Militância Médica e Hospitalar – I
Nessa pandemia, a direção, a equipe médica e de enfermagem do TACCHINI e da UPA viraram protagonistas marcados pela competência. Depois de uma parada estratégica em seus investimentos, “o Tacchini deverá dobrar de tamanho nos próximos cinco anos”, me confidenciou alto dirigente. Sobre o CORONA, ouvi que “está sob controle” dentro do modelar estabelecimento hospitalar, modelo inclusive de gestão com participação ativa dos Conselheiros.
Tacchinistas x Georgistas
O TACCHINI é uma das, senão a maior, instituição pública de Bento, embora restrita em seu acesso e gestão. Já enfrentei grandes desafios ao defendê-lo diante de interpretações e conceituações de conduta inapropriada ou irregular, muitas movidas por radicalismos e falsas premissas. O engraçado é que, desde pequeno, em BARRACÃO CITY, onde vivi até os 12 anos, ouvia meus familiares falar do Hospital Giorgi. Meu avô era Getulista e Giorgista, venerava Getúlio Vargas e o Dr. Beniamino Giorgi. Não faz muito tempo, com meus avós já falecidos, eu soube por um familiar, uma história assim: os Tacchinistas tinham um piquete e viviam perseguindo os Giorgistas, acho que vice e versa. Um dia um piquete Tacchinista “estacionou” seus cavalos em frente à casa do meu avô querendo saber onde estava escondido o “velho PACO”, Giorgista assumido e tido como “bandoleiro” mas, para alguns, o “Robin Hood” (roubava dos ricos para ajudar os pobres) na região. Foi um momento tenso, de muita pressão, mas como diria meu avô, “nichts getan” (nada feito). “Diz a lenda” ainda que, em certo tempo, na mesma época, minha avó Irene partia a meia-noite com uma “quentinha” para alimentar o PACO que estaria escondido numa caverna situada perto da entrada do Country Clube. “Se è vero è una storia fantástica”, concordam? Foi neste cenário “Barraconês” que eu vivi numa postura de criança “tô nem aí, tô nem aí”. Eu nasci assistido por parteira famosa do Barracão. Nos primeiros meses de vida, até dois anos talvez, eu lutava pela vida, minha mãe era uma guerreira, porém não tinha leite materno, e não tinha “papinha de nenê”. O Dr. Giorgi deu poucas esperanças, o medo rondava e as orações eram intensas. Um belo dia uma vizinha, com quem minha família tinha restrita, mas cordiais relações, visitou minha mãe e disse: “Zulma, dá essa criança pra mim uns dias que eu curo ela, tenho leite”. Ela era solteira e tinha leite, dádiva de Deus e o meu anjo da guarda veio para me salvar. Diz a “lenda” ainda que era poético me ver adormecido após mamar, naquelas tetas divinas do tamanho de uma melancia sem semente, deu para medir? Dez dias depois (me apanhava de manhã e devolvia fim da tarde) completou a missão e me devolveu para minha mãe, fofo, corado e com o vírus “sapeca”. Enfiar o dedo no bolo saído do forno, comer a mistura do bolo antes de ir para o forno, comer pão quente, tomar café com leite e biscoito na “mastela” (xícara grande) foi a minha iniciação. Lá pelos meus seis anos, não sei onde nem como, pisei num prego enferrujado e não dei bola. Mas a bola da infecção ia crescendo e eu andava pela casa como o Saci Pererê, tomando severa distância dos humanos. E meu avô “pentelhava”: “vamos lá no Dr. Giorgi curar isso”, vai ficar feio e perigoso. Quando ele começava a falar eu já havia desaparecido. Mas “água mole em pedra dura…” e, com a promessa de que não doeria (palavra de avô sempre é sagrada e confiável), lá fui eu após ser desenvolvida uma verdadeira operação de guerra para me colocar dentro da Barata Ford de meu avô com a perna para fora. Eu uivava de dor e ouvia minha vó Irene na janela dizendo “vá pianeto RICO el gá dolore povereto”. Imaginem, o vento me causava intensa dor, os buracos da carretera BARRACÃO CITY – BENTO, então chegamos no Hospital Giorgi. Na entrada, à direita, logo na esquerda havia uma salinha, dois por dois, mas equipada, me colocaram na maca com a assistência de duas possantes enfermeiras tipo a minha ama de leite. E eu, firme, confiança total no meu avô “não vai doer”. Aí veio o Dr. Beniamino, nunca vou esquecer suas palavras “má cosa ha com questo ragazzo? Ele olhou meu calcanhar direito com o qual eu tinha esperança de me tornar um craque no futebol e que estava, ele também, do tamanho de uma melancia sem sementes. Aí veio o inesperado, o Doutor disse para as enfermeiras “tenhê-lo lá e tenhê-lo quá”. Aí, não sou bobo, eu tinha tomado leite materno, senti o drama e chamei “vôoooooooooooooooooo!” Ele calado e eu pensando “minha vingança será maligna”. Uma enfermeira se debruçou sobre minhas pernas, a outra no meu peito. Eu, desesperado, levantava, o que era possível, a minha cabeça para observar. Vi o Dr. Beniamino com um “estilete” na mão (na verdade um bisturi) ficou meio de lado e “fez um talho na melancia”. Aquele pus foi todo até o teto e veio de volta como uma nuvem de gafanhotos. A sala, minha cara, o cabelo e avental das enfermeiras, o médico, meu avô, tudo ficou na cor amarela, acho que aquela sala nunca mais foi usada. A partir dessa visão, impactado, mais com o cenário do que pela dor, desmaiei. Quando eu acordei estava dentro da Barata, enfaixado, tipo lesionado de guerra, mas feliz, pois a dor havia passado. Por 90 dias meu avô havia se tornado “persona non grata”, “ele era meu ídolo, mas havia quebrado a promessa”. Eu tava chateado, muito chateado. Passou, na vida tudo passa, “palavras que consolam”. Mas, não sem um tempo caminhando, não mais como Saci, mas com a ponta do pé direito.
O Tira Dentes
Na área médica e odontológica meu avô dava “pitacos” e algumas situações ele resolvia, fazia pequenos procedimentos. Um dente mole ele pegava o alicate, aqueles de pontas curvas que acho os soldados da Gestapo usavam para torturar e vinha o “abre a boca”! E pá, lá tava o dente no alicate, aí ele me obrigava a ficar meia hora comprimindo a gengiva sob o argumento de que a ausência do procedimento, faria o dente substituto nascer torto. Tava com dor de barriga? Ele decretava: “Irene, dá um chá de losna”. Eu acho que sou o criador das dores de barriga “secretas”, anti losna. O meu cabelo, sob o argumento de que “piolho vai trocar de casa e o “chuca chuca” vai endireitar, ele passava a máquina zero, sim ele era “barbeiro terapêutico”. Fora da “terapia dentária” quem resolvia era o Dr. Marotti. Tenho muito mais para contar e dizer porque eu me considero “biônico”. Se vocês gostaram, vamos nessa, mais duas colunas eu conto tudo, senão vou falar sobre políticas e políticos. Já sei quem serão candidatos a Prefeito. By.