava carne de primeira, agora compra uma de segunda, ou em menor quantidade”, aponta. Segundo Pessi, o que está sendo buscado são cortes mais baratos como agulha, paleta, ponta de peito e carne moída.
Responsável pelo açougue do Caitá, Giovani Machado assinala que, só na última semana, os preços já subiram três vezes. As maiores altas também são nas carnes nobres. Para manter a clientela, a estratégia tem sido apresentar cortes diferentes, além de apostar na qualidade do que é ofertado. “Estamos mostrando opções mais em conta ao cliente e fazendo com que que ele descubra que também existe carne boa no dianteiro, que é possível comer bem e economizar, sem deixar o sabor de lado”, pontua.
Mesmo com o aumento, a percepção geral dos estabelecimentos é de que a procura não diminuiu. Por enquanto, a tradição do churrasco, ainda vence as adversidades. “É um produto de consumo básico, ainda mais para nós, gaúchos. Então, a elevação do preço é mais significativa que a queda nas vendas”, resume Mateus Andreazza, gerente do Andreazza.
Carne de Porco e de frango também sobem
Se, em entrevista ao portal Poder 360, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, declarou que o preço da carne bovina estava muito barato e que, por isso, não deverá voltar à média anterior, a carne de porco e frango, que apareciam como alternativas mais em conta, podem seguir o mesmo caminho.
Segundo avaliação da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a abertura das exportações para a China também elevou o preço do frango e do porco, e a expectativa é que a crescente se acentue com as festas de fim de ano e ao longo do primeiro semestre de 2020.
Embora em menor intensidade se comparada ao gado, essa elevação já começa a ser percebida na Capital do Vinho, conforme conta Vicentina Pazzo, gerente do Açougue Silvério. “Há uns 15 dias o valor da carne bovina explodiu. Embora pouco, já notamos aumento no porco e no frango também”, diz.