Inverno deste ano influenciou de forma positiva para a produção da fruta. Agora, produtores esperam que chova nas próximas semanas, para garantir também a qualidade
Todo agricultor é refém das condições climáticas. Para os produtores de pêssego, muito cultivado em São Pedro, interior de Bento Gonçalves e em Pinto Bandeira, o inverno deste ano colaborou para uma safra positiva, já que fez boas horas de frio. Contudo, como a fruta precisa de água, esperam que, dentro da média, chova nas próximas semanas. Ainda assim, os produtores avaliam com bons olhos os resultados, tanto em quantidade quanto em qualidade.
Para o agricultor Ivandro José Lerin, 48 anos, o trabalho nunca para. Em São Pedro, onde reside, são aproximadamente 120 dias de colheita por safra. Em 2020 foram 115, mas este ano começou um pouco mais cedo. “As primeiras frutas, embora não em volumes comerciais, mas para consumo, foram colhidas no dia dez de setembro. Hoje, já estamos há dois meses com produção”, conta.
Lerin é dono de uma das propriedades que mais produz variedades de pêssego em todo Brasil. Ao todo são cerca de vinte. Ano passado, a família colheu 145 toneladas da fruta. “Devido a topografia da nossa propriedade, nessa área de cultivo, a gente consegue privilegiar esse patamar de produção”, afirma.
Esse ano, entretanto, o agricultor prevê que a quantidade será menor, pois algumas variedades que estavam apresentando problemas de doenças, foram erradicadas. Além disso, algumas delas foram renovadas, para melhorar a qualidade das que tem maior potencial.
Expectativa
Embora acredite ser complicado fazer uma avaliação neste período, Lerin acredita que a safra vai ser positiva. “Tivemos um inverno muito bom, com boas horas de frio, com isso, houve uma fecundação muito boa de gemas, então temos uma produção grande”, aponta.
Por outro lado, alguns pomares mais antigos foram erradicados, diminuindo a quantidade de produção. “É difícil avaliar se o mercado vai ter muita ou pouca fruta e se vai ter qualidade. Depende do clima, do tempo. Se tratando de fruta e cultura é complicado antecipar”, garante.
Contudo, em comparação com a safra passada, a perspectiva é que a deste ano seja melhor em qualidade. “A gente vem de dois anos de estabilidade de produção, devido ao clima, então a tendencia é ter uma safra praticamente igual à do ano passado, em quantidade. A qualidade acho que vai ser superior, porque tivemos mais horas de frio, que ajudam a dar menos doenças na planta, consequentemente, usamos menos fatores químicos para ajudar a estabilizar”, afirma.
Questionado sobre como o tempo deve se comportar nas próximas semanas para que a safra seja boa, Lerin explica que o pêssego precisa de bastante água. “Principalmente no final, porque uma fruta que está com 50 gramas hoje, em três dias vai para 80, isso é só água”, esclarece.
Mercado consumidor
Praticamente toda produção da família Lerin vai para a região de Porto Alegre, onde geralmente é enviada um dia sim e outro não. Para garantir a qualidade até chegar no destino final, existe toda uma logística e muito cuidado. Geralmente a colheita é feita nas horas mais frescas do dia. Depois, a fruta vai direto para a câmara fria. “A fruta perde qualidade no momento em que começa a aquecer. A planta consegue estabilizar a temperatura, mas quando começa a aquecer, perde água e automaticamente perde sabor”, explica.
Por isso, quanto mais rápido uma fruta for tirada do pé e coloca em um ambiente frio, melhor. “Não é fácil esse processo. Com mão de obra familiar, se torna mais rápido e aí melhora a qualidade do produto final para o consumidor”, afirma.
Cenário em Pinto Bandeira
Em 2020, os agricultores de Pinto Bandeira sofreram com as geadas do inverno. Alguns tiveram grandes perdas. Entretanto, esse ano, o cenário está diferente. O produtor Osvaldo De Toni, 58 anos, que trabalha em sociedade com outras seis famílias do município, percebe a diferença. “Ano passado, alguns produtores perderam quase tudo e esse ano estão com safra boa, inclusive tenho dois associados que perderam 90% da safra e esse ano estão com ela cheia, por isso, para o nosso grupo vai ser bom”, diz.
O agricultor afirma que nesse ano, o tempo ajudou. “Teve chuvas necessárias, então o pêssego está bonito. Tomara que não dê nenhuma intempérie, porque enquanto não está colhido e vendido não temos garantia de nada”, alega.
De Toni produz uma média de 80 a 100 mil quilos. Dessa produção, 90% vai para São Paulo. “Como a gente tem uma sociedade aqui, classificamos e vendemos direto para lá, então não tem intermediário”, conta.
Quanto o consumidor final deve pagar no quilo do pêssego?
Lerin acredita que o pêssego vai estar acima dos R$5,00, porém, com qualidade excelente. “Já foi caro no passado, mas olhando hoje, no mercado, como os bens de consumo mais específicos subiram bastante, acho que esse preço vai ser administrado facilmente. Claro, nem todo consumidor vai ter esse patamar de compra, até por isso existem padrões de qualidade e o mercado tem frutas que variam até 50% desse valor”, aponta.
Por outro lado, De Toni acredita que o preço deva cair, já que neste ano, a produção é superior. “Ano passado o consumidor deve ter pago mais caro, porque tinha pouca produção. Em Pinto Bandeira, não deu nem 30% da safra, então o preço foi bom. Esse ano, Farroupilha, Caxias, Antônio Prado, estão com safra boa, vai ter muita oferta, já vi de arrancada que o preço está menor do que no ano passado”, afirma.
O agricultor projeta que o valor deve variar entre R$2,50 e R$3,00 por quilo. “Em 2020 chegou a uma média de R$4, acho que para chegar nesse preço, vai ser difícil, mas estando acima de R$2,20 já está bom. Menos do que isso, ficamos no prejuízo, pois todos os insumos aumentaram, tanto no pêssego quanto na uva”, defende.
Avaliação do sindicato
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, afirma que as principais dificuldades que os agricultores estão enfrentando é em relação a elevação dos custos. “Subiu muito, não só para o pêssego, como para todas as culturas agrícolas, a elevação dos custos dos fertilizantes, insumos, combustíveis”, avalia.
Em relação a expectativa do preço, Cedenir acredita que vai ficar dentro da média e espera que pelo menos seja possível fazer uma reposição das altas dos insumos. “Muitos não sabem no momento da entrega, para as câmaras frias principalmente, qual vai ser o preço. Para quem vende direto, o valor começou com R$5, R$6 o quilo, mas a tendência, agora, com a entrada de mais quantidade, é diminuir um pouco do preço, pelo menos é o que está sendo praticado aqui na nossa região”, finaliza.
Produção de bergamota
De Toni e os associados também trabalham com bergamota, em parceria com um grupo de Veranópolis. “A gente compra deles, estoca, beneficia, vende, tira uma margem de lucro e repassa para eles o resto, então não tem preço fixo”, explica.
Com o lucro das vendas, De Toni e as famílias integrantes da associação aproveitam para fazer investimentos no espaço de trabalho. “Esse ano fizemos 500 metros de asfalto aqui na frente, custou quase R$50 mil. Há dois anos, também colocamos placas de energia solar, porque os motores gastam muita energia”, conta.
A safra de bergamota este ano rendeu cerca de 200 toneladas. Agora, está na fase final. “Nos pés praticamente não tem mais nada. A safra é entre os meses de agosto e setembro, agora o que temos é o que estava em estoque, então em mais uma semana terminamos de embalar e vender o que temos aqui”, afirma.