No coração da vibrante Bento Gonçalves, onde a fé se entrelaça com a rica cultura local, a comunidade católica do bairro São Bento passa por um significativo processo de revitalização. Movidos por um profundo senso de zelo e pela convicção de que o espaço de culto é um reflexo da devoção ali professada, os fiéis se uniram em um esforço notável para restaurar e aprimorar seu lar espiritual.
Desde os primórdios do cristianismo, a arte sempre desempenhou um papel crucial na expressão da fé e na vida comunitária. Como bem observa o padre Miguel Mosena, dedicado vigário da paróquia Cristo Rei que acompanha de perto os trabalhos na comunidade São Bento: “Desde os primeiros séculos, os cristãos sempre usaram da arte, seja a pintura, a escultura, a escrita, a música, para manifestar sua fé em Cristo e viver na comunidade cristã, num lugar específico para o culto (sejam nas casas das pessoas até os capiteis, igrejas e grandes basílicas) o que professam com o coração para a plenitude de suas vidas. E não é diferente nas comunidades cristãs católicas de Bento Gonçalves”, afirma.

Essa profunda conexão entre fé e expressão artística impulsionou a comunidade São Bento a encarar a reforma não apenas como uma necessidade estrutural, mas também como uma oportunidade de aprofundar a experiência religiosa através da beleza e do simbolismo. A identificação de problemas como infiltrações de água provenientes dos vitrais, consequência do próprio formato da edificação, e a deterioração do piso de madeira causado pela umidade e pela ação do tempo, foram os catalisadores iniciais desse movimento de renovação, explica Mosena. A motivação para a pintura interna da igreja reside em um propósito catequético fundamental: utilizar a arte como uma ferramenta poderosa de evangelização. “As pinturas estão ali não apenas para embelezar o templo ou por capricho, mas porque têm uma teologia por trás para melhor viver o Mistério a ser ali celebrado”, explica o padre, ressaltando a profundidade do significado que cada traço e cor carregam para a compreensão e vivência da fé.

O planejamento dessa abrangente reforma iniciou-se ainda em 2024, a partir de um diálogo frutífero com o Conselho Comunitário de Pastoral. Esse órgão, composto por diversas lideranças leigas da comunidade, catequistas, equipe administrativa, zeladoras de capelinha, membros da liturgia e da conservação patrimonial, secretário e ministros da eucaristia, desempenhou um papel crucial na identificação das prioridades e na definição do escopo das obras. “E, como toda reforma, quando se começa a mexer numa coisa, já aparecem outras duas pelo menos para serem consertadas e, assim, não precisar remendar depois, o que tornaria tudo mais caro para a comunidade”, pondera o padre.
Diante desse cenário, a comunidade estabeleceu uma ordem clara de execução para as melhorias: inicialmente, o reparo do telhado, seguido pela manutenção dos vitrais, a revitalização do piso interno, a execução das pinturas sacras e, por fim, a modernização da iluminação interna e externa. Essa estratégia visou otimizar os recursos e garantir a durabilidade das intervenções, como explicou Mosena.

Para a comunidade São Bento, cuidar do espaço da igreja é um ato intrínseco à própria vivência da fé. “A comunidade sempre é que nem a casa da gente, sempre precisa ser cuidada para bem se viver. Não se pode deixar deteriorar”, afirma o padre, sintetizando o sentimento que move os fiéis.
O objetivo primordial dessa iniciativa é a preservação do espaço para as atividades que lhe são próprias. “O objetivo da reforma é para a manutenção do espaço e para que ele continue a ser o que já é: para as liturgias, as missas e celebrações da Palavra da comunidade, catequese e, algo que sempre foi um marco desde que foi edificada na década de 1980, um espaço para a realização de Matrimônios (o que percebemos que vem crescendo nos últimos anos)”, destaca o vigário. Uma das pinturas que adorna a entrada principal da igreja retrata, significativamente, a cena bíblica do primeiro milagre de Jesus nas Bodas de Caná da Galileia, sublinhando a importância dos laços familiares e da celebração na vida da comunidade.




Ampliando seus horizontes, a comunidade São Bento almeja que seu espaço se torne também um palco para manifestações culturais da cidade, como concertos sacros, enriquecendo ainda mais a vida da comunidade local, e a vivência turística do espaço.
O custo total da obra foi 160 mil reais. Desse montante, 40 mil foram destinados às pinturas, 70 mil à manutenção dos vitrais, e o restante cobrindo os demais investimentos. “A origem do recurso financeiro não vêm de verba pública e nem da Diocese. É a própria comunidade que arrecadou através da Festa de São Bento que ocorreu em julho, da Rifa da festa e de doações particulares dos fiéis e turistas”, enfatiza o padre Miguel.




Os benefícios dessa revitalização transcendem a mera estética ou a solução de problemas estruturais. Eles se manifestarão a longo prazo, proporcionando um espaço mais acolhedor e adequado para o cultivo da espiritualidade dos fiéis e também dos turistas que visitam a edificação. “Os benefícios, creio que sempre se colhem a longo prazo, um espaço adequado e mais aconchegante onde os fiéis possam cultivar sua espiritualidade, bebendo da tradição e do exemplo de São Bento que foi um grande santo da história da Igreja e muito contribui para a edificação de todo o Ocidente através dos mosteiros e de sua Regra”, reflete Mosena.
“Queremos continuar a ser uma comunidade acolhedora, formadora, que anuncia uma Boa Notícia à cidade e aos que nos visitam: que Cristo, o Cordeiro imolado, nos ama e dá pleno sentido às nossas vidas.”
Ao final desse significativo processo de renovação, não haverá uma celebração específica de entrega das obras. A missa festiva em honra a São Bento, em julho, será o momento em que a comunidade, unida em sua fé e em seu esforço, celebrará a conclusão dos trabalhos e entregará à cidade um espaço renovado, pronto para continuar a ser um centro de fé, cultura e acolhimento por muitas gerações.