Enquanto os motoristas que trafegam pela via acham que outra pista vai ajudar no fluxo dos veículos, quem mora no entorno quer que seja priorizada a construção de um acostamento, faixa de segurança e redutor de velocidade.
Diariamente, milhares de veículos circulam pela rua Aristides Bertuol, localizada no bairro Eucaliptos, em Bento Gonçalves. Como esse trajeto dá acesso para vários municípios, como Pinto Bandeira, Farroupilha e Caxias do Sul, além do famoso roteiro turístico Caminhos de Pedra, a intensidade do fluxo de caminhões, ônibus e carros é grande. Visando melhorar a trafegabilidade dos motoristas, a prefeitura decidiu construir uma terceira pista no local.
Entretanto, o anúncio da obra divide opiniões. Os motoristas que trafegam por essa rua analisam o projeto com bons olhos. Por outro lado, para os moradores do entorno, a criação de outra pista não é uma boa ideia. Antes disso, querem que seja priorizado um acostamento para que possam circular em segurança, faixa de pedestre e redutor de velocidade, já que a maioria dos veículos circula trafega alta velocidade.
A dona de casa, Ieda Schulz, 40 anos, reside com a família em uma casa localizada às margens da rua Aristides Bertuol. Quando questionada sobre o que acha da obra, ela é enfática na resposta. “Não concordo. Se não dão conta de cuidar da segunda pista, como vão fazer a terceira? Vai ter manutenção? Vai ter segurança para os moradores e crianças?”, questiona.
Ieda avalia a via como um trajeto perigoso, principalmente para quem reside nas proximidades. “A gente tem medo. Tenho um filho de cinco anos, então tivemos que colocar um limite na frente de casa, um risco no chão, delimitando até onde ele pode ir, para que não vá no asfalto. As crianças não têm onde brincar. É perigoso. Meu filho não fica aqui fora sozinho, não dá pra deixar brincando, temos que ficar sempre monitorando, em alerta.”, afirma.
Além disso, a moradora acrescenta que nos dias em que chove e a pista fica molhada, a situação fica ainda pior. “Aqui não tem segurança para nada. Não tem sinalização, não tem recuo. Dias de chuva a gente só escuta os carros derrapando e rezamos para que nada aconteça. Há uns três anos, aconteceu um acidente grave. A palavra certa é insegurança”, assegura.
Para tentar amenizar os perigos diários, não poucas foram as vezes que Ieda ligou para o Poder Público solicitando a colocação de redutor de velocidade e faixa de segurança. Entretanto, até o momento, os pedidos não foram atendidos e a situação segue do mesmo jeito. “Tem as crianças do bairro Eucaliptos que sobem ali pela escadaria para estudar na Fenavinho e não tem (segurança). Tinha parada de ônibus aqui na frente, mas tiraram e nunca mais colocaram. Então, estamos abandonados”, desabafa.
Outra necessidade apontada pela moradora é quanto a construção de um acostamento. “Olha o espaço que tem para passar com uma criança de colo. Não dá para circular com um carrinho de bebê. As mães sobem por aqui para levar na creche que fica no Vila Nova, fazem todo esse trajeto a pé, mas ali na curva tem que pegar no colo, não tem onde caminhar, não dá”, relata.
A dona de casa, Alexandra de Castro, reside na rua Aristides Bertuol há 23 anos. De acordo com ela, o trecho sempre foi movimentado, mas tem piorado com o passar dos anos. A residência da família, inclusive, já sofreu com isso. “Na minha casa já caíram quatro veículos, nenhum deles veio prestar ajuda, arrumar o que estragaram, nada”, conta.
Por conta disso, ela tem a mesma opinião da vizinha. “Acho que antes de construírem a terceira pista, tem muitas coisas para fazer. Pedimos para colocarem um guard rail (grade de proteção metálica, geralmente utilizado nas margens de estradas com grande fluxo de veículos, como medida de segurança), mas ficam empurrando de um dia para o outro. A parada de ônibus das crianças, que era abrigo da chuva, foi tirada sem falar o porquê. Para atravessar a rua a gente demora uns 15 minutos”, expõe.
Motoristas são favoráveis
Quem não reside nas proximidades, mas utiliza o trecho, acredita que a construção de uma outra pista vai ser benéfica para que o trânsito flua melhor. É o caso do mecânico de bicicleta, Andrei Tondo, 32 anos. “Passo por ali de três a quatro vezes por semana, de bike. É uma via muito importante. Uma terceira pista seria bacana para diluir o trânsito”, afirma. Entretanto, ele também é favorável a construção de um acostamento. “Seria muito bem vindo, pois já vi muitos pedestres e ciclistas andando por ali”, comenta.
O advogado Silvio Cardoso, 37 anos, percebe que o trajeto não está em boas condições, por isso, analisa a futura obra como positiva. “Está bem ruim, muitas irregularidades no asfalto. Em alguns horários a subida fica extremamente lenta por conta do alto fluxo de veículos. A terceira faixa vai ajudar bastante. Acredito que a comunidade será beneficiada pela melhoria do tráfego e facilidade no deslocamento”, opina.
O coordenador de marketing, Fábio Prina da Silva circula diariamente pela Aristides Bertuol. Para ele, utilizar a via é muito difícil, principalmente em alguns períodos do ano. “Em especial na época da safra da uva, ou quando tem veículos pesados, como caminhão do lixo ou transportes de combustíveis e concreto”, afirma.
Por isso, Prina acredita que outra pista neste trecho vai melhorar a trafegabilidade. “O sentido de quem entra na cidade é frequentemente congestionado, aliviaria e muito o fluxo”, avalia.
Entretanto, ele também é favorável a construção de um acostamento, principalmente para melhorar a segurança de quem mora nos arredores da rua. “É um local de parada de ônibus, de passeio de pedestres e ciclistas. Além disso, é importante que se pense também em locais para estacionamento para os moradores do local”, aponta.
Detalhes da futura obra
De acordo com a diretora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB), Melissa Bertoletti Gauer, a obra deve começar assim que superadas as etapas do processo licitatório e que for emitida a ordem de início. A previsão é que o edital seja aberto na quinta-feira, 7 de abril.
A obra vai ser de 900 metros, a partir da entrada do bairro Eucaliptos. Serão duas pistas, com 3,20 metros e uma com 3,60 metros. “Será utilizada a faixa da via existente e em alguns trechos será feita a escavação do talude para o alargamento. Além disso, será realizada drenagem, pavimentação asfáltica e pintura”, detalha.
Questionada se vai ser construído um acostamento, visando a segurança de moradores, pedestres e ciclistas, a profissional afirma que não. “Devido ao pouco espaço existente em alguns trechos, não terá. Lembrando que o passeio existente no lado das residências permanece e em alguns trechos faremos um alargamento para a ciclovia”, conclui.