Fundação Getúlio Vargas indicou expectativa de aumento de 4,8% ao ano. Apesar de recuo no início da pandemia, setor retomou nível de vendas, e, segundo o presidente da Ascon Vinhedos, demanda deve subir ainda mais
O fato de que Bento Gonçalves vem crescendo a cada ano, não é dúvida para ninguém. É só olhar para o alto e se deparar com inúmeras edificações sendo erguidas dia após dia. Assim como muitos outros segmentos, a construção civil paralisou por cerca de 15 dias no início da pandemia da Covid-19. O que era para ser um dos setores mais atingidos, começou 2021 com expectativa de crescer 4,8% no ano, influenciada, principalmente, pelo crescimento da indústria de transformação e da construção civil, e de expansão de 5% nos serviços, segundo dados do boletim da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentado em julho deste ano.
O presidente da Associação das Empresas da Construção Civil (Ascon – Vinhedos), Milton Milan, menciona que a demanda apresentou um pequeno recuo de curto prazo, porém, o cenário foi modificado. “Isso ocorreu em função da dúvida das pessoas sobre o que iria acontecer em razão da pandemia, se muitas morreriam, entre outros fatores. A construção civil teve queda. Depois, retomou o nível de vendas. Com as condições de financiamento passando a apresentar juros atrativos, fez com que mais apartamentos fossem vendidos durante a pandemia. Desta forma, o viés é positivo e acreditamos que a demanda ainda irá crescer”, prevê.
Milan é enfático ao afirmar que o setor está teoricamente em alta, sendo um dos que mais que mais emprega mão de obra e movimenta outras indústrias. Há contratos, contudo, que, em função das altas de muitos materiais, tiveram que ser cancelados. “Algumas empresas captaram recursos antes, prometendo a entrega, que está mais cara, pois existe um acréscimo de preços nos insumos. Então, a maioria dessa que possui obras em andamento, está sentindo que pode ter problemas, mas sem a certeza ainda”, pondera.
Construtoras estão investindo não somente na área central da cidade, mas percebe-se um deslocamento para outras regiões. “Estas obras não estão concentradas em um único bairro, o que é muito bom, porque as pessoas que gostam de local onde moram veem a oportunidade de comprar um apartamento em mais de um prédio até. A qualidade das construções está cada vez melhor. O programa Minha Casa, Minha Vida (atual Casa Verde Amarela) desacelerou um pouco, parece que vai ter outro nome em futuro breve. Sendo assim, acreditamos que está bem equilibrada a questão das construções e os locais onde estão sendo construídas. Estamos aguardando os resultados do Censo Imobiliário para novembro, a fim de ver o que exatamente aconteceu em termo de números”, sublinha.
Desde os últimos meses de 2020 até hoje, 75% de equipes estão trabalhando no canteiro de obras. “Possivelmente vamos colocar mais pessoaas para trabalhar, sem problemas na questão de prazos. Aqueles fatores iniciais, após o aprendizado, conseguimos implantar melhorias para todos, inclusive para obra”, prevê.
De que forma a inflação afeta o setor?
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) registrou inflação de 1,89% em julho deste ano. A taxa apresentou uma queda em relação à de junho (2,46%), mas teve alta na comparação com julho de 2020 (0,49%).
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sinapi acumula taxas de 13,49% no ano e de 22,6% em 12 meses. Com isso, o custo nacional da construção por metro quadrado, que em junho havia fechado em R$ 1.421,87, passou em julho para R$ 1.448,78, sendo R$ 853,03 relativos aos materiais e R$ 595,75 à mão de obra.
Milan comenta que a inflação impacta nos custos da construção que tiveram um acréscimo acelerado durante a pandemia. “O que se apresenta como motivo é a alta da demanda mundial por insumos como aço, alumínio e vidro, entre outros. Houve também a falta de plásticos e de tintas, que são importados de outros países. Esse acréscimo nos insumos refletiu no aumento do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), porém não condiz com a realidade. Esse aumento, que teve um acréscimo forte há cinco meses, só gerou um descontentamento nos compradores, pois não tiveram o poder aquisitivo com a mesma velocidade de incremento, inclusive alguns não tiveram reajustes salariais. Por outro lado, 1,5% que subiu mensalmente no INCC neste período, não refletiu a alta do aço que foi de mais de 100% ou do alumínio que foi de mais de 80%”, esclarece.
Ainda segundo ele, o aumento excessivo reflete dois pontos estratégicos: na venda, onde o comprador não está conseguindo pagar, principalmente nos grandes centros; e na compra dos materiais pelos construtores. “Se eles conseguirem repassar esses custos em seus contratos de venda, ótimo. Senão terão de entrar na margem de lucro das incorporações para suprir essa falta de dinheiro”, observa.
Impacto dos insumos
A falta ou o alto custo de matéria-prima continua sendo o principal problema enfrentado pelos empresários da construção pelo quarto trimestre consecutivo, para 55,5% dos pesquisados na Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Desde o terceiro trimestre de 2020, o setor vem sentindo os efeitos do aumento expressivo nos custos dos seus insumos.
O problema, no entanto, não deve persistir por mais tempo, tranquiliza o presidente da Ascon. “Os prazos de entrega se dilataram e, aparentemente, agora estão tomando um rumo de tranquilidade. Esse é o caso do aço, por exemplo, que há seis meses estava escasso no mercado e não tínhamos certeza da entrega e nem do preço. Hoje, já percebemos que muitos fornecedores estão entrando em contato querendo agendar horários para continuar as vendas, que normalmente aconteciam em seus prazos determinados, e com o viés de estabilidade no preço. A princípio, esta é a tendência”, analisa.