Feriadão com tempo bom fez com que rotas turísticas da Capital Nacional do Vinho registrassem intenso movimento de pessoas, que afirmam já não ter mais medo do coronavírus
Feriadão. Céu azul, sol e calor. Essa foi a combinação ideal para as rotas turísticas de Bento Gonçalves receberem intenso fluxo de pessoas, entre sábado, domingo e segunda-feira, 12. O Vale dos Vinhedos e o Caminhos de Pedra, são dois exemplos de locais que registraram grande movimento nesse período.
Com esse cenário se tornando cada vez mais frequente, a pergunta que fica é: a pandemia do coronavírus acabou? Quem responde é o médico cardiologista e plantonista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Tacchini, Fernando Censi Tormen. “Só irá acabar quando tivermos uma vacina eficiente disponível. Ou quando um número suficientemente grande de pessoas entrarem em contato com o vírus e desenvolverem imunidade, dificultando a transmissão comunitária do mesmo”, afirma.
Se a pandemia ainda é uma realidade presente, o fim progressivo do isolamento social, medida imposta como prevenção, para Tormen, pode estar acontecendo porque “as pessoas estão chegando ao limite da tolerância, e isso faz com que assumam mais riscos, sem necessariamente terem perdido o medo”, acredita.
Já o médico pneumologista, Adriano Muller, acredita que as pessoas podem estar perdendo o medo da doença. “Em função da redução de número de casos. Temos um número menor de pacientes graves internados. Também em função do clima estar mais convidativo. E o terceiro ponto é que, acredito que as pessoas tenham cansado um pouco de ficar em casa, estão se testando provavelmente”, analisa.
Risco dos números se elevarem novamente
Tormen destaca que se os números reduziram, foram devido aos cuidados tomados pela população. Entretanto, “aumentarão se os mesmos cessarem antes da imunização”, alerta.
O médico acrescenta que é característica dos vírus respiratórios reduzirem a letalidade ao longo do tempo. “Apesar destas observações otimistas, o Covid-19 continua sendo uma doença perigosa, especialmente para as pessoas com certas comorbidades já bem conhecidas”, adverte.
Vida normal?
Questionado se, com a queda de casos, as pessoas já podem viver despreocupadas o médico pneumologista Muller, afirma que ainda não. “A redução dos números não nos tranquiliza ainda. Acalma a situação, faz com que nossa vida possa ser vivida de forma um pouco mais plena, mas tem que manter todo cuidado ainda, porque o vírus está presente e pelo que está ocorrendo no resto do mundo, essa segunda onda pode vir até nós se a vacina não chegar antes”, alerta.
O empresário e presidente da Associação Comercial Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra), Régis Albino Marques Gomes e a esposa, a portuguesa que é presidente da Casa dos Açores do Rio Grande do Sul, Carla Verônica Cedros Fernandes Marques Gomes, decidiram passar a segunda-feira, 12, na Capital Nacional do Vinho.
O motivo da vinda da região metropolitana para a Serra Gaúcha é justo. Gomes completou mais um ano de vida naquele dia. Enquanto que o filho, Francisco, que viajou junto, aproveitou para comemorar o Dia das Crianças “turistando” com os pais.
A família passou pelo centro de Bento e Vale dos Vinhedos. Régis afirma que não tem medo da pandemia, mas que é necessário ter o mínimo de cuidado. “Encontramos de tudo um pouco. Bastante gente na rua. Boa parte com máscara, mas também, muitos sem”, relata.
O empresário, que já retornou para a cidade onde mora, afirma que Bento está preparada para receber turistas. “Os estabelecimentos estão com todos os cuidados. A questão é que boa parte da população não se cuida mesmo”, observa.
Opinião da comunidade
A reportagem do Semanário questionou alguns moradores de Bento Gonçalves para saber se eles têm medo de pegar o coronavírus. Todos os entrevistados responderam não ter medo da doença. Confira.
Shaian Piovesana, 27 anos, Engenheiro Mecânico: não tenho medo, pois a doença não se mostra perigosa para quem não é grupo de risco. E é algo muito fácil de se pegar. Se observar, teríamos até que passar álcool nas notas de dinheiro que circulam diariamente por aí. O mínimo a ser feito é continuar usando máscara e mantendo a higiene.
Marcelo A. M. Lopes, 37, Analista de Cadastro de Produto: não. Porque a gente precisa estar em meios onde tem outras pessoas e os cuidados me parecem paliativos. Temos que nos cuidar, sim, mas se for para pegar, vamos pegar. O risco está aí, não podemos deixar de viver.
Fernando da Silveira, 31 anos, profissional de Educação Física: particularmente, tenho receio dos danos neurais que ela provoca. Como o meu trabalho é de cunho 100% intelectual, qualquer coisa relacionada a esta área, tenho medo em ser comprometida. Porém, ao mesmo tempo, entendo que é impossível se proteger 100%, a não ser que me vestisse com roupa de astronauta 24 horas por dia. Creio que teremos que aprender a conviver com tal perigo, porém, não deixar o medo barre os nossos sonhos e objetivos.
Giovani Francisco dos Santos, 31 anos, profissional de Educação Física: tenho respeito pelo vírus, porque a gente não sabe em si o que ele realmente faz. O que a gente sabe agora é que ele age em pessoas que tem imunidade baixa ou comorbidades, que o poder de letalidade dele é baixo, ou seja, não mata em grande quantidade, mas prejudica, agrava doenças pré-existentes. Diria que medo de pegar, não tenho, mas tenho respeito por causa dos meus entes queridos, tenho vó de 80 anos, tenho mãe asmática, obesa, então pelos meus entes queridos tenho receio e respeito pelo vírus.