Casal de aposentados percorreu 42 mil km a bordo de uma Besta

Há três anos, Daicir e Maria Bertolini rodam países da América do Sul e estados do Brasil em busca de histórias e boas memórias

Quarenta e dois mil quilômetros e meio. Quatro países da América do Sul. Quatro estados brasileiros. Um casal a bordo de uma van personalizada. Esses são os números da história de Daicir e Maria Bertolini, de 64 e 50 anos, respectivamente, que há três montaram o projeto “60 na Estrada”, com o objetivo de incentivar pessoas da terceira idade a colocarem o pé, ou melhor, o veículo na estrada.

Ambos aposentados, deixaram uma rotina de empresa para viverem a realidade de um sonho que surgiu no início do casamento, há mais ou menos 28 anos. “Viajávamos sempre nos fins de semana, férias, feriados, de forma esporádica. Nosso sonho era de viajar direto”, comenta Bertolini.

A ideia surgiu em um jantar, à véspera de uma viagem a bordo de uma, inicialmente, Doblô para o Chile. Porém, queriam levar a iniciativa adiante. “Comentamos: ‘é tão triste a gente bater foto e não mostrar para ninguém’. Então, conversamos com o pessoal (de casa) e decidimos fazer um Instagram. Como eu tinha 60 anos na época, o nome ficou “60 na estrada”, lembra. Precisando de um carro maior, adquiriram uma Besta e a equiparam para ser uma home, com tudo dentro.

Bertolini conta que as viagens não são planejadas, mas que o primeiro local teria que ser San Pedro de Atacama, no Chile. “Vimos muita diferença na questão cultura, alimentação, lá tem menos tipos de comida, aqui é fartura. Quanto as vestimentas, praticamente a mesma coisa, dos lugares que passamos que faz fronteira com a Bolívia, aí é mais diferente, além disso, o sistema de trabalhar é diferente do nosso. Como brasileiros lá fora, fomos muito bem recepcionados”, destaca.

A companheira de viagem, a Besta, já cruzou por estradas de chão, barro e asfalto os levando até o Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile, além dos estados do Paraná, São Paulo, municípios do Rio Grande do Sul e na última viagem foram até Mariana, em Minas Gerais. “Voltamos em função de problemas de saúde da Maria. Quanto íamos rodar novamente, deu essa pandemia”, pontua.

Os recursos para as aventuras saem do bolso do casal, que por muitas vezes contam com ajuda nos países estrangeiros. “Estipulamos um valor de gasto diário e ficamos dentro dessa meta. Chegando no fim de semana, fazemos um balanço, se ultrapassou, vamos mais devagar e estendemos a estadia nas cidades. O combustível é sempre o vilão da história. Levamos uma vida normal, vamos ao mercado e fazemos a comida na home”, salienta Bertolini.

A rotina costuma ser tomar café da manhã, passeio pela cidade, almoço, pausa para um descanso e seguir com a viagem. “Tem cidades que ficamos quatro, cinco dias, outra ficamos um e outras, ainda, passamos direto”, afirma. Eles contam ainda que os filhos deram a maior força. “Encontramos muitas pessoas na estrada, que têm viajado pelo mundo, tanto jovens quanto de terceira idade”, reitera.

Devido ao isolamento social causado pela Covid-19, o casal precisou parar com as atividades e se isolar em casa. “Está sendo terrível, não aguentamos mais ficar em casa (risos). Já ajeitei a camionete duas vezes, para ter o que fazer, se não é pior”, expõe Bertolini. 

Viajantes, aventureiros e youtubers, Daicir e Maria detém um número de 3,4 mil inscritos no canal e mais de 13 mil seguidores no Instagram (@60naestrada). O sonho, agora, é fazer todo o nordeste brasileiro e a Colômbia até Ushuaia, na Argentina, mas não antes da pandemia passar. “Depois que as pessoas se aposentam, pensam que a vida acabou, mas queremos mostrar uma nova fase da vida. Vá viajar, não é caro, é só se organizar”, sublinha.

História

Toda viagem costuma render boas histórias. Bertolini conta que em uma dessas, em São Tomé das Letras, em Minas Gerais, “uma cidade mística, que fica no topo de uma montanha”, como ele mesmo comenta, o curioso ficou por conta da Ladeira do Amendoim. “É coisa que não dá para acreditar. Largamos o carro, em ‘ponto morto’, e ele sobe de volta sozinho, ao invés de continuar descendo. Bem estranho, né”, recorda.

Fotos: Arquivo pessoal