Em meio à alta da inadimplência, novas demandas dos consumidores e desafios econômicos, a CDL-BG intensifica ações para manter o varejo competitivo e aquecido, com investimentos em inovação, capacitação e defesa do comércio formal
Bento Gonçalves tem um comércio consolidado e diversificado, apoiado por uma matriz econômica robusta que inclui o turismo, a indústria moveleira, o setor vitivinícola, o metal mecânico e os serviços. Para o presidente da CDL-BG, Marcos Carbone, essa base garante resiliência, mas exige estratégias constantes de atualização. “O comércio da cidade é pujante e bem abastecido, mas enfrenta desafios como a retenção de mão de obra e o aumento da inadimplência. Por outro lado, temos oportunidades geradas pelo dinamismo do turismo e das feiras de negócios, que atraem visitantes e movimentam a economia”, declara.
Inadimplência em alta
Um dos maiores alertas para o setor é o crescimento de 11% na inadimplência em 2024, o que preocupa lojistas e desafia o consumo. A CDL, que atua como fornecedora de dados do SPC Brasil, o maior banco de informações de crédito da América Latina, reforça a importância de decisões seguras na concessão de crédito. “O maior benefício para o associado é vender com segurança. Não adianta liberar crédito para quem está negativado e depois ficar com prejuízo. Vender bem é vender e receber”, afirma Carbone.
Ele destaca uma conquista recente que ajuda a reduzir perdas: a aprovação de lei que permite notificar devedores por SMS e e-mail. “Antes, a empresa tinha que enviar uma carta registrada pelo correio, o que era lento e caro. Agora, com a notificação digital, conseguimos agilizar a cobrança e aumentar a probabilidade de recuperar o crédito”, explica.
Falta de mão de obra impulsiona programas de capacitação
Além da inadimplência, a carência de profissionais qualificados é vista como um dos maiores gargalos do comércio local. A CDL investe em treinamentos e consultorias para empresários e colaboradores, visando preparar equipes para lidar com consumidores mais informados e digitais. “Precisamos aprender a trabalhar com jovens que chegam ao mercado com forte ligação às redes sociais e à tecnologia, mas sem esquecer que o bom atendimento é o que fideliza o cliente”, ressalta Carbone.
Parcerias com instituições como Sebrae, Senac e CDL Academy buscam capacitar desde vendedores de balcão até gestores. Carbone defende que a experiência do consumidor é hoje o grande diferencial competitivo. “O produto pode ser o mesmo em várias lojas. O que diferencia é a jornada que o cliente vive ao entrar no estabelecimento”, enfatiza.
Rotatividade e novas gerações
Carbone alerta que a alta rotatividade de funcionários também pressiona o comércio. Segundo ele, as novas gerações têm buscado empregos que se alinhem ao seu propósito pessoal, o que resulta em mudanças frequentes. “Uma pesquisa recente mostrou que a faixa etária de 20 a 29 anos lidera os desligamentos voluntários. Quando não se identificam com a empresa, trocam de emprego com facilidade, e isso gera custos altos de treinamento e recrutamento para os negócios”, afirma.
CDL IA: tecnologia para democratizar
Para modernizar o setor, Federação Varejista do RS, à qual a CDL-BG é associada, lançou a CDL IA, uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida por 80 doutores ligados ao varejo. O sistema auxilia lojistas em tarefas como precificação e análise de mercado. “A CDL IA fala a linguagem do lojista e oferece dados para tomada de decisão. Ela não substitui o gestor, mas entrega informações que otimizam o dia a dia das pequenas empresas”, explica Carbone.
Ele lembra que a adoção de tecnologia vai além de abrir lojas virtuais ou estar nas redes sociais. “Na pandemia, muitos acharam que criar um site era o suficiente para vender online, mas não é assim. É preciso mudar a cultura interna da empresa, integrar os canais e garantir uma experiência completa ao consumidor”, reforça.
Um modelo de atuação
Como vice-presidente da Federação Varejista do RS, Carbone leva as demandas locais para o debate estadual e reforça o papel da cidade como referência. “Bento está entre as dez maiores CDLs do estado e foi sede da nossa primeira convenção estadual, que reuniu representantes de 14 estados. Nossa cidade é vista como case para outras regiões”, destaca.
Durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a entidade participou ativamente da atuação do Unidos por Bento, em parceria com o Sicredi, para apoiar lojistas e moradores isolados. O modelo foi replicado em diversas cidades e chegou a ser divulgado nacionalmente pelo sistema CNDL. “Nosso comércio não perdeu estoques como em outras cidades, mas ficou isolado. Criamos uma rede de apoio que inspirou outras regiões e ajudou na reconstrução de várias comunidades”, comenta.
Inclusão e renovação de lideranças

A CDL também fomenta iniciativas que fortalecem diferentes públicos no comércio, como o CDL Mulher, que reúne 28 núcleos no estado para qualificar e integrar empresas comandadas por mulheres. “Mais de 50% das empresas hoje são lideradas por mulheres, e queremos que elas tenham ainda mais protagonismo”, declara Carbone. Em Bento Gonçalves, o núcleo foi ativado no início deste ano.
Outra frente é o CDL Jovem, voltado para preparar novas lideranças e garantir a continuidade e inovação no associativismo. “Precisamos formar sucessores para que o trabalho da entidade continue forte e atualizado”, acrescenta.
Defesa do comércio formal
A CDL Bento também atua contra o comércio informal e o impacto das apostas virtuais (bets), que desviam recursos do mercado local. “Quem compra no informal não ajuda o município e corre riscos com produtos sem procedência. No caso das bets, o problema é ainda mais grave: o dinheiro sai do comércio, não circula na economia e ainda aumenta o endividamento das famílias”, alerta Carbone.
Ele destaca que a entidade cobra do poder público maior fiscalização contra o comércio ilegal, especialmente em áreas de grande movimento, e alerta para riscos à saúde com produtos alimentícios e cosméticos de origem desconhecida.
Comportamento do consumidor e integração físico-digital
Carbone aponta que, ao contrário do que se dizia há uma década, as lojas físicas seguem relevantes, mas precisam estar integradas ao digital. “Hoje, loja física, virtual e redes sociais são complementares. O consumidor pesquisa preços e características online antes de comprar, mas quer ter uma experiência positiva ao visitar a loja. Quando ele entra, é o momento do nosso ‘show’, que precisa ser verdadeiro para gerar novas vendas e fidelização”, diz.
Ele destaca que clientes bem atendidos costumam comprar itens adicionais, o que aumenta o ticket médio. “Se o consumidor vai para comprar um sapato e encontra um bom atendimento, ele pode sair com um cinto, uma bolsa ou uma calça que não planejava adquirir”, exemplifica.
Eventos e feiras: motores de vendas e visibilidade


Fotos: Exata Comunicação
Para movimentar o comércio, a CDL promove eventos como o Armazém das Pontas, que chega à 15ª edição entre 29 e 31 de agosto. A feira reúne lojistas que oferecem produtos de ponta de estoque com descontos atrativos, atraindo mais de três mil visitantes em um fim de semana.
A empresária Jessica Rosa, da Norea Curadoria Ótica, é uma das participantes do evento e destaca a importância da ação. “Levamos peças que estão há mais tempo paradas ou últimas unidades para liberar espaço e reinvestir em novos produtos. Os preços são competitivos, muitas vezes abaixo do custo, e o atendimento diferenciado garante que o público volte”, relata.
A CDL também incentiva o comércio a aproveitar feiras e datas sazonais, como Fenavinho, Vindima e Páscoa, com campanhas de vitrines tematizadas que atraem turistas e ampliam as vendas. “Essas ações aumentam a visibilidade e fazem a economia girar de forma legal e sustentável”, reforça Carbone.
Varejo como pilar da economia local
Carbone conclui destacando o papel central do comércio para Bento Gonçalves. “Temos uma economia diversificada, vinhos, móveis, metal mecânico, turismo e serviços, e isso fortalece o varejo. Nosso comércio cresce porque acredita na cidade, investe em estrutura e gera empregos, ajudando toda a economia a prosperar”, finaliza.