O RETORNO

Estou de volta. Fui “refrigerar os neurônios”, fazer um recondicionamento físico e psicológico. Quando me afastei, ficou uma Bento, sem desavenças, com empresários e poder público se alinhando, FIMMA e MOVELSUL vitoriosas, a Festa de Santo Antonin se alinhando, Expobento e Fenavinho saindo do papel e, por aí vai. Volto e constato a tradicional “choradeira” gringa “ghe manca i soldi”, vejo que perdemos referências comunitárias: Emyr Farina, depois de longa convalescência; Lenio Zanesco, que forjou sua COMABE a “remo e trabalho”; Nilza Michelin, uma das damas de nossa sociedade; Flavio Lorenzoni, um servo de Deus e dos amigos; Dr. Magnabosco, uma referência médica. Eu não pude cantar “poxa como foi bacana te encontrar de novo” porque “andei devagar pois já tive pressa”. Lamento profundamente, começo a prestar atenção às novas referências comunitárias e suas ações em prol de uma nova Bento e a Bento do futuro.

EMYR FARINA

Foi um líder industrial, um líder comunitário, professor emérito, mentor intelectual. O CIC, presidido por ele, estava em sede própria, no último andar do edifício Camerini, reuniões importantes num momento importante e realizador de Bento, conquistas significativas. Foi por iniciativa dele que surgiu, em Bento, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, presidido por Valdomiro Orso, que trabalhava na FORD de Édalo Michelin, amigo/irmão de Emyr. Um dia questionei o Emyr “pô Emyr, fundar um Sindicato dos Trabalhadores”? Ele respondeu: “Henrique, é mais produtivo negociar com um do que com “quatrocentos” representantes sindicais”. As negociações do dissídio foram sempre cordiais, Valdomiro Orso não só se tornou expressiva liderança sindical na região e no estado, mas também foi eleito Presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos. Com o dinheiro da venda da sede do CIC no CAMERINI, Emyr comprou um terreno na Avenida Planalto e levou a Entidade para “morar” nos Pavilhões da Fenavinho, foram longos anos no local, com o terreno rendendo valorização. Emyr foi meu professor de Inglês, o pouco que sei devo a ele, a sua “chatice”, perfeição, foco e exigências como Mestre. Fora das bancas escolares era orientador, emitia conceitos educacionais, ria sem abrir a boca, era mentor intelectual. De sua liderança também surgiu o ESCRITÓRIO MODELO do Aparecida, que cursei. Muitas lideranças comunitárias de Bento, muito alunado, buscaram em Emyr um norte, um Conselho, uma orientação, um poder de transformação.

EMYR FARINA, deixou um legado precioso na história de Bento

VIAGEM A ITÁLIA

Participei, a “long time ago” de uma viagem a Europa, com prefeitos e lideranças da região rumo a mostra Itália. Foram 34 dias de viagem dos quais, 14 de espera em aeroporto. Imaginem esta viagem há 50 anos atrás, com 124 participantes. A partir dela “a Itália nunca mais foi a mesma”. E lá estavam Emyr e Da. Lourdes, ele com sua fleugma Britânica e ela, delicada, cordial, “uma flor”. Um belo dia, de folga na excursão, estávamos em Roma. Onorino Marini, líder inconteste da turma de Bento disse: “vamos aproveitar e vamos para Cortina D’Ampezzo”. “Mas Marini, é longe”, bradamos, e, como vamos ir? E ele bradou mais alto: “DEIXA PRA MIM”! Lá veio o ônibus, “tuti a bordo, andiamo via”. No primeiro banco, local vip, lá estavam Emyr e Da. Lourdes, haviam chegado uma hora antes do embarque para assegurar a preferência. Fomos, todos contentes, cantarolando “lá bela polenta”. Na primeira parada técnica e emocional, na hora do embarque, lá estava alguém no lugar de Emyr. Sob o argumento de que ele tinha “direitos adquiridos”, se recusou a embarcar. Veio a comissão de negociação, depois de 40 minutos de colocações e defesa de pontos de vista sobre o “onde entrava o direito adquirido, em relação aos assentos do ônibus”, tudo ficou resolvido. Como? Simples. O Emyr e Da. Lourdes, continuaram a ocupar o banco da frente. A pedido do empresário Luigi Pessetto, o que construiu o Castello lá no Barracão, fomos visitar o pai dele, lá por TRENTO, sei lá onde era. Ele nos recebeu com um almoço “made in Itália”. Lá pelas tantas, era um sábado, ele resolveu mostrar suas habilidades na gaita. O problema é que ele, eu acho, pensava que era o Borghetinho, que nem havia nascido ainda. Não parava de tocar aquela “benedetta”. Eu fazia cobertura jornalística de viagem, me faltou pilha na minha Kodak. Era uma localidade pequena, tipo a Monte Belo de antigamente. Saí a procurar pilhas enquanto a gaita, que parecia ter um defeito de fabricação, “não parava de tocar”. Caminhei, caminhei, caminhei, até que entrei numa bodega. Me encostei no balcão, pedi ao proprietário “paron, gaveo pilhe? Som restato sensa”. Ele não me dava bola, servia cachaça aos frequentadores que jogavam cartas, numas seis mesas. Ele não me dava bola, ia pra cá e pra lá, “pegava a cachaça e levava a cachaça, levava a cachaça e pegava a cachaça”. E eu insistia. De repente ele olhou pra mim e deu um berro e um soco no balcão: “PORCO DIO VENDO CACHAÇA MI QUÁ, NO PILHE”! Sai de fininho, voltei para o almoço, havíamos chegado nele às 11 horas e já era quatro da tarde. Quando falei que não tinha encontrado as pilhas e não tinha mais fotos “a gaita parou de tocar”, acho que “era movida a pilha”. Seguimos para CORTINA, “sjonfos” e exaustos, todos roncando, menos o Emyr, que, preocupado, questionava o motorista se “o caminho estava certo”.

A POUSADA

O caminho estava certo porém o ônibus era “modelo econômico” o tanque era pequeno, parou por falta de combustível e, a Itália, estava com racionamento que chegou ao Brasil tempos depois. Tinha que vir um outro ônibus de Roma, paramos ao lado de uma pousada. Combinamos a hospedagem, pedimos uma janta. Tudo certo porém, na hora da janta, os únicos quietos eram o EMYR/LOURDES, o resto fez uma bagunça generalizada. Cânticos, mora, gritaria, risadas, resultado: com as malas ainda no ônibus fomos expulsos da pousada que era comandada por uma senhora daquelas que resolvem o assunto com uma “mescola”. Além disso era avantajada no aspecto físico. Veio de novo a comissão de negociação. Nada de acerto: “tuti via de quá suvito”! Veio o Marini, depois do “calma pessoal”, disse: “deixa pra mim”! Depois de meia hora veio de volta e, diante da expectativa geral, disse: “pessoal, nada feito, vamos ter que dormir no ônibus”. O Emyr disse: “deve estar faltando argumentos”! Ai, lá fui eu, “deixa eu tentar Marini”. Fui. Falei de quem éramos, para onde íamos, que estávamos encantados com a viagem, extravasando alegria, mas que poderíamos tranquilamente respeitar diretrizes dela de comportamento, parando as hostilidades. Disse isso no meu italiano rústico de Barracãocity, aprendido com meu avô. Deu certo! Ela falou “todos quietos, no seu quarto, nessuna parola e, a le cinque, tuti via de quá sensa café”. Descarrega as malas, sobe no quarto, silêncio mortal, cinco da manhã, fila indiana silenciosa ao descer a escada, para embarcar. Adivinhem quem já estava no ônibus sentadinhos no banco da frente? O EMYR e Da. LOURDES. Eu falo do embarque em outro ônibus que veio de Roma durante a noite. No restaurante da viagem até CORTINA o casal Farina não foi protagonista, ficou discreto o tempo todo. Esse era o EMYR, suas posturas eram educacionais, seu perfil era austero, suas palavras eram sábias, seus conselhos eram visionários, como será possível, ao longo da vida, olvidar alguém de tamanha importância e significado na vida da gente? Minha homenagem, ao Mestre, com carinho e saudades!

CURTAS E PODEROSAS

  • A Frente Parlamentar da Revitalização do Lago da Fasolo, deu um tempo?
  • Prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, ganhou do SEBRAE-RS o prêmio de PREFEITO EMPREENDEDOR, na 11ª edição do evento.
  • Desemprego ficou em 11,1% no primeiro trimestre encerrado em março. O número de desempregados atingiu 11,9 milhões de pessoas, a população ocupada, estimada em 95,3 milhões de pessoas, recuou 0,5%, o que representa menos 472 mil pessoas no mercado de trabalho. Os dados são do IBGE.
  • ISABELA, SICREDI, SENAC, SALTON, VINÍCOLA GARIBALDI, VINÍCOLA AURORA, estão entre AS MARCAS DE QUEM DECIDE, representando a região em pesquisa realizada.
  • Ex-Governador Leite, que não encontrou terreno fértil para ser candidato a Presidente, está quieto no seu canto aguardando o que o MDB vai fazer na vida dele, dependendo vai ser candidato a reeleição. O MDB está organizado em mais de 90% dos municípios gaúchos onde tem 237 mil filiados. Cerca de 50 diretórios municipais são presididos por mulheres e 27 por jovens. Aqui em Bento a Convenção do MDB virou “praça de guerra” com a indignação da família Gabardo na condução do processo de eleição. Vai acabar em intervenção do Diretório Estadual.
  • Caxias do Sul surpreendeu com a realização da SURDOOLIMPIADAS. Mais de 5 mil atletas presentes, 79 países representados, com a UCRÂNIA dando show de liderança.
  • Segundo levantamento efetuado no ano de 2021, 80% das vítimas pela ação da polícia são negros. Onze estados não divulgaram dados concretos para a pesquisa elaborada pelo G1.
  • Um em cada 5 jovens brasileiros usa cigarros eletrônicos, que estão proibidos no país. O cheiro atrai os jovens é a principal razão. Patético!
ENCERRANDO
Nas próximas colunas vou falar de Lenio Zanesco. E, de forma especial sobre os eventos que participei: Inauguração da Piazza Salton; lançamento dos sete lendários da Miolo; e, sobre o Jantar da Integração Comunitária da Fenavinho.