Valores dos produtos tidos como essenciais para famílias brasileiras aumentaram nos primeiros três meses do ano. Bento Gonçalves apresenta diferenças de até 72% nos preços
O preço da cesta básica aumentou em 16 das 17 capitais brasileiras analisadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). A maior alta foi registrada no Rio de Janeiro, detentor da cesta básica mais cara do país, com preço cotado a R$ 832,80. São Paulo, onde o valor médio é de R$ 808,38, ficou em segunda na lista, seguida por Porto Alegre e Florianópolis, onde as cestas custam R$ 796,81 e R$ 783,36, respectivamente.
A pesquisa baseia-se no Decreto Lei n° 399, de 1938, que determina os itens obrigatórios nas cestas, para fazer os cálculos. São eles: carne; leite; feijão; arroz; farinha; batata; legumes; pão francês; café em pó; frutas (banana); açúcar; banha/óleo e manteiga. Em alguns lugares, a demanda aquecida elevou o preço, embora em outros tenha sido registrada redução nas cotações. Nas prateleiras dos supermercados, a tendência foi de alta do preço médio.
Segundo o Dieese, em fevereiro de 2024, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 107 horas e 38 minutos trabalhados, maior do que o de janeiro, de 106 horas e 30 minutos. Já em fevereiro de 2023, a jornada média ficou em 114 horas e 38 minutos.
Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, baseado no valor vigente de R$ 1412, após o desconto de 7,5%, referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em média, em fevereiro de 2024, 52,9% do rendimento para adquirir os produtos alimentícios básicos, e, em janeiro, 52,33% da renda líquida. Em fevereiro de 2023, o percentual ficou em 56,33%.
Em Bento Gonçalves, conforme pesquisa do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), os itens que compõem a cesta básica são: óleo de soja, molho de tomate, vinagre, sardinha, farinha de trigo, farinha de milho, feijão preto, arroz, açúcar, sal, pão de forma, macarrão, biscoito doce ou salgado, café em pó, achocolatado, leite, ovos, margarina, batata, banana, paleta bovina, pernil suíno, frango inteiro, creme dental, sabonete, shampoo, papel higiênico, detergente líquido, água sanitária, desinfetante, sabão em pó, sabão líquido, sabão em barra, esponja dupla face e esponja de aço. O pacote mais barato com todos estes itens custa R$ 186,43. Já o mais caro, fica em R$ 315,75, uma diferença de R$ 129,32, ou 41%.
Reforma tributária
Um decreto publicado no início do mês de março pelo governo federal criou uma “nova cesta básica”, com alimentos in natura ou minimamente processados. As alterações, orientadas por políticas do governo voltadas à produção, abastecimento e consumo de alimentos saudáveis, buscam ampliar as ações voltadas à segurança alimentar e de combate à fome.
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS), a nova cesta básica não será imposta, mas pode ser um orientador para o governo na redação da proposta de regulamentação da reforma tributária. A expectativa da pasta é de que os alimentos listados no novo decreto sejam contemplados na lista de produtos isentos ou com redução de impostos.
O governo Leite sofreu uma derrota na última terça-feira, 26, no Parlamento estadual. Com ela os decretos assinados ainda em 16 de dezembro de 2023, que aumentariam em 2,5% os impostos dos produtos da cesta básica a partir de 1º de abril, ficam suspensos e continuarão a ser discutidos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Combustíveis também sofreram alteração
Aprovado em outubro de 2023 pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), o tributo cobrado sobre a gasolina passará a ser de R$ 1,37 por litro, e o do diesel, de R$ 1,06 por litro. O gás de cozinha também será afetado, com um reajuste de R$ 0,16 para R$ 1,41 por quilo.
Esse será o primeiro reajuste do ICMS após a mudança do modelo de cobrança do imposto pela lei sancionada em 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro. Agora, o ICMS passará a ter alíquotas em reais por litro, e não por percentual do preço estimado de bomba dos produtos.
Em Bento Gonçalves, de janeiro a março deste ano, a gasolina comum chegou a uma variação de R$ 0,37 nas bombas dos postos de abastecimento.
O menor preço registrado foi em fevereiro, com o litro custando R$ 5,52. Atualmente, o valor médio do litro da gasolina comum está em R$ 5,89.
Consumidor sente no bolso
A dona de casa Cláudia Costa Scremin, 56 anos, comenta que vem percebendo o aumento dos produtos nos supermercados. “Há uns tempos atrás, o dinheiro rendia. Hoje, preciso planejar muito bem a lista de compras para não faltar nada, mas, acima de tudo, para não extrapolar o meu orçamento familiar”, confessa.
Para o governo, a questão climática é a principal causa do encarecimento dos alimentos. Desde o segundo semestre de 2023, produtores de todo o país têm sido afetados pela escassez de chuva ou pelas altas temperaturas, que causam quebras nas safras e fazem os preços subirem.
No primeiro bimestre de 2024, a inflação da alimentação no domicílio, que inclui itens como arroz, feijão, hortaliças e carnes, subiu 2,95%, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). No ano passado, a inflação desse subgrupo caiu 0,52%.