Somente nos últimos 15 dias três casas foram invadidas na localidade. Moradores alegam que há anos vêm enfrentando problemas e que se sentem reféns em suas próprias moradias

O Vale Aurora tem sido assombrado por diversos casos de furtos e arrombamentos nos últimos anos. Moradores estão cada dia mais assustados e, quem ainda não foi alvo de roubo, tem medo de ser o próximo. O Jornal Semanário recebeu denúncia de uma moradora que afirma se sentir refém na sua própria casa, pois teme ser a próxima. Ela pediu para não ser identificada por medo de represália de parte de quem está cometendo os crimes.

Uma das vizinhas, Tatiane Moraes, 36 anos, diz que em 2022 começou a série de roubos. Em dezembro daquele ano sua casa arrombada e diversos itens de valor foram levados. “Tinha saído do hospital, minha afilhada me ligou avisando que viram a janela do quarto da minha avó aberta. Quando chegamos, as luzes estavam todas acesas e as janelas escancaradas”, relata.
Ela lembra que houve outros assaltos, no mesmo ano, no Vale, e que em 2023 teve sua casa assaltada mais duas vezes. “Em 2023 tivemos mais dois furtos, entraram pela janela e levaram roçadeira, capa de sofá, mantimentos e motosserra. Eles pegam tudo de valor que dê para vender. Isso ocorre quando a casa está vazia, de dia ou à noite. É alguém que sabe a nossa rotina”, acredita ela.

Tatiane Moraes reforçou a segurança de sua casa após os furtos

Tatiane se preocupa com o que está ocorrendo e teme ter suas coisas furtadas mais uma vez. Relata que sequer consegue sair para fazer compras no mercado, com medo de deixar a moradia sozinha. “De madrugada, escutamos pessoas rodeando a casa. Quando nos escutam pisar no chão, saem correndo. É assustador, é um terror,” aponta.

Sem opções, a dona de casa está decidida a cercar toda a residência em uma tentativa de impedir que a situação volte a se repetir. “Nessa última semana, foram três furtos. Participo de um grupo de mulheres do Vale Aurora e comentamos o que está ocorrendo. Até galinha e cabrito já levaram, é um absurdo”, afirma.

Tatiane acredita que uma das soluções é a colocação de câmeras de vigilância no Vale Aurora para identificar quem comete esses crimes. “Assaltaram até o salão da comunidade. Gostaríamos que tivesse mais câmeras espalhadas porque nós, moradores, estamos tendo que comprar. Precisamos que a polícia volte a patrulhar a região. Antes, passavam duas vezes por dia, ou mais, e tinha melhorado. Agora que diminuiu, voltou com tudo,” assegura.

No último domingo, dia 14 de janeiro, duas casas foram arrombadas na localidade.
Norberto Luís Piffer é uma das vítimas. O aposentado, de 64 anos, cuida de parreirais no Vale Aurora e mora em Bento. “Esses assaltos não são de agora, eles vêm sempre à noite quando não tem ninguém. No último domingo estouraram os cadeados da casa do meu irmão, levaram televisão, máquina de lavar e botijão de gás. Não moro aqui, então não tem nada de valor. Mas levaram minhas máquinas que valem mais de R$ 2 mil cada”, se queixa.

Norberto Piffer mostra os sinais de arrombamento em seu portão

Sua preocupação tem sido deixar o imóvel sem ninguém para cuidar, pois é o momento em que se aproveitam. “Minha casa já foi três vezes invadida. A polícia passava sempre de dia, aqui, e faz tempo que eles não têm vindo. Mas os bandidos não vêm de dia, porque sabem que estamos aqui. Aproveitam a noite quando as casas estão vazias. Eles sabem a rotina das pessoas, porque sempre aparecem quando nós estamos fora,” resume.

Cleimar Pretoli é vizinho de Piffer, um dos únicos que mora na região e permanece em casa. Como elas são distantes acabou não vendo a invasão. “Domingo à noite estava assistindo filme, com a porta aberta, e meus cachorros não latiram. Segunda de manhã, quando meu irmão passou, viu a porta arrombada e ligamos para eles, chegaram aqui arrasados,” comenta.

Pretoli vem se assustando com o que está acontecendo e afirma que de época em época esses furtos voltam a acontecer no Vale. “Já faz uns anos que começaram esses furtos. Não frequentemente, mas volta e meia voltam esses roubos. Veio muita gente de fora, trouxeram outras pessoas e isso tem acontecido bastante. Dois vizinhos meus, no último domingo, foram assaltados. O padrão deles é revirar toda a casa e pegar produtos agrícolas, máquinas, botijão de gás, tudo que dê para vender,” destaca.

Síndrome do pânico

Teresa Galves é professora e mora com José Fernando da Silva em um sítio no Vale Aurora. Viviam tranquilos até que, há dois anos, foram à Santa Tereza. “Fomos visitar a minha família e quando estávamos lá recebemos a mensagem de uma vizinha dizendo que nossa casa estava sendo furtada. Viemos correndo, quando chegamos nosso quarto estava destruído, porque quando saíram, ou entraram, pelo forro, destruíram tudo. O estrago foi de R$ 20 mil,” destaca.
Da Silva, seu marido, foi quem reconheceu as pessoas responsáveis, e lembra de tê-las visto antes. “Fui reconhecer eles, foram pegos no caminho. Eram pessoas que ficavam rondando a comunidade, porque para roubar na colônia, tu precisa conhecer. Agora colocamos alarmes, câmeras, para evitar que entrem. Temos seguro, só não cobre roupas e joias, mas é muito triste ver tudo destruído da forma que foi,” constata.

A vida de Teresa mudou depois daquele dia. Ela adquiriu síndrome do pânico e sente medo ao lembrar dos estragos feitos, fora o luto por sua cachorra, que acredita ter sido morta pelos ladrões. “Eles entraram umas sete e pouco da noite. Dois dias antes mataram minha cachorra envenenada, devem ter achado que ela era brava, mas significa que foi planejado, porque mataram três cachorros do vizinho da mesma forma, também. Ficamos muito abalados, não sou mais uma pessoa normal, fiquei com síndrome do pânico, tenho medo de tudo,” lamenta.


Ela não sabe se um dia voltará ao normal já que, até hoje, dois anos após o furto, não consegue viver tranquilamente. “Agora tudo dá muito medo, penso em todo trabalho que tivemos para construir a casa. É uma dor imensa. Como o forro do meu quarto foi trocado, todos os dias lembro deste episódio, quando olho para o teto. Muitas coisas estão acontecendo no nosso Vale Aurora, algumas pessoas tiraram a nossa paz e a nossa tranquilidade. Enfim, esperamos que as autoridades tomem providências, pois os casos de furtos são seguidos, várias casas e durante o dia também”, afirma.

Para ela, uma das soluções é que “a polícia intervenha mais no local e afaste as pessoas que cometem esses crimes. É muito assalto, tinha que ter polícia constante, principalmente de noite. Apesar de os ladrões não terem horário, já que cuidam se as pessoas estão em casa ou não. Após colocarmos câmeras, alarmes, nunca mais entraram, mas do que adianta se já fizeram o estrago?”, questiona.

O que diz a Brigada Militar

O tenente-coronel do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Ambientais (BPAT), da Brigada Militar, Artur Barcellos, afirma que durante o ano de 2023 não houve registros de casos de invasões e furtos em moradias da região. “O policiamento no Vale Aurora é feito com patrulhas do 3° BPAT e, principalmente, pela patrulha rural, que percorre os distritos do município. Tivemos registros de furto e arrombamento em janeiro do ano passado e, em 2023, não tivemos registros no Vale Aurora”, garante.

O oficial orienta que a população do Vale Aurora entre em contato com a Brigada Militar em qualquer situação estranha que ocorra na comunidade. “Estamos monitorando essas questões, realizando atividades de saturação naquela área, temos algumas suspeições de pessoas que possam estar envolvidas, e a Polícia Civil é que está investigando. Nossas ações lá são voltadas para a prevenção, e é muito importante que a comunidade avise sobre movimentos estranhos e irregulares, reportem à Brigada Militar, para que possamos atuar de maneira preventiva e repressiva, naquele local, contra esses autores”, finaliza.

O secretário municipal de Segurança, Paulo Carvalho, explicou que o Vale Aurora ainda não conta com câmeras integradas ao sistema de videomonitoramento da prefeitura de Bento Gonçalves. “O projeto de vigilância com a utilização desta tecnologia continua em implantação em localidades do interior Os locais são definidos conforme a necessidade apresentada”, explicou o secretário.