Tríduo religioso, missa festiva e almoço reuniram centenas de fiéis. A tradição segue viva graças ao trabalho de festeiros, equipe diretiva e voluntários
Cerca de 550 pessoas se reuniram no domingo, 27 de abril, na comunidade Santo Antão, pertencente à Paróquia Cristo Rei, em Bento Gonçalves (RS), para celebrar a tradicional Festa em Honra a Santo Antão. Com o tema “Peregrinos da Esperança”, a programação teve início com o tríduo religioso, realizado nos dias 23, 24 e 25, e culminou com a Missa Festiva às 10h30min, seguida do tradicional almoço comunitário ao meio-dia.
O evento, promovido anualmente após a Páscoa, tem como objetivo fortalecer os laços de fé e convivência entre os moradores. Segundo o pároco Padre Miguel Mosena, a escolha da data tem motivo prático e espiritual. “A festa de hoje, o dia de Santo Antão, é celebrada depois da Páscoa porque, em janeiro, geralmente é mês de férias e é mais difícil reunir todo mundo. Nada melhor do que, após a Páscoa, celebrarmos a importância da intercessão do nosso padroeiro”, afirma o sacerdote.
Padre Mosena explica que Santo Antão foi um leigo do século IV, conhecido por se refugiar no deserto em busca de uma experiência profunda com Deus. “A ideia de retiro que a gente tem hoje vem de Santo Antão. Ele se retirou para um lugar onde ninguém o incomodasse, para estar com o Senhor. Hoje, estamos fazendo nosso retiro comunitário. Em vez de irmos ao deserto, viemos à comunidade para participar da Santa Missa e, agora, da confraternização”, pontua.
Durante a celebração, o pároco também recorda a canonização do jovem Carlo Acutis, ocorrida no mesmo dia no Vaticano. “Ele via na Eucaristia a força para enfrentar a dor com alegria. Foi também o primeiro padroeiro da internet, por ter criado um site com os milagres eucarísticos. Isso mostra que os meios de comunicação também são um caminho para levar os corações até Deus”, destaca Mosena.
Organização pautada pela tradição e união
Toda a preparação da festa teve início em janeiro, conforme relata o membro do conselho da comunidade, Luciano Alberton. “A parte estrutural do evento é projetada pelo presidente do conselho. Depois disso, iniciamos a escolha dos festeiros e, em seguida, organizamos o restante da programação”, explica.
Já Juliano Massoco, também membro do conselho, comenta como se dá a definição dos festeiros. “Eles são indicados por pessoas que participam ativamente da comunidade. Os convites são feitos em janeiro, com a definição ocorrendo em fevereiro. Na primeira missa de março, os nomes são oficialmente apresentados à comunidade”, esclarece.
Neste ano, os ingressos esgotaram antes da data da festa. “Vários ainda queriam ingressos, mas não havia mais disponibilidade. Estimamos cerca de 550 pessoas hoje”, informa Alberton. Massoco destaca o envolvimento constante da comunidade. “É sempre bom reunir o pessoal. A comunidade de Santo Antão é muito ativa. Temos duas missas por mês, catequese com as famílias e também a participação das gerações mais antigas, que estão sempre presentes”, observa.
Os recursos arrecadados durante a festa são fundamentais para a manutenção da estrutura local. “No ano passado, investimos na melhoria do som da igreja, adquirimos uma nova geladeira para o bar e também reforçamos a estrutura da cozinha”, exemplifica Alberton. Massoco complementa: “Temos custos anuais com manutenção da igreja, do salão, das salas de catequese e do jardim. Como é a única festa do ano, ela é essencial para garantir a sustentabilidade da comunidade”, ressalta.

Festeiros adultos valorizam continuidade da fé
Entre os festeiros deste ano estão os casais Adriano e Andressa Anceski Skibinski, Éder e Léa Frare, Leoclides e Vanderleia Collaziol Panizzi, e Vanderlei e Simone Tregnago Garcia, que assumiram o compromisso de manter viva a tradição.
Participando pela primeira vez como festeiros da comunidade, Éder e Léa relatam que o convite veio por meio de antigos festeiros, seguindo a tradição. “Nosso filho mais velho prestou a Crisma recentemente, e participar da festa é mais uma forma de reunir as famílias e manter esses encontros vivos”, relata Léa.
A festeira ressalta que, mesmo com uma agenda intensa, foi possível conciliar as obrigações com o compromisso comunitário. “A entrega precisa ser feita com organização, respeito e também com um belo almoço para coroar esse encontro”, afirma. Frare, por sua vez, aponta para uma preocupação crescente: a falta de jovens nas lideranças comunitárias. “As comunidades estão ficando nas mãos de pessoas mais velhas. Aceitamos o desafio justamente para envolver nossos filhos e outras pessoas próximas, para que as festas não desapareçam com o tempo”, observa.
A devoção também faz parte da trajetória da família. “A religiosidade está presente na nossa cultura italiana e alemã, sem desmerecer as demais. Mesmo que nem sempre estejamos na missa aos domingos, procuramos viver com boas ações e atuação comunitária, até para dar exemplo”, declara Frare. Léa concorda e complementa: “Mostrar isso em casa, para os filhos, é uma forma de manter viva essa prática no futuro”, destaca.
Juventude engajada inspira a comunidade
Entre os jovens festeiros estão Julia Frizzo Possamai e Felipe Gava, que já têm uma longa relação com a comunidade. “Participo da Catequese aqui há bastante tempo, e minha avó é cozinheira. A gente sempre esteve envolvido”, conta Julia. Gava relembra sua trajetória. “Comecei na Catequese, e hoje meus pais fazem parte do conselho da igreja. Sempre estivemos juntos”, relata.
Além de ajudarem na venda dos ingressos — que superaram em cerca de 100 unidades o número do ano anterior —, os jovens também mobilizaram familiares e conhecidos. “Fomos vendendo aos poucos, com ajuda da família e de amigos. É muito gratificante ver a comunidade unida e saber que pudemos contribuir”, diz Julia. “Ver essa mobilização nos deixa felizes e orgulhosos”, reforça Gava.
Mensagem de paz encerra a celebração
Ao final da missa, Padre Mosena deixou uma mensagem de reflexão à comunidade. “Desejo a todos um domingo abençoado e em paz. Estar em paz é a melhor coisa. Imagina passar o dia em pé de guerra com a família ou com os vizinhos. Que todos permaneçam na paz do Ressuscitado”, deseja o sacerdote.
A Festa de Santo Antão reafirma seu papel como um momento de renovação espiritual, fortalecimento dos vínculos entre gerações e reafirmação da fé cristã, elementos que sustentam a identidade e a vitalidade dessa comunidade de Bento Gonçalves.
Agradecimentos


O sucesso da festa só foi possível graças à dedicação de muitas mãos e corações. Além dos festeiros adultos e jovens, a equipe administrativa — formada por Gilberto e Luci Gava, Juliano e Fernanda Massoco, Luciano e Liana Alberton, e Vicente e Michelle Gava — foi essencial no planejamento e condução dos trabalhos. Na parte religiosa, a colaboração de Neusa Ranzi e Teresinha Piovesana foi fundamental para o tríduo e a celebração.
Na cozinha, o grupo de cozinheiras voluntárias — Luci Gava, Idene Frizzo, Tercila Lando Smarte, Teresinha Lando Trevisol, Helena dos Santos, Ana Poya, Neusa De Nadal e Roseli Ranzi — preparou com carinho o almoço que marcou o encontro comunitário. Já o tradicional churrasco ficou por conta dos churrasqueiros voluntários: Valdecir Conculato, Rodrigo Massutti, Vanilso Conculato, Sérgio Gostenski e Marcelino Marini.