DE CIGANAS, BENZEDEIRAS, BAIANAS E PAIS DE SANTO
Consultei todos, ninguém me escapou e, de alguns, não escapei. Bento era o paraíso dos ciganos, acampamentos, rituais festivos em casamentos memoráveis, ciganos vendendo tachos de cobre pela cidade e, ciganas, por aqui e por ali, lendo as mãos. De comprar TACHOS me escapei, mas de duas ciganas não consegui. Leram minhas mãos, olhando as linhas das palmas vaticinaram coisas boas, minhas linhas parecem a MARCA DO ZORRO, mas na verdade, tem mais a ver com os CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA. Panelas de cobre hoje estão na moda e não são recomendadas, soubesse disso teria comprado um tacho e um “tachinho”. As casas que eles construíram, ali no entorno da Igreja Redonda, custaram conseguir vender, a modernidade do local impulsionou a venda. De reminiscências só sobrou uma cigana linda rodando a saia à baiana por aí. De tanto ouvir falar sobre a beleza da cigana amigo meu fez questão de mostrar, ela seguia um ritual caminhante pelo Centro. Me postei em frente a Galeria Central, meu habitat laboral, de repente lá veio ela, linda, muito linda, vestindo uma saia em tons vermelhos. Meu amigo foi logo dizendo, “a menina tem muitos pretendentes, o pai dela tá de olho, inclusive no dote, mesmo sendo ela uma cigana piriguete”. Tranquilo, eu não tinha o mínimo interesse na cigana. Como ela apareceu, sumiu para todo o sempre, não há mais ciganos em Bento e, se houver, é para cobrar contas. Da venda dos tachos!
OS PAIS DE SANTO
Em tempos de Galeria Central eu tinha uma funcionária, cheia de vida, relações públicas, enfim uma pessoa que espiritualmente era positiva, até que… um dia ela me disse: “o ambiente tá pesado aqui na empresa, me deu um patuá do PAI XANGÔ, coloquei na minha bolsa LEVA-PERDE TUDO, e fiquei refletindo sobre os acidentes com os carros da empresa, era um por mês, minha mãe dizia que era porque eram amarelos, eu gostava de carros amarelos, mais adiante comprei um OPALA BRANCO, instalei um som supimpa, selecionei músicas da ORNELLA VANONI (Dio come ti amo!) (parla piu piano), rodava pra cá, pra lá, delícia de vida, eu parecia um VIGILANTE DA GUARDA MUNICIPAL fazendo a ronda na cidade “a procura de mim mesmo”. Os acidentes? Sumiram, minha mãe tinha razão, mãe sempre tem razão, com o pai é diferente, o pai sempre tem razão mesmo que não tenha razão. Mas, voltemos a minha funcionária também para assuntos espirituais. Disse mais ela: “se tu quiser, minha madrasta pode vir fazer um trabalho de limpeza, não custa nada, ela viria com prazer”. Como eu sou filosoficamente a favor do “tudo que abunda não prejudica”, desde que sejam coisas boas, topei a parada. Num sábado a tarde a caravana veio de Porto Alegre, numa Kombi vieram onze pessoas. Abri o jornal, me recolhi na minha sala, quieto, muito quietinho, duas horas depois entraram e disseram “pronto, está feito”. A tal da madrasta era uma mulher escultural, tipo Sophia Loren, Vera Fischer, fiquei pensando em que além de limpeza ela poderia contribuir para curar qualquer mal de amor, dos carentes. Me convidaram para tomar um chá na casa da funcionária, aceitei. Quando levantei, vi que o piso de todo o jornal e o corredor do edifício estavam pintados de branco, alguns hieroglifos pareciam Egípcios, só não consegui identificar neles a Cleópatra. Na casa do chá, sentei num banco e fiquei “meditabundo”, veio a ESCULTURAL, sentou no meu lado e foi logo perguntando: “o que tu achou”? Eu respondi, “normal”, mas ela logo sentenciou: “mas, não adiantou nada”! Eu disse: “como assim”? Ela disse, vejam que interessante o que ela disse: “tu tens poder mediúnico, (característica de sagitariano) as coisas batem em ti e voltam, difícil te fazerem mal (meu lema é O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME AFETARÁ!)” porém, continuou ela, “o mal vai respingar em quem te assessora, não acontecem acidentes na empresa ou coisas do gênero”? De pronto eu disse: “sim, acidentes com carros”. “Pois é”, disse ela, e ficou a coisa no pois é, não sem o convite para que eu visitasse o TERREIRO em PORTO, coisa que eu fiz mais adiante. Sai do chá das cinco, impactado e questionando: SÃO OS RESPINGOS QUE DANIFICAM MEUS CARROS, COMO DISSE A “MISS DE SANTO” ou, OS CARROS AMARELOS, COMO DIZIA MINHA MÃE? No domingo de manhã, com balde, rodo e pano, lá fui eu limpar o chão e o corredor, foi uma trabalheira danada, mas me livrei de responder questionamentos sobre a benzedura, na segunda-feira. Eu limpava aquele chão e resmungava: “COISAS DO HENRIQUE CAPRARA”! Passaram-se 15 dias e lá fui eu para o TERREIRO. Sentei na primeira fila, fui convidado a TOMAR UM PASSE, tentaram me arrastar e eu resistindo, não por negar, mas por desconhecimento, constrangimento e timidez. Aí veio a ideia e falei: “VOU AO BANHEIRO ANTES”. E combinei com a pessoa que me acompanhava “vou ao banheiro, mas na verdade, te espero lá fora e vamos embora”. E foi assim que tudo terminou, até aquele momento.
PAI DE SANTO NA BAHIA
Mais adiante fui, para SALVADOR, Bahia, com uns 8 familiares, inclusive minha mãe. Cheguei para um taxista em frente ao HOTEL, ele tinha um Corcel Vermelho igual ao do ex-Prefeito FORTUNATO RIZZARDO e disse a ele: “me leva para o melhor PAI DE SANTO da Bahia”. Sentados, um no colo do outro, lá fomos nós. Ficava atrás do Elevador Lacerda, o morro ainda está lá, da altura do PÃO DE AÇÚCAR. Apavorante, o carro tinha que dar marcha ré para poder vencer a curva, eu olhava para trás e concluía: “vamos parar dentro do ELEVADOR LACERDA, PAI DE SANTO me ajude”. Chegamos, uma sala ampla, rústica, sentamos na penumbra e aguardamos, algumas horas, preciso dizer. Quando chegou a minha vez, tudo o que ele falou acertou, na consulta houve inclusive um momento inusitado, ele afirmou: “o senhor carrega uma coisa que lhe foi dada para o mal”, e apontou para minha bolsa que cabia de tudo. Virei o que tinha dentro de uma vez e ele disse: “continua aí”. Com a carteira vazia, que tinha várias divisões, virei, sacudi, e ele disse: “continua aí”. Aí eu enfiei a mão e raspei o fundo das divisórias, o que é que saiu grudado ao meu dedo indicador? O PATUÁ. Ao vê-lo ele foi logo dizendo “isso lhe foi dado para o mal, inclusive para lhe causar problemas sentimentais”, sacaram o lance? Foi tão impactante que vez por outra me vem à mente este momento. A consulta encerrou com ele dizendo “ao sair jogue isso para trás e não olhe, siga em frente”. E eu pensei, não vai ser difícil, nesse morro, aprendi na subida, não vou mais olhar pra trás. A volta foi seguida de DEMISSÃO.
VOLTA PARA A BAHIA
Muito tempo depois voltei para a BAHIA, parei no HOTEL OTHON, “turistão” mas muito bem localizado, piscina avançando sobre o mar, essas coisas. Tinha praça de taxi, cheguei para um taxista e disse: “me leva para o melhor ou para a melhor mãe de Santo da Bahia”. Ele me perguntou: “qual o senhor prefere”? “Como é que eu vou saber, tu é baiano”? (A resposta foi sim) “então tu é que deve saber”. E lá fomos nós, era longe, mas o resultado foi acima das expectativas. Ela acertou, incrível, o nome de minhas então duas filhas, acertou minha profissão de jornalista, falou das características da cidade em que eu vivo e, pasmem, disse “o senhor ainda vai voltar para a política”, então ela sabia também que eu havia sido político. Sai balbuciando, “essa ela não acertou, nunca mais vou voltar para a política”. Gente, não é que até isso ela acertou? Foi a melhor das consultas a PAI DE SANTO, depois teve outra. Não faz muito tempo, voltei a Salvador, o nome do taxista era Henrique, gente muito boa, me levou a um PAI DE SANTO, no Pelourinho, mas, ao chegar lá ele falou: “vou te apresentar a um guri que precisa ganhar um dinheirinho, ele vai te levar a um PAI DE SANTO que inclusive atende CAETANO, GIL, BETHÂNIA, enfim OS NOVOS BAIANOS. Quanto eu devo pagar, perguntei, e ele disse: “paga o que tu quiser, qualquer valor”. Tá bom, fomos e o PAI SANTO não estava, nem ao menos um JÁ VOLTO tinha na porta. Resolvi então passar o tempo tomando uma cervejinha, paguei um lanche para o guri, enfim, com quatro horas de atraso veio a figura, elitizado, ele fez um ritual, falou coisas que eu já tinha ouvido, enfim, “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. Na hora do acerto com o guri, puxei 50,00 reais e dei a ele, ele recusou, ele tinha uns 12 anos, queria 150,00 o PAI DE SANTO tinha cobrado 300,00, veio o debate, réplica, tréplica, essas coisas, até que o motorista disse: “seu Henrique, me dê os 50,00 reais e deixa que eu acerto”. Dei uma volta no Pelourinho, quando voltei estava tudo acertado. Saindo dali ele me mostrou o “TEMPLO” da Irmã DULCE, eu perguntei como ela mantinha, sozinha, todo aquele complexo, no que ele respondeu: “é uma SANTA reverenciada por todos os baianos no entanto ela pede dinheiro para os empresários, se eles não dão ela ameaça de “excomunhão”, a observação é minha. Pensei um pouquinho e disse: “como a EVA PERON fazia com os empresários na Argentina, ou eles davam dinheiro para ajudar os pobres ou ela mandava a fiscalização para cima deles”.
EM FORTALEZA, CEARÁ
No Hotel que eu estava, ao visitar Fortaleza, tinha o DIA DA BAHIA. Tinha uma MÃE DE SANTO, dando expediente. Como a fila era enorme, sentei na mesa de um bar e fiquei esperando ser o “último dos moicanos” a ser atendido. Terminada a fila lá fui eu e, sabem o que ela me disse? “Sinto muito, meu expediente terminou”. Bem, aí eu falei: “o trabalho de um Prefeito, de um Juiz de Direito, de um Padre, de um empresário, não tem horário, desde quando Mãe de Santo tem horário para trabalhar”? Vendo a minha sustentação indignada, ela se rendeu: “tá bem, senta aí”! Examina aqui, examina dali, ela falou o que todo o Pai de Santo falou, “o meu viver numa cidade de inveja, de conflitos”, mas o principal que ela me disse foi o seguinte: “o senhor tem um desafeto na sua cidade (um só? questionei) sim, um só, aí eu falei “quer o nome, endereço e telefone dele”? Fiz a Mãe de Santo rir, incrível. “Podemos fazer o mal que ele lhe dedica se voltar contra ele ou neutralizá-lo”, no que eu respondi: “neutralizá-lo”. Então está aqui meu cartão (a Mãe de Santo tinha cartão de apresentação!) vou lhe ligar, mas daqui uns dias o senhor mesmo pode me ligar. Combinado, tchau, tchau! Voltei, quinze dias depois ela me liga, pediu duzentos e cinquenta reais, um monte de dinheiro na época, aí eu falei: “mas porque tão caro”? Ela disse: “eu tenho que sacrificar três animais, custa caro e dá trabalho. Aí eu falei “nada feito minha “SENHORA MÃE DE SANTO”, PREFIRO CULTIVAR MEU INIMIGO A TER ANIMAIS SACRIFICADOS POR CAUSA DELE. Arrematei dizendo: “tenho ele sob controle” por mais que tente, não me fará mal algum porque eu quero bem a ele “vinde a mim as criancinhas porque delas será o reino do céu” dizia Jesus. Bye bye, abraço, esteja com Deus e com os Orixás, me despedi e pronto. Meu “inimigo” se foi e estou aqui a orar por ele porque eu gostava muito dele. Entendi e respeitei a grande divergência que ele tinha comigo.
O NOSSO PAI DE SANTO
Teve, ou ainda tem, um PAI DE SANTO aqui em Bento, muito famoso, inclusive porque teve um Prefeito que não fazia nada sem consultá-lo. Na Presidência do Esportivo eu fui convencido a acompanhar o técnico ANADON numa visita. Era um jogo importante contra o 15 de NOVEMBRO, o técnico queria saber se íamos ganhar, enquanto eu assegurava que sim, o PAI DE SANTO dizia “será um jogo muito difícil”, e o ANADON “mas vamos ganhar”? E o PAIZÃO: “será um jogo muito difícil”. Na volta dos 15 quilômetros, eu falei O PAI DE SANTO AQUI ESTÁ DIZENDO: “VAMOS GANHAR”! Ganhamos de um a zero e classificamos. Estávamos ganhando e eu fazia desaparecer as bolas, aos 37 minutos do segundo tempo falta mortal a favor do 15. Na casamata eu orientei meu treinador de goleiros a entrar em campo dizendo vai lá e atrapalha a cobrança, eu só não sabia que para o treinador de goleiros atrapalhar significava dar um soco nas costas do juiz e jogá-lo no chão. Foi o que ele fez. Cobraram a falta e a bola foi parar lá onde hoje é o CAITÁ. Depois de um tumulto generalizado, Brigada, expulsão, coisa e tal. Acho que tudo isso o PAI DE SANTO preconizou como DIFÍCIL. Tão difícil que sobrou inclusive pra mim pois o VANDICK, nosso centroavante, veio até a casa mata e gritando falou: “QUEM É ESSE FDP que está fazendo desaparecer as bolas na hora errada?”. Olhei para o lado e falei: “mas ninguém me ensinou qual o momento certo de fazer as bolas desaparecer, lá em CAMPO BOM não tinha bolas em campo. FOI DIFÍCIL!
CONCLUSÃO
Olhando as coisas sempre pelo lado bom, a espiritualidade enobrece.