Realizada há 36 anos, a festividade reúne professores, alunos, familiares e amigos dedicados a celebrar a música clássica, destacando a importância da disciplina e a paixão dos participantes

Durante a abertura, as professoras agradeceram o apoio do Clube Aliança ao longo dos 36 anos de audição

As audições de piano em Bento Gonçalves são uma tradição de 36 anos, resultado do empenho de professores e alunos que veem no evento uma oportunidade de crescimento musical e pessoal. Regina Althaus Motta, uma das professoras e idealizadoras do projeto, relembra os primeiros passos dessa longa jornada. “As audições começaram comigo e com a professora Iraida Lahude, já falecida. Incentivei ela a realizarmos essas audições, algo que já fazia com a irmã Jacinta Mazzarotto, que dava aulas no Colégio Sagrado Coração de Jesus”, explica. Quando a irmã Jacinta deixou Bento Gonçalves e se mudou para Curitiba, Regina decidiu motivar Iraida, que já era uma experiente professora de piano. “Ela nunca havia feito audições antes, mas a encorajei, já que tinha experiência por ser uma das alunas mais antigas da irmã Jacinta e entendia como as coisas funcionavam”, conta.

O projeto começou a ganhar força, e a partir da segunda audição, a antes aluna, e agora, professora Leila Tomedi Pillotti se uniu à equipe. “Embora estivesse em Porto Alegre, conseguimos manter essa colaboração entre nós três por muitos anos”, comenta Regina. A partir de então, o trio passou a buscar patrocínios e o apoio da Prefeitura para cobrir os custos, já que o evento envolve despesas com luz, porteiro e, principalmente, a afinação do piano.

Regina também destaca o papel fundamental do Clube Aliança ao longo dessas décadas. “Realizamos 35 das 36 audições no Clube Aliança. Eles sempre nos apoiaram, muitas vezes oferecendo descontos ou até cedendo o salão gratuitamente”, afirma. Um agradecimento especial vai ao presidente José Antônio Frâncio, que nos últimos anos manteve o apoio ao evento. O clube, que possui um piano de cauda, é visto como essencial para as audições. No entanto, Regina lamenta que Bento Gonçalves careça de um instrumento de alta performance. “Infelizmente, a cidade não tem outro piano de cauda disponível, nem mesmo na Casa das Artes. Isso demonstra uma falta de interesse do setor cultural em investir em um bom instrumento, que é um instrumento crucial para atrair pianistas e orquestras de fora”, critica. Ela lembra ainda que, das audições realizadas, somente uma não ocorreu no Clube Aliança, e isso foi por meio do projeto “Piano Bento”, feito em parceria com a Casa das Artes. “Para essa audição, tivemos que trazer um piano de Porto Alegre, mas o custo foi muito alto”, ressalta Regina. Os alunos também colaboram com pequenas quantias para ajudar com os custos, e o restante foi coberto por patrocinadores.

Hernanda Tonini se apresentou tocando a música “Fantaise Impromptu op.66” – F. Chopin

Leila Tomedi Pillotti, que além de organizadora é professora de piano, fala sobre a logística do evento. “São 36 anos de audições. O projeto começou com minhas colegas Iraida e Regina, enquanto ainda era aluna, participando por dois anos antes de me juntar como professora. Portanto, já tenho 34 anos de envolvimento com as audições”, comenta. A preparação começa logo no início do semestre letivo, em março, com a escolha das músicas e os ensaios que se estendem até setembro ou início de outubro, quando ocorre o evento.

Para a audição deste ano, Leila revela que mais de 60 alunos participaram. “Este número se mantém constante ao longo dos anos, variando entre 50 e 60 participantes. Este ano, temos também alunos convidados de fora e ex-alunos que continuam participando por gostarem muito do evento e do piano”, explica. A expectativa para as apresentações foi alta. “Esperamos um grande público, maior do que o habitual, e temos certeza de que nossos pequenos e grandes pianistas vão brilhar e proporcionar uma noite memorável”, acrescenta.

Dedicação e conexão com o piano

Vittório acompanhado da mãe e inspiração no piano Daiane Balzan Gava

Hernanda Tonini, pianista e ex-aluna, reflete sobre sua longa trajetória com o piano, que começou no final dos anos 80. “Inicialmente, estudei com outra professora, mas logo depois soube que a Regina era professora de piano e passei a ter aulas com ela. Já se passaram alguns anos desde então,” compartilha. Hernanda destaca o desafio constante de se manter ativa no instrumento. “O piano exige dedicação total. Se você ficar um mês sem tocar, parece que já esqueceu tudo”, diz ela, ressaltando o empenho necessário para se manter em forma.

Para Hernanda, tocar piano é vivenciar um mergulho no passado. “É como vivenciar uma música composta em outra época, especialmente no caso de compositores clássicos. A concentração é fundamental, tanto ao estudar quanto ao se apresentar,” observa. Ela também nota mudanças positivas ao longo dos anos no evento: “Acredito que o interesse do público foi uma das grandes melhorias, tanto em termos de quantidade quanto de envolvimento. Hoje, temos um público maior e mais alunos interessados.” No entanto, Hernanda sugere que o respeito pelo evento ainda pode ser aprimorado. “Embora o aumento de público reflita um maior interesse, é importante que haja um respeito maior na questão do silêncio, por quem está se apresentando”, reflete.

Entre os jovens talentos que se apresentaram este ano está Vittório Balzan Gava, de 12 anos, que toca piano desde os sete. “Minha mãe tocava e foi uma grande inspiração para mim. Ela me ajudou muito no início, e isso me deu confiança para continuar”, conta o jovem pianista. Para Gava, tocar piano é algo que ele faz com prazer. “Com o incentivo dela, fui me aprimorando e percebi o quanto era divertido,” acrescenta.

Gava, que participa pela quarta vez do evento, destaca o prazer que o instrumento traz: “Gosto muito de tocar e acho que já desenvolvi uma boa habilidade. Para mim, é uma atividade prazerosa e divertida”, diz. Além disso, o jovem expressa entusiasmo pela noite: “Espero tocar bem e que todos os participantes também saiam bem. Tenho certeza de que será uma noite ótima para todos.” A expectativa dos alunos reflete o crescimento e a relevância do evento para a formação e motivação de jovens músicos em Bento Gonçalves.