Moradores da comunidade 8 da Graciema, do Vale dos Vinhedos, se manifestaram na tribuna da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, em audiência pública sobre o Plano Diretor, para reivindicar a possibilidade de explorar as terras de forma mais livre, na noite de quinta-feira, 14. O argumento dos moradores é de que suas atividades basicamente se restringem à agricultura, enquanto em regiões próximas é permitida a construção de condomínios.
A expectativa da comunidade local é de que a emenda 189, do vereador Eduardo Virissimo (PP), seja aceita pelos demais parlamentares. O texto proposto pelo edil aumenta para o leste a delimitação de aglomerado funcional, o que abrange a comunidade 8 da Graciema.
De acordo com o morador Rodrigo Brandelli, cerca de 40 famílias da região pedem a modificação. “Não tem mais como investir nas parreiras, está muito difícil sobreviver da agricultura. Eu, por exemplo, estou tendo que trabalhar como motorista”, expõe.
Ele comenta ainda que o Vale dos Vinhedos está sendo abandonado, vist0 que os moradores têm poucas possibilidades além do cultivo das videiras. “O vizinho tem uma vinícola e compra a uva de fora, ele abandou as parreiras. Isso está acontecendo com frequência no Vale dos Vinhedos”, ressalta.
Ainda na opinião de Brandelli, as restrições aplicadas à região são uma estratégia para baixar o preço dos hectares e os interessados comprarem por um valor menor. “Querem adquirir nossas terras e pagar pouco. Eles fazem isso para o preço cair”, reitera.
Para o vice-presidente da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Avelino Zanetti Filho, a base do desenvolvimento regional são os produtores rurais, uma vez que toda a cadeia vitivinícola só existe em função do agricultor. “Existem leis bem específicas no Vale dos Vinhedos, as famílias podem fazer condomínios familiares”, ressalta. Além disso, Zanetti afirma que é necessário preservar a identidade do lugar.
Sobre a questão das vinícolas não comprarem a uva dos produtores, levantada pelos moradores do 8 da Graciema, o vice-presidente aponta que há como reverter a situação. “É necessário questionar porque não compram a uva. Tem casos em que a vinícola ajuda a implantar o vinhedo, isso contribui para que jovem produtor fique no interior”, ressalta.
A emenda
Virissimo, que propôs a emenda, explica que o aglomerado funcional possibilita a formação de lotes maiores e de dividir os terrenos. “Essa proposição a gente fez para ajudar os moradores que estão ali, uma necessidade que apontaram para nós”, ressalta.
Ele afirma que há um grande receio em modificar o local, por ser um atrativo vitivinícola. Em função disso, o parlamentar aponta que buscou apoio técnico para definir diretrizes de preservação. “O texto remete ao artigo 74, que regra o Vale dos Vinhedos. Para manter o equilíbrio entre ajudar a comunidade e preservar o local”, afirma o vereador.
Emenda que ameaça bacia de captação é arquivada
Após esclarecimentos do Complan, o vereador Gilmar Pessutto (PSDB) arquivou a emenda 109, que previa incentivos para a instalação de indústrias na região da bacia de captação do Barracão. A Associação Ativista Ecológica (Aaeco) e Conselho do Meio Ambiente se manifestaram contra a medida.
Segundo o secretário geral da Aaeco, Gilnei Rigotto, se a medida fosse adicionada ao Plano Diretor, o risco de poluir ainda mais a bacia de captação aumentaria. “Nós defendemos que não seja feita nenhuma mudança que impacte nessa área, pelo menos até estarem efetivadas as primeiras estações de tratamento”, reitera. Ele afirma que qualquer acidente pode resultar em um problema ainda mais grave para o município.