Em entrevista, presidente do STR-BG fala sobre as conquistas e desafios da entidade
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Pinto Bandeira, completou 60 anos de atividades voltadas ao homem do campo. À frente da entidade, em sua segunda gestão, está o agricultor Cedenir Postal, que conta um pouco da história, dificuldades, conquistas e o apoio aos associados.
Quem é o Cedenir?
Cedenir é agricultor desde sempre. Nasci, fui criado e ainda vivo em São Luiz do Rio das Antas, onde tenho minha produção de legumes e hortaliças das mais diversas variedades, dependendo da época do ano. A propriedade é dos meus pais, João e Maria, que vivem perto. Sou casado com Rosane, pai da Fabiana e Eliane. Gosto muito do que faço, tanto de estar à frente do Sindicato, como trabalhar na agricultura.
Como avalia o sindicato
Só estando dentro e participando é que a gente consegue ver realmente como as coisas são. Sou associado há mais de vinte anos e fazem quase cinco que estou como presidente. O sindicato é a principal ferramenta de luta dos agricultores, se não tiver ele, não tem ninguém que lute pela classe, isso é fato. Acho que muitas vezes a gente reclama, reivindica, mas não sabe quais são os caminhos. Nas nossas lutas, muitas vezes temos experiências exitosas e outras nem tanto. Meu ponto de vista é que mais agricultores poderiam estar associados, talvez por não conhecerem o verdadeiro papel que o sindicato tem, que é a luta pelos interesses da categoria, a representação da mesma, reivindicando por melhores condições para o segmento. Analiso, também, que cada gestão que passou deu a sua contribuição para a história da entidade, nas suas mais diferentes épocas.
Desafios e conquistas
De um modo geral, acho que depois da aposentadoria rural para os agricultores, a reforma da previdência foi um progresso importante, pois foi feito um trabalho muito forte pelos sindicatos. Outra é a questão do preço da uva, que é uma luta todos anos. Neste último, acho que foi uma das maiores conquistas, pois tivemos um aumento de 20%. Para chegar a esse patamar, foram muitas reuniões, duas idas à Brasília, mas o resultado foi positivo. Mais recentemente, tivemos a questão do auxílio para estiagem, com os descontos nas linhas de financiamento. De modo municipal, no início da primeira gestão, acho que o primeiro desafio foi estruturarmos a equipe de trabalho e buscar qualificação. Outra questão foi no ano passado, que por conta da pandemia quiseram cancelar a feira livre. A gente sabe que os produtos da agricultura não podem esperar e se não forem vendidos, vão fora. Fizemos toda uma mobilização e deu resultado, pois, na semana seguinte, já estava liberado e a gente continua vendendo até hoje.
Melhorias no segmento
Na eleição municipal, entregamos uma pauta de reivindicações para todos os candidatos a prefeito, com sugestões de melhoria na infraestrutura do meio rural, internet, energia elétrica e também a questão de um espaço, que seja fechado, para comercializar os produtos da agricultura. A intenção é que ele possa ser utilizado diariamente pelos produtores para comercializar diferentes itens, não somente na Feira Livre. Essa é uma reivindicação e um sonho dos feirantes e agricultores.
Feira Livre
Ela está muito boa em questão de vendas. Além disso, os agricultores estão se modernizando, tendo outras opções para pagamento. Não fui um dos primeiros feirantes, mas estou há quase trinta anos na feira e percebo que as condições melhoraram muito.
Jovem na agricultura
Nos últimos tempos, muitos jovens estão permanecendo na agricultura e outros que saíram estão voltando. As condições foram melhorando ao longo dos anos e isso também se deu devido ao trabalho dos sindicatos na questão de lutar por linhas de crédito mais atrativas e com juros mais baratos para financiar produção. Hoje tem maquinário para uma série de atividades e isso facilita o trabalho e faz com que o jovem permaneça, pois ele consegue ter uma boa fonte de renda. Claro que as dificuldades são grandes, pois trabalhar com chuva, no frio e no calor não é fácil. Para auxiliar essa faixa etária, no sindicato, estamos retomando a comissão de jovens para que eles entendam a importância de estarem ligados à entidade, organizados, fazerem essas qualificações que são necessárias.
Benefícios aos associados
A associação no sindicato é voluntária, não são todos os agricultores que são associados. Entretanto, vale frisar que representamos a todos. Os serviços que disponibilizamos são mais na parte assistencial, com a prestação de serviços, como assessoria jurídica, os documentos do dia a dia que precisam ser feitos como ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural), CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural), cadastro vitícola, enfim, a parte burocrática. Além disso, tem os convênios que fizemos com os mais diversos, comércios, clínicas e hospitais.
Rotas turísticas
Acho que temos que manter essa essência da agricultura, de pequenas propriedades, do cultivo da videira, não avançar as áreas urbanas. Nada contra o progresso e o desenvolvimento, mas o nosso potencial turístico é voltado para as pequenas propriedades e vinícolas. O turista que vem para cá é diferente do que aquele que vai para Gramado e Canela, pois lá, muitas vezes, é turismo de eventos e festivais. Nós temos paisagens, enoturismo, parreiras, acredito que não podemos perder isso. No momento que for construído e for avançando a cidade nesses roteiros, sobre as áreas rurais, perdemos a essência. Essa é a minha visão.
Administração Municipal
Acho que melhorou bastante e que a gente sempre precisa avançar. Entendemos que às vezes tem dificuldades, no caso das últimas semanas, que foram de chuva, quase não se consegue colocar uma máquina na estrada para arrumar. Porém, o agricultor não exige muita coisa. Tendo um auxílio nas máquinas para abrir novas áreas, reformar um parreiral, abrir açude, ter um pouco de brita para auxiliar no acesso e ter as estradas boas é isso o que o agricultor quer. O que a gente precisa avançar enquanto Poder Público é na questão ambiental.
Fenavinho
Acho que é melhor ter a Fenavinho, no formato que ela está, do que não ter. O nome já é extremamente importante, pois divulga nossa maior festa. Neste ano, alguns novos formatos e a retomada de algumas coisas, como os jogos coloniais, vão permitir o envolvimento das comunidades, o que é algo positivo.
Mensagem final
As pessoas devem acreditar na agricultura. Mesmo sendo uma atividade, um trabalho difícil, nós, como produtores, não temos que ficar nos lamentando. Acho que hoje o agricultor está mais valorizado que no passado e a gente deve ter orgulho e estufar o peito e dizer: sou agricultor, produzo alimento, alimento as pessoas. É uma profissão nobre, todo mundo quer garantir renda com o seu trabalho e com ele não é diferente, porém, ele não produz para isso somente, mas sim para os outros.