Evento reuniu centenas de pessoas na Igreja Redonda e no CTG Laço Velho, reforçando a devoção ao santo e anunciando planos para uma nova sala de catequese
Sob o lema “Rever e aprender com São Bento”, a 33ª edição da Festa de São Bento reuniu fiéis e moradores do bairro Planalto neste domingo, 13 de julho, em Bento Gonçalves. A celebração iniciou com uma missa festiva na Igreja São Bento, conhecida como Igreja Redonda, e seguiu com um almoço de confraternização no CTG Laço Velho. Além de reunir centenas de pessoas em torno da fé e da convivência comunitária, o evento anunciou um novo projeto: a construção de uma sala de catequese ao lado da igreja, com apoio da Prefeitura.

A missa foi celebrada pelo padre Miguel Mosena, da Paróquia Cristo Rei, que destacou a importância do legado deixado por São Bento. “Ele começou a perceber que Roma estava muito barulhenta, muito saturada, e por isso se refugia nas montanhas. Ali inicia a tradição monástica de uma vida de oração e trabalho manual. São Bento nos ajuda a viver de forma plena, com propósito firme”, afirma o sacerdote. Para Mosena, o santo representa um convite à interioridade e à simplicidade: “A gente corre para lá e para cá, mas São Bento ensina a qualificar nossas ocupações e a valorizar momentos de silêncio e de oração”, destaca.
Mais do que um templo religioso, a Igreja São Bento também é um marco arquitetônico e afetivo do bairro. Erguida no antigo campo de aviação, sua estrutura metálica foi doada pela empresa Bertolini em 1984. O projeto estrutural foi calculado voluntariamente pelos engenheiros Fernando Bransalise e Achiles Pizzetti. “Foi um trabalho que fiz com muito carinho. Hoje, ver a igreja viva e ativa me enche de satisfação”, conta Bransalise.
A forma redonda da igreja, que lembra uma pipa de vinho, é outro elemento que a torna símbolo turístico da cidade. “A gente acompanhou a construção. Hoje é um ícone, mas antes era um bairro mais residencial. Agora, com a rua gastronômica, o comércio tomou espaço”, comenta a festeira Marisa Dalcin.
Organização que atravessa gerações

Os festeiros de 2025, Juvenal e Marisa Dalcin, Leandro e Márcia Gaieski, e Roberto Lago e Elisabeth Lago Pelizzari, estiveram à frente da organização do evento, que envolveu dezenas de voluntários e empresas parceiras. Segundo Lago, os preparativos começaram em janeiro, com reuniões periódicas para definir todos os detalhes, desde ingressos até o cartaz e os brindes do rifão. “Vendemos cerca de 650 ingressos, estamos muito satisfeitos. A rifa também está indo muito bem e vai nos ajudar na construção da sala de catequese”, relata.
Para Lago, ver o evento acontecer com sucesso é motivo de orgulho. “A missa, o tríduo, a comida, tudo deu certo. Ninguém ficou sem lugar, foi tudo bem organizado. Isso nos dá uma alegria enorme”, declara. Ele também revela que sua ligação com a comunidade cresceu nos últimos anos. “Sempre fui devoto, mas agora, participando mais da comunidade de São Bento, me sinto ainda mais envolvido”.
Fé, memória e pertencimento
Uma das figuras centrais na festa é Fernando Pedro Bransalise, atual presidente da comunidade. Mesmo morando no bairro São Francisco, ele se integrou à organização após ser convidado por uma moradora local. “Começamos como festeiros em 2019, e em 2024 fui escolhido presidente. Temos uma comissão ativa, com pessoas que contribuem há muitos anos, como o senhor Ari Trevisan, o Panizzi, o Tasca e o Santa Lúcia”, explica.
Segundo Bransalise, a arrecadação deste ano teve um bom desempenho, incluindo a doação de 300 garrafas de vinho feitas por Antônio Stringhini, da Adega da Serra. A festa também foi uma oportunidade para resgatar e valorizar a história da igreja. “Eu ajudei a calcular a estrutura da Igreja São Bento em 1983, junto com o engenheiro Achiles Pizzetti. Foi um trabalho voluntário que fiz com carinho. Hoje, ver essa igreja ativa e viva me enche de satisfação”, diz.
Ele destaca ainda as melhorias recentes no templo, como quatro novas pinturas sacras feitas por um artista de Osório. E projeta o futuro: “Nossa meta agora é construir uma sala de catequese com espaço para reuniões e venda de artigos religiosos, já que a legislação não permite mais comercializar dentro da igreja”, explica.
Parceria de longa data

A festa contou, mais uma vez, com o apoio do CTG Laço Velho, que cede seu espaço há mais de 30 anos para a realização do evento. O patrão da entidade, Sérgio De Toni, que também já foi presidente da comunidade São Bento, explica que a parceria é sólida e vantajosa para ambas as partes. “Eles não têm salão próprio, então fazemos juntos. A comida é servida aqui, eles vendem os ingressos, e dividimos os lucros. Funciona muito bem”, pontua.
De Toni também vê na festa uma oportunidade de dar visibilidade ao CTG e de atrair novos públicos. “As pessoas vêm para o almoço e acabam conhecendo nossa estrutura. É uma alegria muito grande fazer parte disso. Sou muito devoto de São Bento e sempre me emociono ao ver a festa acontecendo com tanta participação”, completa.
Este ano, a conexão entre o CTG e a festa se intensificou ainda mais com a participação de Leandro Gaieski, que além de festeiro é também vice-patrão do Laço Velho. “A parceria deu tão certo que já tem festeiros que vão colaborar também no ano que vem”, revela De Toni.
Devoção que atravessa o tempo

Uma das festeiras mais entusiasmadas, Marisa, compartilha que a fé em São Bento é uma tradição familiar. Moradora do bairro há 43 anos e nascida justamente no dia 11 de julho, data do santo, ela afirma que a religiosidade está no sangue. “Sou devota desde pequena. Acompanhei a construção da igreja e sempre participei da comunidade. Hoje, ver essa festa se realizando aqui, com nossos amigos e familiares, é uma grande alegria”, expressa.
Para ela, o novo projeto de construção é essencial para a comunidade. “Hoje, as crianças fazem a catequese dentro da igreja, juntando cadeiras. As reuniões da comunidade também precisam ser feitas no CTG. Com essa nova sala, teremos um espaço adequado para as atividades da igreja e da catequese”, acredita.
O novo espaço contará com uma sala de catequese, uma sala para reuniões comunitárias com banheiros e ainda um ponto de venda de artigos religiosos, uma exigência atual da legislação, que não permite mais comercializar dentro das igrejas. A área já foi cedida pela Prefeitura, por se tratar de uma praça pública, e a expectativa é lançar a pedra fundamental ainda este ano.
Para viabilizar o projeto e também cobrir os custos das novas pinturas sacras, a comunidade lançou uma rifa com sorteio marcado para o dia 8 de novembro. Os bilhetes são vendidos por R$10 (R$100 o talão), e os recursos arrecadados também ajudam a quitar os mais de R$40 mil investidos na ornamentação do templo.
Propósito que une gerações
A Festa de São Bento é mais do que um evento religioso: é um símbolo de identidade, memória e esperança para a comunidade, ela representa um esforço coletivo, voluntário e contínuo para manter viva a tradição e responder às necessidades atuais.
Como resume o padre Mosena, “às vezes, a gente vê só o templo físico e esquece que aqui vive uma comunidade de fé, que celebra, se encontra e transforma a vida em algo que lembra o céu”, aponta. E é justamente essa espiritualidade encarnada no cotidiano que transforma a festa em algo maior: um momento de comunhão, partilha e construção coletiva do bem comum.