O Junho Violeta é uma campanha de conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa, com o objetivo de alertar a sociedade sobre os direitos e a importância do combate a todas as formas de maus-tratos a esse grupo. O mês de junho foi escolhido para destacar essa campanha, que também inclui o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, que foi celebrado no último domingo, 15 de junho.
De acordo com Maria das Graças, presidente do Conselho Municipal da Pessoa Idosa (COMUPI), o conselho desempenha um papel fundamental na proteção dos idosos. “Atuamos como orientadores na prevenção e combate à violência, com campanhas educativas que detalham os tipos de agressão — como física, psicológica, financeira, abandono e negligência — por meio da confecção e distribuição de materiais informativos”, explica.
Vulnerabilidade e o desafio da subnotificação
A população idosa é um grupo bastante vulnerável, não apenas pelas limitações físicas naturais do processo de envelhecimento, mas também pelas relações de dependência familiar, perda de autonomia e até mesmo por preconceito. “Estamos elaborando um diagnóstico de violências contra a pessoa idosa para tomarmos conhecimento da real situação, pois sabemos que há grande número de subnotificações de violências. Isso ocorre porque, às vezes, a pessoa idosa é agredida física ou verbalmente por filhos, netos, companheiros e não quer denunciá-los, e assim ficamos sem saber a real situação das violências”, salienta a presidente.
Na sociedade, a violência contra as pessoas mais velhas assume várias formas e, em alguns casos, há uma dificuldade do idoso em se perceber em situação violenta causada por familiares ou por alguém do seu convívio.
Rede de proteção em Bento Gonçalves
Em Bento Gonçalves, COMUPI desempenha um papel crucial na rede de proteção aos idosos. Conforme Maria das Graças, a articulação com diversos órgãos é fundamental para enfrentar as denúncias de violência. “O COMUPI aborda as violências denunciadas, principalmente com a Secretaria da Assistência Social, o setor de atendimento à pessoa idosa e Centro de Referência da Mulher que Vivencia Violência (REVIVI), onde as idosas fazem a denúncia da violência. Conversamos também com as delegacias, a Secretaria da Saúde e o SAMU”, conclui Maria.
A presidente do conselho destaca as modalidades mais frequentemente denunciadas na cidade:
- Violência física: agressões que causam dano corporal ao idoso;
- Abandono: ausência ou omissão de socorro por parte dos responsáveis ou de pessoas obrigadas a prestar assistência;
- Negligência: recusa ou omissão de cuidados básicos e necessários à saúde e bem-estar do idoso;
- Violência patrimonial: Caracteriza-se por roubos, extorsões, apropriação indébita de bens, valores ou rendimentos do idoso. Maria ressalta que essa modalidade é “principalmente cometida por familiares que vendem os bens e tomam o dinheiro da pessoa idosa, deixando-a viver de favores”.
Medo
Apesar dos esforços das campanhas e do conselho, há ainda uma barreira que afeta as denúncias contra violência aos idosos: o medo. “Um problema encontrado é que a pessoa idosa às vezes fica com medo de denunciar o agressor por se tratarde um familiar, e assim ficamos sem saber a real situação. Normalmente é o vizinho ou a pessoa que conhece o idoso quem denuncia”, explica Maria.
Educação e mobilização
Para conscientizar a população sobre as violências contra a pessoa idosa em Bento Gonçalves, o COMUPI investe na produção e distribuição de materiais educativos. “Mandamos confeccionar cartilhas que abordam os tipos de violência, golpes de internet e o Estatuto da Pessoa Idosa, com artigos que tratam especificamente da violência. Esse material é distribuído principalmente entre a população idosa, na tentativa de mostrar o que é a violência e incentivar a denúncia”, explica.
Dados
O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania registrou impressionantes 408.395 denúncias de violência contra idosos. O ano de 2023, em particular, marcou um salto preocupante, com quase 50 mil ocorrências a mais do que no ano anterior.
Nos primeiros seis meses de 2024, o Ministério já contabilizou mais de 74 mil queixas, superando as 65 mil do mesmo período em 2023. O ritmo de crescimento é assustador: nos primeiros três meses de 2025, o Brasil testemunhou um aumento vertiginoso de 140% nas denúncias em comparação com o ano anterior. Esses dados indicam uma tendência de alta que exige atenção imediata.
Para fortalecer as ações e garantir a proteção dos idosos, a comunidade pode contribuir de duas formas principais:
- Participação ativa em campanhas: engajamento e promoção, em conjunto com o Conselho Municipal da Pessoa Idosa (COMUPI), de campanhas de conscientização que visam informar e mobilizar a população sobre a importância de combater todas as formas de violência.
- Atenção e denúncia: permanecer atento aos sinais de violência, sejam eles físicos, psicológicos, financeiros, de abandono ou negligência, e denunciar os casos às autoridades competentes. A colaboração da comunidade é essencial para que os casos de violência não permaneçam invisíveis e para que as vítimas recebam o apoio necessário.
Como denunciar
É crucial que a população saiba onde buscar ajuda e denunciar casos de violência contra pessoas idosas em Bento Gonçalves. Além das instituições parceiras, existem canais de contato direto para denúncias:
- 190 (Brigada Militar);
- 153 (Guarda Civil Municipal);
- 192 (Emergência SAMU);
- 100 (Disque Direitos Humanos).
Futuro do Conselho
A presidente do COMUPI de Bento Gonçalves compartilha a visão do conselho para o futuro, destacando o papel estratégico da entidade nos próximos anos para assegurar a proteção e o bem-estar dos idosos. Ela detalha as ações planejadas:
- Elaborar um diagnóstico para entender e atender melhor esse público;
- Encaminhar denúncias aos órgãos competentes, garantindo que a violência seja combatida;
- Promover atividades intergeracionais, facilitando a convivência e o aprendizado entre jovens e idosos;
- Oferecer orientação jurídica para idosos e suas famílias;
- Realizar o encaminhamento a serviços de saúde e atendimento psicológico, essencial para que as vítimas recebam apoio no enfrentamento da violência ou de sofrimentos emocionais.