A pandemia do coronavírus tem causado uma série de impactos negativos na economia de Bento Gonçalves. Como consequência, a demissão de funcionários já se tornou realidade na maioria das áreas. Algumas, estão sendo mais impactadas do que outras. Entretanto, em maiores ou menores proporções, a crise atingiu todos os setores.
Assim como tantos outros trabalhadores, quem está sentindo na pele os efeitos do covid-19 é Marilei Follmr, 44 anos. Há cerca de uma semana, recebeu a tão temida notícia da demissão. Ela trabalhava em um restaurante, como auxiliar de cozinheira. Tinha carteira assinada e garante que o emprego era bom. Entretanto, admite que imaginava que isso poderia acontecer, já que o movimento do local, – em sua maioria formado por turistas -, diminuiu consideravelmente.
Com um filho de 14 anos, Marilei afirma que a situação é complicada. Por enquanto, está conseguindo se manter com a ajuda que recebeu da mãe, que é aposentada. Porém, para as próximas semanas, tudo ainda é uma incerteza. “Estou preocupada porque não vou ter como pagar as prestações da casa que comprei pelo Minha Casa, Minha Vida. Além disso, tem água e luz. Não podemos viver só de ajuda”, relata.
Além do ramo alimentício, outros também foram muito atingidos.Só no setor metalmecânico, cerca de 150 pessoas foram desligadas dos empregos, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, Juarez Piva. “Estamos calculando que até terminar a pandemia, mais ou menos 30% da nossa força de trabalho vai ficar comprometida”, prevê.
Para evitar que mais empregos se percam durante a crise, Piva afirma que está sendo analisada a possibilidade de redução de salários, onde uma parte deverá ser paga pelas indústrias e outra pelo Governo Federal. “Esse é o próximo passo das empresas para que não aconteçam novas demissões”, antecipa.
Embora algumas indústrias do setor tenham sido mais atingidas – como o segmento que atende demanda do setor automobilístico – do que outras, Piva afirma que todas estão sendo afetadas de alguma maneira. “Seja pelo cancelamento de pedidos, pela suspensão de pagamentos pelos clientes, ou até pela falta de matérias primas que ainda estão desmanchadas na cadeia produtiva”, analisa.
Questionado se existe uma previsão para que o setor melhore, Piva afirma que, de março em diante, no mínimo 18 meses. Agora, as medidas para tentar amenizar os impactos se baseiam principalmente na redução de gastos. “Tentar deixar os pagamentos de forma estruturada para que não fiquem endividados e tenham condições de ter financiamentos. Cortar todas as despesas desnecessárias. Às vezes, cortar até o que não se quer, como funcionários”, conclui.
Hotelaria
Devido ao decreto municipal, por um período, os hotéis precisaram fechar completamente as portas. Sem atividades, muitos colaboradores foram dispensados. De acordo com a diretora executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh), Marcia Ferronatto, o setor, que empregava uma média de 600 pessoas, demitiu cerca de 15% do quadro.
De acordo com Marcia, embora alguns empresários estejam tentando buscar outras possibilidades, os desligamentos se tornam inevitáveis. “Observamos por parte do empresário a busca de alternativas como: férias, banco de horas, redução de jornada, suspensão de contrato de trabalho. Mas com o faturamento zerado, incertezas do momento, previsões da lenta retomada, infelizmente as demissões começam a acontecer”, analisa.
Polo moveleiro
Em Bento, o setor moveleiro emprega mais de 6 mil pessoas nas mais de 300 indústrias. Entretanto, de acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindmóveis), nenhuma delas perdeu o emprego nesse período. “Estamos fazendo o possível para não ter esse tipo de problema. Todo mundo está optando por banco de horas, férias coletivas”, afirma.
Ainda que considere cedo para mensurar os prejuízos do segmento, Benini aponta que haverá perdas e queda nos faturamentos. “Isso é inegável, mas em termos de percentual, não conseguimos ainda prever nada. Acreditamos que o mês de maio vai ser muito decisivo, onde poderemos levantar todos esses números”, diz.
A expectativa do setor, de acordo com Benini, é que a situação atual se prolongue até o primeiro semestre de 2021. “A gente sabe que a retomada é gradativa, não é rápida. Temos ciência de que vai perdurar ao longo desse ano e provavelmente no primeiro semestre do ano que vem também. Estamos um pouco preocupados porque não sabemos o que vai acontecer ainda, não temos um norte claro”, admite.
Apesar do momento de incertezas, Benini afirma que o setor vai encontrar alternativas para vencer essa fase. “Estávamos confiantes que 2020 seria um ano de retomada. Tenho certeza que será mais um momento em que vamos nos reinventar e achar formas para vencer essa fase. Sairemos mais fortes e renovados”, conclui.
Comércio
De acordo com o Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas), quem trabalha no setor, está tentando usar a demissão como último recurso. “Estão crescendo muito as ações de redução do salário, de jornada de trabalho ou da suspensão do contrato de trabalho”, afirma.
Questionado se o comércio do município sofreu outros prejuízos, além dos financeiros, Amadio explica que apenas no início da pandemia, mas que logo foram resolvidos. “Da questão da entrega, das transportadoras, porque os estabelecimentos estavam fechados. Porém, houve uma flexibilização da prefeitura no decreto, que permitiu abrirem as portas para receber mercadorias e trabalhar administrativamente”, conclui.