Bairros Imigrante, Borgo e Pomarosa foram mais atingidos. Órgãos públicos tentam solucionar problemas
A chuva intensa dos últimos dias tem causado transtorno para alguns moradores de Bento Gonçalves. No último domingo, 31 de janeiro, no bairro Imigrante, uma enxurrada formada pela grande quantidade de água fez com que a rua Domenico Zanetti parecesse um rio.
Na parte mais baixa da via, local para o qual a correnteza estava se direcionando, foi onde ocorreram os maiores estragos. Um terreno com três residências foi invadido pela água, levando barro e estragando móveis e eletrodomésticos, entre outros pertences. O casal Marcelo de Oliveira e Mirela Soares vivem na casa dos fundos, a mais atingida.
Na manhã seguinte do ocorrido, enquanto o sol não foi embora, a família tentou salvar tudo o que era possível. Por dentro, depois que a água baixou, não era possível enxergar o piso, apenas barro. Oliveira explica que não imaginava tanto estrago. “Já aconteceu outra vez, mas não que nem agora. A água desce das ruas e entope todos os bueiros, a minha casa foi a mais atingida. Nós perdemos quase tudo, só a televisão se salvou”, lamenta.
O contador José Emanuele Júnior é vizinho da família e acredita que os danos podem ter vindo de um riacho que fica nas proximidades do local. “Nas outras vezes que houve, foi por conta disso, até que um vizinho entrou dentro do riacho e verificou que no meio estava uma rocha trancando. Depois que a prefeitura abriu a rua, tirou a pedra e resolveu, não houve mais esses estragos”, relata.
Borgo sofre com as enxurradas
No bairro Borgo também aconteceram grandes estragos. Na rua Victorino Antônio Fedatto, segundo a manicure Claudenise Maciel da Costa, existe um problema no encanamento que faz uma grande quantidade de água descer para as duas casas que ficam no terreno na família, além de ir até os pátios das pessoas que moram na rua de baixo. “A do vizinho desmoronou um pouco, encostou uma pedra grande lá. Se nós arrumarmos aqui, não vai para as outras casas”, explica.
Os moradores também acionaram os órgãos públicos para tentar colocar um fim no transtorno. “Veio a Prefeitura e a Defesa Civil. A gente entrou com um processo para ver se eles resolvem. Porque daí arrumam a rua, fica ‘bonitinho’, vem chuvarada, sem resolver o problema e estraga toda a rua de novo”, afirma.
Família teme o deslizamento de terra
O aposentado Francisco Padilha Cavalheiro precisou colocar empecilhos para que a grande pedra que deslizou até sua casa não invadisse o local. Segundo a Defesa Civil, a rocha pesa cerca de uma tonelada. “A sorte é que eu coloquei algumas madeiras para segurar, e escorei, se não a pedra ia derrubar a parede. Aqui era um mar. Estávamos em quatro pessoas dentro da casa e, outras quatro na área, puxando a água com o rodo”, conta.
O ocorrido foi na noite da outra segunda-feira, 25 de janeiro, que deixou todos os cômodos da residência inundados. “A gente tem medo. Temos problema de saúde, ele tem câncer e não deveria nem limpar nada, mas se não ajudar, não tem como. Acabamos perdendo todos os móveis”, reitera a aposentada Maria Mendes Cavalheiro.
O casal acredita que tudo começou após construções na rua de cima serem feitas. “Eles mexeram, fizeram duas casas, então o que tinha lá, desceu tudo. É coisa para nós ficarmos apavorados. A água vinha, caía nos tubos que são pequenos e que não venceram escoar. Basta trocar os tubos, colocar maiores, aí não invade mais aqui”, prevê Cavalheiro.
Parreirais também foram atingidos
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, afirma que as fortes chuvas estão atingindo também a agricultura. “É um volume muito grande para esta época do ano e prejudica, principalmente na qualidade, pois acaba apodrecendo a uva e isso reflete no preço dela porque, quanto mais açúcar tiver, mais valorizada. Outro fato que está chamando atenção é a queda de parreirais. Um grande número que está caindo devido ao encharcamento do solo, danifica toda estrutura e acaba vindo abaixo. Isso é um prejuízo muito grande”, esclarece.
Entretanto, não há muito o que ser feito para prevenção dos danos. “Pode-se fazer uma vistoria diária para ver se tem algum arame ou poste quebrado. Quanto ao excesso de chuva, não tem o que fazer. É torcer que ela pare e que os prejuízos não sejam ainda maiores”, destaca.
O enólogo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Thompson Didoné, esclarece que em termos de solo, pode-se haver grandes perdas. “É bem visível aqueles vinhedos que não tem a proteção de alguma planta de cobertura. É recomendação da Emater que se tenha”, explica.
Em relação às demais frutas, além da uva, não houve dano algum. “O pêssego e ameixa praticamente já foram todos colhidos e nós temos o caqui, que inicia daqui alguns dias, mas também não foi prejudicado em nada”, esclarece.
Deslizamento de pedras destrói cinco carros
Na madrugada de segunda-feira, por volta das 4h, uma família residente do bairro Pomarosa passou por um grande sufoco. Segundo a Defesa Civil, um muro de contenção de uma empresa em construção cedeu ao lado da residência, enquanto todos dormiam.
O mecânico Romeu da Silva Storgatto, proprietário do imóvel, explica que ele, a esposa e as duas filhas acordaram no susto. “Deu um barulho. Foi por pouco, por Deus, que não pegou na minha casa”, lembra.
Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar explica que houve danos na estrutura da casa. Outra grande perda foi nos cinco carros que estavam estacionados no local, que foram atingidos e alguns, soterrados. Destes, somente um pertencia a Storgatto, os outros eram de clientes.
A causa do deslizamento foi a grande quantidade de chuva do mês de janeiro. Mas, para o mecânico, o perigo sempre esteve ali, ao lado. “Moro aqui há 12 anos. Desde que começaram a desmatar, só foram aumentando, o dinheiro foi comprando e deu isso aí. Foi um pouco mal feito. Como aquele meio metro de pedras vai segurar mais ou menos 100 mil cargas de terra, sem deixar escoamento de água? Isso porque estamos no verão, imagina no inverno, de 20 a 30 dias chovendo direto. Não existe, qualquer cego vê que isso não iria dar certo num perau desse tamanho”, ressalta.
Para Storgatto, precisa-se tomar uma atitude para resolver o problema totalmente. “Não trazem solução, não tomam jeito, não adianta, não tem cabimento. Só olha ali, o que veio bater às 4h da manhã na minha porta. Lá tem quatro carros enterrados, o que segurou todas as pedras, se não a minha casa não existia mais”, pondera.
O trânsito na rua Davile Sandrin, que dá acesso ao Vale dos Vinhedos, onde aconteceu o deslizamento de terra, foi bloqueado. A passagem foi liberada apenas na tarde desta terça-feira, 2 de fevereiro.
Município tenta solucionar problemas
Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, Claudiomiro Masutti, mais de 10 chamados já foram atendidos em cerca de 20 dias, quando iniciaram as chuvas.
Sobre as enxurradas, ele explica que são provocadas por chuvas torrenciais que acumulam grande quantidade de água em um tempo curto. “Para solucionar os problemas, as secretarias estão buscando detectar onde os pontos são vulneráveis e traçando um plano para fazer melhorias como, por exemplo, aumentado o tamanho dos tubos, redes, boca de lobo, etc. A população pode ajudar evitando colocar lixo em local inadequado. Isso vai para os dutos e reduz o fluxo de água”, salienta.
Foto em destaque: Defesa Civil, divulgação