Pode parecer preguiça – e talvez até seja – mas é acima de tudo respeito e admiração por ideias, conceitos, argumentos bem desenvolvidos, que não orbitam apenas na horizontalidade líquida da Internet, onde tudo é imediato, instantâneo e, muitas vezes, fatal. Refiro-me a citações de alguns autores, e já começo com David Coimbra, que caracteriza as redes sociais como “a salvação das almas miseráveis, que vão para a internet como crianças que descobrem o revólver escondido em cima do guarda-roupa dos pais e descarregam suas mágoas em cima do primeiro incauto e, assim, se aliviam”.
É raro encontrar uma discussão de ideias – não uma disputa de egos – que permita o exercício do pensamento, admitindo a diversidade de óticas, um debate sem insultos e agressões, com a possibilidade do surgimento de novas ideias. Por isso, como já disse, neste primeiro dia do ano de 2018, transcrevo algumas opiniões, desejos, idealizações, que vão além da superfície e que merecem ser, no mínimo, (re)lidas.
Marta Medeiros, ao esclarecer uma confusão semântica de duas expressões – “ao encontro de” e “de encontro a” – faz votos “que 2018 seja um esplendoroso ‘ao encontro de’ um ideal comum, de uma sensatez administrativa, de uma visão pluralista e de uma consciência social que beneficiará a todos”… e “não um indesejado ‘de encontro a(o)’… que é colisão, conflito, choque, obstrução de caminhos…”
Já a escritora Clara Averbucck vai mais fundo. Fala de seu cansaço pelo atual estado de coisas… pela “perda de direitos, falta de dinheiro, precarização do trabalho, violência, violência, violência”… Diz que… Bom, vou passar a palavra a ela:
“Nesta semana, a BBC fez um matéria sobre gordofobia. Gordofobia é o preconceito contra pessoas gordas, que são estigmatizadas como preguiçosas, desleixadas, loucas por comida, que não conseguem conviver em cidades que deveriam comportar todos os corpos. Isso se chama acessibilidade. É acessível uma cidade onde uma pessoa não consegue passar na catraca de um ônibus? Não consegue caber numa cadeira? Magreza não é sinônimo de saúde, e gordura não é sinônimo de doença. E é esse estigma que deve ser quebrado. A matéria foi muito bacana. Aí, é claro, o humorista mais babaca do Brasil, cujo nome eu me recuso a citar, resolveu fazer piada com isso. Muito engraçado fazer piada com gordo, com preto, com mulher, nossa, que moderno, que revolucionário, minha nossa. Nem Ary
Toledo riria disso hoje em dia, mas ele segue lá, atacando minorias. Sim, atacando. Não, não é ‘só uma piada’ quando ela reforça estereótipos que dificultam que essas pessoas vivam com dignidade. O humor é uma arma poderosíssima, tanto de mudança quanto de manutenção de preconceitos e opressões, e é isso que esse senhor faz”.
Vale refletir também sobre o texto polêmico do jornalista Paulo Germano, que diz que “A sinceridade é cruel. A sinceridade machuca, humilha e maltrata, especialmente quando o outro não quer a verdade. É um direito, aliás, não querer a verdade.”
E para finalizar – não por falta de boas reflexões, mas de espaço – vai o refrão mais cantado nas últimas décadas e menos assumido pelas pessoas: “Prefiro ser/ essa metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”
Você pode discordar, mas não grite! Argumente.